A candidata do BE afirma que a sua prioridade é “lutar para que todos possamos viver melhor, com mais dignidade, mais justiça social e mais qualidade de vida” no concelho
Susana Tapadas, 51 anos, casada, mãe de um filho e reside na Freguesia do Castelo. É Psicóloga e Formadora, especializada em intervenção comunitária e Mestre em Economia Social e Solidária. Trabalhou nos setores social, público e privado em áreas como a prevenção da violência doméstica e a toxicodependência, reinserção social, apoio a jovens vulneráveis e a mulheres migrantes. Foi consultora do projeto de génese sindical numa instituição bancária designado por “Fundo Social dos Trabalhadores” e viveu seis anos na Bélgica, onde colaborou com uma ONG dedicada à integração de comunidades migrantes. Nos últimos anos, tem-se focado no fortalecimento das mulheres do setor artesanal, promovendo a sua autonomia económica e valorização cultural. Afirma que o ativismo e o associativismo também marcam o seu percurso, com participação em organizações ambientais e desportivas.
Diz que decidiu arregaçar as mangas e candidatar-se à presidência da Câmara de Sesimbra, para dar um contributo direto para transformar o concelho.
O que a motivou a candidatar-se, pelo Bloco de Esquerda, à presidência da Câmara Municipal de Sesimbra?
O que me motivou foi, acima de tudo, a vontade de deixar de estar sentada no sofá a queixar-me e passar à ação. Durante anos, como cidadã e profissional, debati problemas, refleti sobre soluções e procurei alternativas, mas percebi que isso não bastava. A certa altura, senti que não podia continuar apenas nos bastidores e que era preciso arregaçar as mangas e dar um contributo direto para transformar o concelho. A vulnerabilidade não é inevitável, é criada por escolhas políticas e sociais, e acredito que todos têm um papel a desempenhar e um contributo a dar. Por isso, decidi levantar-me, literalmente, e participar ativamente na construção de um concelho mais justo, inclusivo e sustentável. A minha candidatura nasce desse impulso: da convicção de que podemos e devemos fazer diferente e de que essa mudança começa por cada um de nós decidir sair do conforto da crítica e entrar no terreno da ação.
O que distingue a sua candidatura das restantes?
O que distingue esta candidatura é precisamente o facto de eu não me colocar acima de ninguém. Sou apenas mais uma residente do concelho, alguém que sente os mesmos problemas, que vive as mesmas dificuldades e que tem o mesmo interesse em melhorar a nossa qualidade de vida. Não sou movida por carreirismos nem por ambições pessoais, mas pela vontade de dar o meu contributo e de representar de forma honesta os interesses das pessoas. A minha prioridade é lutar para que todos possamos viver melhor, com mais dignidade, mais justiça social e mais qualidade de vida no nosso concelho.
Quais identifica como principais problemas estruturais de Sesimbra neste momento?
O principal problema estrutural é o excesso de investimento no turismo e a ausência de diversificação económica no concelho. O resultado é dramático e visível: empregos precários e sazonais, que não fixam os jovens nem trabalhadores qualificados, e um aumento incomportável do custo de vida. Esta dependência afasta-nos também das atividades tradicionais de Sesimbra, como a pesca e a agricultura, essenciais para a nossa identidade. O cúmulo deste problema pode ser encontrado no aval concedido pelo atual executivo a projetos imobiliários de luxo, que ameaçam também destruir o património natural do concelho.
Existem ainda mais dois problemas estruturais interdependentes: a falta de coesão territorial e as dificuldades na mobilidade. Continuamos a ter um concelho fragmentado, com realidades muito distintas entre Santiago, o Castelo e a Quinta do Conde. É necessário que exista uma visão integrada do concelho e não freguesia a freguesia. Isto gera um grave problema na mobilidade dentro e fora do concelho. A ausência de transportes públicos eficazes condena os sesimbrenses à dependência quase total do automóvel, o que prejudica a sustentabilidade e a qualidade de vida no concelho.
Como avalia o desempenho da CDU no atual executivo municipal?
É importante reconhecer o trabalho realizado até agora. Existem projetos louváveis como a nova escola da Quinta do Conde e o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Quinta do Conde que tardam em avançar. O Bloco de Esquerda terá um papel relevante e construtivo em pressionar o executivo nestas matérias. O desempenho da CDU tem sido insuficiente face aos desafios que Sesimbra enfrenta e nota-se uma gestão pouco aberta à inovação. Precisamos de uma visão estrutural e conjunta do concelho e não de respostas pontuais que apenas atenuam um problema sem o resolverem de raiz.
