29 Março 2024, Sexta-feira
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Ana Clara Birrento: “A Santa Casa tem de constituir uma rede de trabalho para dar resposta mais eficaz”

Nova provedora da Santa Casa da Misericórdia de Azeitão assumiu o cargo “com sentido de missão”. “Sinto uma grande responsabilidade”, afirma

 

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Desde cedo ligada a Azeitão, vila onde vive desde os dois anos de idade, Ana Clara Birrento conta que sempre esteve “integrada naquela comunidade”.

Há quatro anos, e depois de ter desempenhado as funções de presidente do Centro de Segurança Social de Setúbal e do conselho directivo do Instituto da Segurança Social, foi convidada a integrar a mesa administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Azeitão.

Hoje, aos 61 anos, assume a função de provedora, cargo que assumiu no passado dia 12 de Janeiro para “dar continuidade ao trabalho de apoio à comunidade”, tendo como principais objectivos “trazer mais especialidades médicas” para a instituição e alargar o apoio domiciliário, que dá actualmente resposta a 40 pessoas.

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Além disso, o futuro passa também por “constituir uma rede de trabalho”, com uma das suas “grandes apostas” a ser a criação de uma Comissão Social de Freguesia.

Como e quando começou a sua ligação à Misericórdia de Azeitão?

Eu não nasci em Azeitão, mas vivo em Azeitão desde os dois anos. Já são muitos os anos em que estou integrada naquela comunidade. Há quatro anos, o provedor cessante convidou-me para fazer parte da mesa administrativa e eu lá estive como vogal efectiva, com a responsabilidade da área social, sendo que, desde 2011, estou muito ligada ao sector social e solidário porque fui directora da Segurança Social e conheço o funcionamento de todo o sector. Tudo o que tinha a ver com a área social estava comigo. A ligação, no fundo, é de há muitos anos enquanto habitante da comunidade de Azeitão.

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E o que a motivou a aceitar o cargo de provedora?

Por um lado, alguma disponibilidade que tinha, mas sobretudo porque são muitos anos a viver em Azeitão. É uma comunidade que me viu crescer e achei que estava na altura. Houve esta passagem de testemunho que o provedor cessante quis fazer, no sentido em que esteve 40 anos à frente da instituição e achou que estava na altura de sair. Aceitei para dar continuidade a este trabalho de apoio à comunidade, de identificação de problemas e de podermos dar uma resposta eficaz e eficiente à necessidade das pessoas.

Esteve quatro anos na mesa administrativa como vogal efectiva. O que muda na prática?

Acho que não muda muita coisa porque o cargo de provedora traz basicamente uma responsabilidade acrescida do ponto de vista de olhar para a instituição num todo, em termos da gestão e da sustentabilidade financeira. De resto, penso não vai alterar muita coisa porque, nos últimos quatro anos, estive em tudo o que foram decisões da mesa administrativa. É um trabalho de continuidade.

Quais os principais objectivos a atingir?

A Misericórdia de Azeitão tem duas vertentes: uma de apoio social e outra na área da saúde, porque tem uma clínica onde há consultas de várias especialidades e tem enfermagem aberta à comunidade. Portanto, é uma área que vai ter de ter continuidade e até algum alargamento. Um dos nossos objectivos é trazer mais especialidades médicas para a Santa Casa de Azeitão para dar resposta àquilo que são as necessidades da comunidade. Apesar de os habitantes de Azeitão terem a possibilidade de recorrer ao centro de saúde, aos hospitais privados ou ao Hospital de São Bernardo, no núcleo propriamente dito das duas freguesias que compõem a União das Freguesias não existe grande apoio em termos médicos. Não há consultórios com especialidades. Uma das nossas apostas é alargar esta resposta. No âmbito do apoio social, é dar continuidade ao mesmo e qualificar cada vez mais, tendo sempre em conta aquilo que é a sustentabilidade financeira da instituição. Queremos também alargar o apoio domiciliário, porque estão a chegar-nos cada vez mais dependentes com mais necessidades. Deve existir uma resposta integrada nas várias fases de necessidade das famílias, começando no apoio domiciliário e passando para a resposta de estrutura residencial para pessoas idosas – aquilo que normalmente se designa como lar.

