No meio cultural ninguém quer desistir a resiliência é a chave para se acreditar que em Junho será melhor
A actividade artística e cultural nos concelhos de Setúbal e Palmela está por estes dias praticamente parada, com muitas companhias de teatro, artistas e instituições em regime de teletrabalho e a usar os meios digitais para continuar a chegar ao público. A O SETUBALENSE, revelam o desejo de poderem voltar a alguma normalidade a partir dos meses de Junho e Julho. Até lá, todos os eventos, actividades educativas e espectáculos de porta aberta ao público estão cancelados.
O Teatro Animação de Setúbal (TAS), que este ano comemora 45 anos, estava em ensaios para a estreia da peça “Valentin Valentin” no Fórum Municipal Luísa Todi, dia 27 de Março, Dia Mundial do Teatro, quando cessou a actividade presencial. “O investimento foi feito e o espectáculo estava praticamente pronto no início do mês, tivemos logo um prejuízo”, conta Célia David. Conseguiram honrar os pagamentos à equipa fixa e externa, e tendo em conta que continuam a ser apoiados financeiramente pela autarquia, “a situação não é tão grave”.
Mesmo com apoio autárquico, diz a presidente da direcção do TAS que “não é suficiente”, caso a paralisação se prolongue. Com 12 espectáculos cancelados entre Março e Abril e com a estreia da peça atirada para “nunca antes de Setembro”, a responsável considera que agora é tempo de “reflectir sobre como vai ser o futuro”, e acredita que “se abrirem espaços com menor capacidade a partir de Maio ou Junho”, o TAS poderá retomar a sua actividade. Até lá, a companhia utiliza o palco das redes sociais para fazer chegar conteúdos ao público.
Teatro virou-se para o online
Em suspenso está também a actividade pública do Teatro Estúdio Fontenova, que se preparava para estrear “A Paz Perpétua” em Viana do Castelo, no final de Março. “Ficámos em teletrabalho”, conta o director artístico José Maria Dias, sublinhando que todos os vencimentos das pessoas envolvidas foram pagos. Forçada, também, a cancelar digressões, de momento a companhia está focada na preparação da nova peça “As Conserveiras”, agendada para Novembro, e na série de conversas em directo “Coagitar” às quartas-feiras. Sobre a realização do Festival Internacional de Teatro de Setúbal no final de Agosto “ainda não foi tomada nenhuma decisão” (ver caixa).
Em Palmela, o Teatro O Bando está a adaptar-se às novas contingências com engenho e arte, mantendo os ensaios da peça “Antes do Mar” à distância, pelos meios digitais, e equacionando mesmo apresentar o espectáculo ao ar livre e com transmissões de imagem e som, para salvaguardar o distanciamento social. “A experiência que estamos a ter muda a nossa percepção”, confessa o dramaturgo Miguel Jesus. O Bando mantém várias formações online e projectos em parceria com a comunidade e autarquias, assim como os compromissos laborais, apesar de a receita ter caído “para metade” com o cancelamento de espectáculos, digressões e outras actividades.
Espaços culturais em silêncio
Os espaços culturais setubalenses têm sentido o mesmo efeito da paralisação, conforme conta Maria João Frade, directora da Casa da Avenida, encerrada há mais de um mês. “Não há eventos, não há música, não há lançamento de livros, nada há”, relata a O SETUBALENSE. A programação foi cancelada, os contactos adiados e o café-galeria está fechado. A responsável não arrisca avançar com uma data para a reabertura, que irá “depender das indicações oficiais”, sendo que “o grande prejuízo é este espaço, que considero ser de serviço público, estar de porta fechada”, diz.
Já na Baixa da cidade de Setúbal, também Diana Lima teve de fechar temporariamente as portas da 50 Cuts Associação Cinematográfica, e cancelar toda a programação até 30 de Abril. “Tendo em conta que a maioria das actividades iam decorrer lá, tivemos de fechar. Por agora está tudo parado”, resume, enquanto espera para saber se dará para realizar alguns eventos em Junho. “Somos uma associação sem fins lucrativos, mas tanto para nós como para as pessoas convidadas é sempre um prejuízo”.
Dança em compasso de espera
No sector da dança o cenário é o mesmo, com a pandemia da Covid-19 a obrigar ao adiamento de aulas e eventos. Foi o que aconteceu ao Setubailas Festival, que estava agendado para os dias 13, 14 e 15 de Março, no hotel Aqualuz em Troia, e que foi adiado para Outubro. Dos 500 participantes esperados, alguns vinham do Reino Unido e Espanha e muitos pediram reembolsos. Com os alunos a ter aulas de dança online, Carlos Fortes, presidente da associação, acredita que “este ano lectivo das danças, que terminaria no final de Julho, já terminou”, e projecta para Setembro alguma hipótese de a Setubailas retomar a actividade.
No estúdio de dança de Catarina Branco, no Montalvão, a situação é semelhante. Depois de encerrar as portas, a professora, bailarina e coreógrafa adaptou o ensino às aulas online para poder acompanhar a aprendizagem das alunas, e baixou o valor das mensalidades, o que representa uma redução de rendimentos. A profissional espera poder reabrir o Catarina Branco Oriental Studio a partir de Junho. Até lá, mantém cancelados eventos, workshops e o espectáculo que estava agendado para dia 29 de Abril, Dia Mundial da Dança.
Festival Internacional de Teatro mantém produção
A produção do XXII Festival Internacional de Teatro de Setúbal, que este ano se realiza de 20 a 29 de Agosto em vários espaços da cidade, mantém-se até nova decisão. “É prematuro dizer se vamos avançar com o festival ou se o vamos cancelar [no âmbito das medidas de combate ao surto de Covid-19]. Como é no final de Agosto, estamos na esperança de o conseguir fazer”, avançou José Maria Dias, director artístico do Teatro Estúdio Fontenova.
Ainda que não tinha sido tomada a decisão, dependerá sempre de outras condicionantes, como a reabertura de fronteiras, aeroportos e alojamentos turísticos, uma vez que muitas companhias de teatro participantes são estrangeiras.
A programação oficial está neste momento fechada com 10 espectáculos, e a Secção OFF – Mais Festa tem candidaturas abertas até ao final de Abril. A Festa do Teatro, que todos os anos atrai milhares de espectadores, deverá assim apresentar ao público cerca de três dezenas de espectáculos de companhias nacionais e internacionais.