A primeira deslocação oficial da Rainha a Portugal aconteceu em 1957, tendo conhecido o distrito sadino antes de visitar Lisboa
A cidade do Sado preparou-se durante muito tempo para aquele que foi um dos grandes acontecimentos do século. Foram meses consecutivos onde a temática era apenas uma, a primeira visita oficial da Rainha Isabel II, acompanhada pelo marido, o duque Filipe de Edimburgo, a Portugal, que decorreu de 16 a 21 de Fevereiro de 1957.
A rainha de Inglaterra, que faleceu esta quinta-feira, 8 de Setembro, em Balmoral com 96 anos, entrou em Portugal pelo Distrito de Setúbal. “Viscounti”, o avião britânico, partiu do aeroporto de Londres pelas 11h20, seguindo pelo corredor aéreo então designado de “rota púrpura”, de onde as autoridades francesas, espanholas e portuguesas concordaram em afastar quaisquer outros aviões.
A aterragem aconteceu na Base Aérea n. º6 do Montijo, pouco passava das 15h00 e logo entrou no avião o seu esposo. O duque de Edimburgo havia chegado de madrugada a Setúbal, no iate real “Britannia”, onde desembarcou às 14h15, para ir ao encontro da Rainha num automóvel de luxo, descapotável, um Rolls-Royce Phantom III, comprado propositadamente para esta ocasião e posto à disposição de Sua Majestade para as suas deslocações no País.
A Rainha Isabel II, acompanhada pelo marido, desembarcou do avião às 15h25, sendo o concelho do Montijo o primeiro a dar as boas-vindas à monarca britânica, naquela que seria a sua primeira visita oficial a terras lusas. Em representação do Governo português estava o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Cunha, sendo o primeiro a apresentar cumprimentos, seguindo-se um pouco atrás Pedro Teotónio Pereira, embaixador de Portugal em Londres.
O casal real, juntamente com uma comitiva de 25 pessoas, foi saudado por centenas de populares e jornalistas, que os esperavam ansiosamente. A edição do Diário de Lisboa desse dia tudo registou, contando a emoção sentida por quem a recebeu durante o pouco tempo que permaneceu na base aérea. “À saída do edifício abre-se uma clareira de respeito e o par realengo toma o automóvel, entre uma chuva de pétalas e palmas vibrantes de todos nós, oficiais, marinheiros e jornalistas”.
Na sua viagem para Setúbal, o casal real recebeu na então vila do Montijo, a sua primeira saudação popular em terras portuguesas. Nas ruas estendia-se um vasto cordão humano em euforia ao ver passar a Rainha, conforme descrito pela Gazeta do Sul. “Saudações ingénuas, gritos de vibração, palmas afectuosas, tudo calou profundamente no coração desta gentil figura de Rainha, cujo semblante perdurará para sempre naqueles que tiveram o prazer de a aclamar”.
A chegada a Setúbal com uma recepção apoteótica
De saída do Montijo, o casal foi no Rolls-Royce para Setúbal. “O cortejo chegou em marcha lenta à cidade do Sado, que vivia altas horas de entusiasmo. A rainha correspondia ao entusiasmo dos setubalenses visivelmente sensibilizada às aclamações”, escreveu a RTP.
A cidade de Setúbal decorou-se de bandeiras do Reino Unido e de Portugal e com faixas de boas-vindas, com a frase “God Save the Queen”, nome do hino nacional inglês. A imprensa inglesa publicava sobre a visita real à cidade sadina, com o Sunday Graphic a referir a surpresa e comoção da rainha com a “quente e espontânea recepção da população de Setúbal” e um correspondente da corte inglesa a testemunhar a visita como um momento único. “Nunca durante a minha vida presenciei um interesse tão vivo por uma chegada em particular”.
Quem também se mostrou bastante satisfeito com a chegada a Setúbal foi o duque de Edimburgo. “Até com o nome do seu castelo, Setúbal quis ser amável comigo”, declarou o duque ao deparar-se com a fortaleza de S. Filipe que domina o Estuário do Sado.
A visita secreta aos duques de Palmela
O segundo dia foi dedicado pela monarca aos seus amigos Domingos Holstein Beck e Maria do Carmo Pinheiro de Mello, duques de Palmela, que a receberam no seu Palácio de Calhariz, em Sesimbra, numa casa envolta numa propriedade de mil hectares.
A rainha e o marido deslocaram-se, discretamente no Rolls Royce Phantom III, através da Serra da Arrábida até ao Calhariz, tendo levado somente uma pequena parte da comitiva. Na visita ao Calhariz, que durou cinco horas, não esteve presente nenhum representante do Governo português, tendo sido uma visita privada e íntima.
À data, O SETUBALENSE descreveu a visita real como bem sucedida, garantido que Setúbal representou bem o país inteiro. “Orgulhosamente podemos afirmar que Setúbal, nestes dois dias que acaba de viver com verdadeira emoção, soube ser a intérprete do país inteiro no testemunho do seu alto apreço e viva simpatia pela excelsa Soberana de Inglaterra”.
Na despedida, o casal de Buckingham regressou ao navio Britannia, que estava ancorado no Rio Sado. No dia seguinte o iate-real rumou até ao Terreiro do Paço, escoltado por três navios de guerra, uma fragata e dois contra-torpedeiros, sendo recebidos no Cais das Colunas pelo então Presidente da República General Craveiro Lopes e Berta Craveiro Lopes, dando início a uma visita oficial de quatro dias. Além de Lisboa e Setúbal, Isabel II passou por Vila Franca de Xira, Caldas da Rainha, Alcobaça, Nazaré, Batalha e Porto.
Em 1985 Samouco esteve em peso nas ruas para receber segunda visita de Sua Majestade
Em 1985, a Rainha Isabel II haveria de regressar, pela segunda e última vez, a Portugal e à região, voltando a aterrar na Base Aérea n. º 6, no Montijo. A Porta de Armas da infra-estrutura militar localiza-se em Samouco, e na então aldeia (hoje vila) samouquense a população perfilou-se nas principais artérias para acompanhar o primeiro percurso de Isabel II, de carro, em solo luso. O clima de efusividade foi sentido pela rainha, que, do interior do veículo, retribuiu com acenos e sorrisos, hoje gravados na memória de muitos. Isabel II iniciava assim a segunda passagem por terras lusitanas, meses antes de Portugal formalizar a adesão à então Comunidade Económica Europeia (CEE)