Na parte clínica, como é que será feito esse alargamento?

Neste momento temos quatro especialidades. A ideia é conseguirmos dar resposta às necessidades da comunidade e encontrar médicos que possam ali fazer consultas de outras especialidades. A Santa Casa de Azeitão já faz isso. Foi um apoio extraordinário na altura da pandemia. Temos um enfermeiro que fazia testes quando o SNS não tinha capacidade para dar resposta. Além disso, temos um serviço de análises clínicas e exames complementares de diagnóstico. Isso está garantido e é para continuar. Do ponto de vista clínico, é alargar a resposta no sentido de apoiar as pessoas. Como costumo dizer, algumas destas pessoas, que nos viram crescer, ou até nascer, podem estar hoje numa situação de maior fragilidade. É dever e missão da Santa Casa ajudar.

Como se sente ao assumir o cargo de provedora?

Sinto uma grande responsabilidade. É um grande desafio, que assumi com grande sentido de missão, de poder dar um pouco de mim, do meu conhecimento e da minha experiência, que fui adquirindo ao longo dos anos, às comunidades onde estou inserida.

É também professora na Universidade de Évora. Como vai conciliar as duas funções?

Bem porque não tenho um horário de segunda a sexta-feira e é fácil de gerir. Também estou muito habituada a gerir tempos e horários. Não haverá qualquer problema. Além disso, uma Santa Casa não é dirigida só pelo provedor. Há toda uma equipa.

Qual a importância da Santa Casa para Azeitão?

A Santa Casa é uma instituição que está em Azeitão há 400 anos a dar resposta dentro daquilo que são os seus objectivos e do que está plasmado no compromisso de apoio aos mais carenciados – de dar protecção, alimentação, entre outros. A Santa Casa teve um período conturbado depois da Revolução de 1974, em que foi ‘espoliada’ daquilo que era a sua missão. Nesse tempo tinha um hospital de dia e há muitas pessoas ainda em Azeitão que nasceram nesse hospital. Depois foi, de alguma forma, tomada de assalto. Quando o provedor cessante tomou conta da Santa Casa há 40 anos foi um arranque do zero. Teve de constituir a instituição e de criar os seus estatutos. Logo aí, percebeu-se que, em termos clínicos, era algo que vinha da sua história e que se tinha de dar continuidade a esta valência. Depois foi iniciar o centro de dia, que foi a primeira resposta que a Santa Casa de Azeitão teve em termos de apoio à população. A Santa Casa e o provedor sempre foram uma referência de apoio à população e isso é para manter.

Para o futuro, há mais algum objectivo a atingir?

Há. Como dizia na minha intervenção da tomada de posse, valorizo muito um trabalho em rede, de parceria. Portanto, penso que a Santa Casa tem de, a par, por exemplo, da autarquia e das outras instituições na área social que existem em Azeitão, ser capaz de constituir uma rede de trabalho para poder dar uma resposta mais eficaz porque uma coisa que a mim me preocupa é a eficácia e eficiência dos serviços. Assim, cada um, na sua área, conseguirá perceber onde é que estão as fragilidades e as carências da população e, assim, poderemos actuar em conjunto, criando sinergias. Uma das minhas grandes apostas é conseguir que se crie, por exemplo, uma Comissão Social de Freguesia, que não depende da Santa Casa, mas sim do poder local. Penso que será uma mais-valia para toda a comunidade trabalharmos em rede. Depois é alargar a capacidade da estrutura residencial para pessoas idosas porque, neste momento, tem só 29 camas. Além disso, não nos podemos esquecer que temos um grave problema na sociedade, que tem a ver com as demências e com as patologias associadas às questões cognitivas. Essa também será uma área que queremos olhar no futuro, de desenvolver algo a nível das demências, talvez com parcerias porque acho que não conseguimos fazer nada sozinhos.

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