Promotor da construção do recife ao largo da Comporta garante que o projecto não restringe a actividade dos pescadores e até permitirá melhorar a quantidade e diversidade de peixe
Gerente da Blue Geo Lighthouse, Lda, parceira estratégica da The Reef Company, explica o projecto para a colocação de um recife artificial no mar, a seguir a Tróia, num investimento de 2,5 milhões de euros. João Fonseca Ribeiro garante que o promotor quer cooperar com as organizações de pesca e garante que haverá vantagens para todos.
Vai ser proibida a pesca tradicional na área envolvente ao recife?
A visão da The Reef Company para o complexo recifal da Comporta assenta na implementação de um projecto-piloto de investigação e desenvolvimento, com o objectivo de obter conhecimento acerca do potencial de restauro do ecossistema marinho. O conjunto de aglomerados ocupará 10% [944m2] da referida área [10 mil m2]. Para além da avaliação da capacidade de remição de CO2 da atmosfera, bem como da obtenção, tratamento e disseminação de dados do meio marinho, este estudo de desenvolvimento integra, necessariamente, as actividades da pesca local e do turismo náutico sustentáveis, para além do apoio à governação local e a sensibilização da comunidade para a importância da sua zona costeira.
Mas é compatível com a pesca tradicional?
Acreditamos que esta tipologia de projecto pode coexistir com outras actividades económicas na mesma área, nomeadamente a pesca. Mais ainda, a criação de um “motor natural” para o recrutamento de espécies piscícolas endógenas é uma resultante do mesmo e que em muito poderá beneficiar a disponibilidade de recursos para a actividade da pesca local. Temos uma visão de colaboração e compromisso para com a comunidade de modo a maximizar os efeitos positivos que poderão advir do restauro e aperfeiçoamento da produção de recursos sustentáveis, e provenientes do ecossistema marinho local. Neste entendimento, não se trata de uma área de conservação/proibição, mas sim de interesse económico do qual decorre o restauro e a melhoria do ecossistema, fundamentalmente com o estímulo à fixação e desenvolvimento de macroalgas e de espécies piscícolas endógenas, e para as quais o complexo recifal será optimizado como maternidade/ zona de recrutamento/colonização. Também, tendo em consideração as profundidades em que está previsto instalar os referidos aglomerados, bem como a densidade de ocupação e estudo de implantação dos mesmos na área, não só não limitam a navegação como poderão, também, permitir a utilização de algumas artes.
Como respondem às queixas dos pescadores, que dizem ser uma restrição à pesca?
Ao longo do período de execução do projecto da instalação piloto tencionamos estabelecer importantes parcerias locais, nomeadamente, com as associações de pesca com interesse na zona, de modo que se torne possível desenvolver em conjunto o conhecimento da área e uma forma coerente de expansão, respeitando os interesses das partes e, fundamentalmente, que procure o maior benefício mútuo. O promotor identifica no projecto a pesca sustentável como um dos eixos de desenvolvimento local, e, na sua perspectiva, tal deverá reverter em benefício da comunidade local, não sendo, de todo, uma actividade económica em que tenha interesse directo.
Quais são as vantagens do projecto?
Na perspectiva do promotor, a actividade comercial a desenvolver no futuro será orientada para a remição de CO2 da atmosfera, com base na colonização de macroalgas no complexo recifal e a obtenção e tratamento de dados in-situ do meio marinho. Destas duas linhas de desenvolvimento, poder-se-ão futuramente criar subprodutos e serviços.
Mais concretamente, quais são as vantagens?
As vantagens decorrem em cinco grandes eixos de desenvolvimento, nomeadamente: O restauro da biodiversidade marinha e a remissão/sequestro de Carbono; a inovação tecnológica na obtenção, tratamento e disseminação de dados do meio marinho, e no conhecimento acerca do estrutura, substrato e morfologia dos módulos recitais e da sua optimização para as espécies e para a condições oceânicas extremas; a pesca sustentável local; o turismo náutico sustentável; e o apoio governação e sensibilização da comunidade local para a importância da sua zona costeira.
Qual é o valor do investimento? E o número de postos de trabalho?
A implementação da instalação-piloto envolve um investimento da ordem dos 2,5 milhões de euros. Os postos de trabalho estão directamente em correlação com o investimento indicado. No entanto é claro que não teremos estes fundos na sua totalidade ao dispor e será uma contratação faseada. Neste momento, não conseguimos precisar o número directo de postos de trabalho, dado que a primeira leva de investimento ainda não está finalizada. No entanto, podemos assegurar que, como uma empresa que tem um propósito de sustentabilidade na sua essência, visamos também ter um impacto em postos de trabalho indirectos criados na economia local. A natureza do projecto requer capacidades locais de estaleiro para construção dos módulos recifais e a utilização das facilidades dos Portos de Setúbal e de Sesimbra, já durante a instalação-piloto, podendo estender-se a outros locais com o futuro projecto de expansão. A implementação final do complexo recifal criará um conjunto de novas oportunidades de desenvolvimento económico, e a criação dos correspondentes postos de trabalho, podendo também dar origem à criação de novas actividades da economia azul, agora emergentes, e que se estendem ao longo da zona costeira, da Comporta a Melides, e que será impactante para os municípios costeiros de Setúbal, Sesimbra, Grândola e Sines.