A celebrar 40 anos, grupo que nasceu na capela do Faralhão continua a perpetuar as tradições do Sado
O Grupo de Danças e Cantares Regionais do Faralhão, ou Rancho do Faralhão, como é popularmente conhecido, foi fundado no dia 10 de Junho de 1983, pelo padre Américo Faria, na capela do Faralhão.
O nome já mudou, como contou o ensaiador Filipe Silva. Na altura da criação denominava-se Rancho da Nossa Senhora de Fátima do Faralhão, entretanto mudou para Grupo de Danças e Cantares Regionais do Faralhão. A 26 de Abril de 1991 filiou-se na Federação do Folclore Português.
O rancho integra, em média, meia centena de pessoas, distribuídas pelos trajados e pela tocata. No grupo infantil, que está novamente a recomeçar este ano, é possível contar mais de 20 jovens. Os membros são estudantes e trabalhadores, alguns dos quais por turnos, nas principais fábricas da cidade, o que faz com que nem sempre lhes seja possível ir a todas as actuações e aos ensaios.
Ainda assim, em cada actuação aparecem, em média, entre sete ou oito pares, e, às vezes, nove ou dez. No Festival de Folclore do Faralhão apareceram onze pares.
A pandemia de covid-19 fica para o mundo do folclore como um factor que acentuou o declínio desta manifestação cultural. Os espectáculos sofreram um corte de cerca de metade.
“Uns seis anos antes da covid, fazíamos, em média, umas seis actuações por ano e depois mudou drasticamente. Este ano temos três actuações programadas. Não quer dizer que não façamos mais nenhuma, mas o nosso calendário são só três actuações”, refere o ensaiador Marco Pato.
O vice-presidente Gilberto João Marques dos Reis acrescenta que os custos são outro problema para os ranchos, de Norte a Sul do País. “Um rancho do Algarve e que tenha de ir ao Norte pode gastar entre dois a três mil euros e os apoios financeiros são poucos. O custo dos autocarros é elevado e as câmaras municipais nem sempre têm esse meio de transporte disponível”, explica.
O Grupo de Danças e Cantares Regionais do Faralhão financia-se através do festival que organiza, de permutas e dos apoios da Junta da Freguesia do Sado e da Câmara de Setúbal. Fazem arraiais e alguns bailes. O maior evento são as Festas do Moinho de Maré da Mourisca, que geralmente se realizam no último fim-de-semana de Agosto.
Sem sede própria, o rancho funciona na antiga sede do Estrelas do Faralhão, sem as condições que desejavam. A vida da colectividade não tem sido fácil. “Temos tido momentos altos e baixos. A adesão ao rancho infantil é mais complicada, porque trazer jovens às tradições é complicado”, confessa o vice-presidente. Outra dificuldade é segurar os jovens a partir 16 anos. “Nessa idade eles param. É muito difícil segurá-los, por causa da vida que a juventude quer ter e que vê os amigos a ter”, diz Gilberto Reis.
Natural do Faralhão, Marco Pato entrou para o rancho com 10 anos e sente-se bem quando está no grupo, quando está a ajudar quem está no rancho com a mesma paixão. O brilho nos olhos revela o que também confirma por palavras. Quer continuar ligado ao rancho por muitos anos porque sente orgulho no grupo e nos seus membros.
Luís Assis, dançarino, entrou no rancho do Faralhão há 12 anos. É um entusiasta, ajuda em tudo o que pode, é dos primeiros a chegar e dos últimos a sair, mas não consegue ir a todas as actuações porque trabalha por turnos. Mas continua satisfeito. “Entrei para acompanhar os amigos e continuei porque gostei de cá andar, para me divertir”, afirma.
Já o membro da tocata, António Lourenço, mais conhecido como Tone Lourenço, toca vários instrumentos. Além de pertencer à tocata, é também membro da direcção, como tesoureiro. Faz parte do grupo há 34 anos.
A polivalência é um atributo muito necessário. Praticamente todos possuem várias vertentes, entre dançarinos e tocatas, vão para onde faz mais falta. Se faltar um dançarino, um membro da tocata possui a habilidade para o substituir e vice-versa.
As tradições deste grupo são a pesca e a ceifa. As modas eram cantadas pelos mais antigos e foram-se mantendo até hoje. “Tanto as modas como os trajes foram criados pelos nossos antepassados e nós continuamos a representá-las”, explicou o ensaiador Marco Pato.
Entre os vários tipos de trajes estão os domingueiros e os trajes de trabalho, como o pastor, as varinas ou os pescadores.
“Nós tratamos da zona da ribeira do Sado e os nossos trajes, as nossas músicas, os nossos cantares, resultam de recolha que fizemos e retratam as raízes culturais da nossa zona”, refere o ensaiador Filipe Silva.
A concluir, o vice-presidente fez questão de agradecer a O SETUBALENSE. “É uma boa oportunidade que nos estão a dar, é de louvar darem atenção a estas tradições, que merecem todo o respeito e deviam continuar”.