Assassinato de operários conserveiros em Setúbal relembrado na Fonte Nova

Assassinato de operários conserveiros em Setúbal relembrado na Fonte Nova

Assassinato de operários conserveiros em Setúbal relembrado na Fonte Nova

Momento homenageou dois jovens trabalhadores da indústria conserveira de Setúbal assassinados em 1911 numa manifestação de luta pelo aumento de salários

A “luta dos operários conserveiros”, levada a cabo há mais de um século foi relembrada no final da tarde desta segunda-feira, no Largo da Fonte Nova em Setúbal num acto público organizado pela União dos Sindicatos de Setúbal/CGTP-IN, em conjunto com a União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP).

O encontro começou a realizar-se em 2020, e decorre justamente no mesmo dia em que se assinala o aniversário da morte de Mariana Torres e António Mendes, jovens trabalhadores conserveiros assassinados a 13 de Março de 1911 numa manifestação de rua em luta por aumento de salários.

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Perto de três dezenas de pessoas compareceram nesta homenagem que, de acordo com os seus organizadores, pretende lembrar no presente a importância que o passado teve para as conquistas dos trabalhadores e trabalhadoras ao longo de anos desde o inicio da segunda década do século XX.

A ocasião ficou marcada por várias intervenções, desde logo a de Marques Rebocho do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Industria Alimentar  (STIAC). “Setúbal, é uma cidade com uma importante concentração operária. São histórias, ao longo dos anos, que é importante manter e recordar. Abordar a luta dos operários conserveiros é lembrar a actual luta pelo aumento dos salários e pela redução do horário de trabalho. São questões sempre actuais, apenas mudam as datas”, disse.

Já Rui Canas, presidente da União de Freguesias de Setúbal, afirma que “é com muito orgulho que as populações, aqui de Troino, recebem este monumento porque de uma forma quase geral as pessoas estão ligadas á industria das conservas desde sempre. Faz parte da nossa identidade”. O autarca aproveitou a ocasião para lembrar as actuais condições da pesca em Setúbal. “Com o declínio da pesca de cerco temos uma lota de segunda. Já tivemos mais de 30 traineiras, agora temos uma. Estamos perante uma questão de sobrevivência e não há vontade política para resolver o problema da pesca em Setúbal”.

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Pedro Soares, representante da delegação de Setúbal da URAP, mostrou grande satisfação pelo aumento de adesão de pessoas a esta celebração o que significa, realça, “que a evocação destes factores históricos começam a ganhar  importância na nossa memória colectiva”. E acrescenta: “O acontecimento de 1911, de repressão sobre o movimento reivindicativo dos trabalhadores da conserva, revela uma coisa. A República que tinha acabado de ser implantada pouco tempo depois já estava a reprimir os trabalhadores. Ao longo do tempo há muita coisa que muda mas também há muita coisa que fica, e normalmente o que permanece é o mais importante e neste caso em concreto é um sistema capitalista cada vez mais enfurecido contra quem trabalha. Por isso faz todo o sentido continuar a evocar este facto histórico”.

Luís Leitão da União dos Sindicatos de Setúbal/CGTP-IN, encerrou os discursos na ocasião, lembrando o momento histórico, que ficou conhecido pelos fuzilamentos de Setúbal. Leu o testemunho de uma operária conserveira dado a 26 de Fevereiro de 1911, que conta as desigualdades de tratamento em relação aos homens e às precárias condições que tinham para desenvolver o seu trabalho.

“Estas duas mortes não foram em vão. Desde essa altura existiram grandes avanços nos direitos dos trabalhadores, melhores condições de trabalho e melhores salários”, destacou. Uma luta que, garante, vai continuar a intensificar-se. “É, como legítimos herdeiros destes pergaminhos de luta, que, daqui, afirmamos que a morte de dois camaradas nossos jamais ficará esquecida. A cada luta que se desenvolve pelo aumento de salários, pela redução do horário de trabalho e melhores condições de vida está lá a luta dos operários conserveiros de Setúbal”.

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Para se perceber a importância da indústria conserveira na cidade, foram 140 anos de actividade, 420 fábricas, 613 marcas de 97 fabricantes. Em 1919, no auge da sua importância, haviam 132 fábricas.

A encerrar o acto público foram depositados cravos na estátua instalada no Largo da Fonte Nova, em 2016, em homenagem a Mariana Torres.

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