Que áreas considera terem sido mais negligenciadas?
As áreas mais negligenciadas foram a mobilidade e a habitação. No caso da mobilidade, continuam a faltar bermas e passeios e os transportes continuam insuficientes. Na habitação, o problema é estrutural e não depende exclusivamente do executivo municipal. No entanto, é necessário que o poder local responda atempadamente a problemas nacionais. E isso não está a acontecer. A pressão imobiliária tem vindo a afastar os residentes e os jovens do concelho, e não há uma política pública consistente que responda a isso.
A pressão imobiliária é uma realidade em toda a Área Metropolitana de Lisboa. Que medidas propõe para garantir habitação acessível em Sesimbra?
Estamos conscientes de que o problema da habitação é algo que não se resolve apenas com construção, é necessário reabilitar edifícios e regulamentar aquilo que já existe. E, nesse sentido, algumas das nossas medidas passam por limitar o Alojamento Local e cumprir a meta de 2,5% do total de habitações; criar um programa de mapeamento e reabilitação de imóveis devolutos no concelho; aplicar taxas agravadas de IMI a casas desocupadas há mais de dois anos; apostar na construção de habitação pública com rendas controladas, com apoio do programa 1.º Direito; apoiar cooperativas através da cedência de terrenos municipais e criar um programa de habitação jovem com concurso público para arrendamento acessível a menores de 35 anos.
Como pretende conciliar desenvolvimento urbano com a preservação ambiental, especialmente nas zonas costeiras e florestais?
A resposta está na própria pergunta: temos de saber o que é urbano e o que não é e, por isso, defendemos um modelo que respeite a coexistência dos espaços urbanos e naturais. O crescimento urbano deve ser planeado e compatível com a capacidade ambiental do território. Para isso é fundamental a revisão urgente do Plano Diretor Municipal.
O turismo é vital para a economia de Sesimbra, mas também gera pressões. Que modelo de turismo defende?
Defendemos um modelo de turismo sustentável e do qual toda a economia de Sesimbra não esteja dependente. O turismo é importante, mas Sesimbra não pode depender exclusivamente dele. Queremos a entrada em vigor da taxa turística municipal para canalizar receitas para áreas como a habitação, a cultura e o ambiente. Queremos um turismo que contribua para a população local, respeite e integre o comércio local e não apenas o lucro imediato.
Como pretende apoiar o comércio local e os pequenos empresários?
Queremos reforçar o papel do comércio local através da criação de um mercado municipal, espaços de venda direta para pequenos produtores e comerciantes; criar cooperativas de alimentação e promover feiras e outros eventos que dinamizem as zonas comerciais e nos quais o comércio local e os pequenos empresários possam participar.
O setor da pesca continua a ser relevante para Sesimbra. Que propostas tem para apoiar esta atividade?
O setor da pesca continua a ser central para a identidade e economia de Sesimbra, mas tem sido negligenciado. É urgente resolver problemas estruturais como a falta de mão-de-obra e de habitação, criando soluções temporárias dignas para os trabalhadores migrantes e, a médio prazo, voltar a ter bairros de pescadores que assegurem condições para manter a atividade. É igualmente importante reconhecer as cédulas profissionais dos trabalhadores estrangeiros e apostar na formação de jovens para funções especializadas, garantindo a continuidade do setor.
Defendemos ainda a modernização e melhoria do porto de pesca, que continua com infraestruturas degradadas e sem condições adequadas; e a resolução do impasse entre a APSS e a Docapesca, que tem travado o seu desenvolvimento. Queremos também aproximar novamente a pesca da comunidade e valorizar este setor fundamental para a nossa identidade coletiva. Por exemplo com a integração da história local, da pesca e do património marítimo nos currículos e atividades extracurriculares, ligando a escola à comunidade.
O Bloco de Esquerda propõe ainda fazer a cartografia das zonas submarinas da pesca artesanal com base no conhecimento tradicional dos pescadores, estimular a produção biológica tanto na pesca como na agricultura e promover o consumo de produtos locais e de proximidade. Defendemos também a certificação dos restaurantes que utilizem peixe selvagem da pesca artesanal e outros produtos biológicos e locais, valorizando o trabalho dos pescadores e fortalecendo a economia local.
Por outro lado, é necessária uma revisão do regulamento do Parque Marinho Luiz Saldanha, tornando-o mais equilibrado e em linha com os restantes parques marinhos do país, para evitar a extinção da pequena pesca tradicional sem aumentar o esforço de captura. O setor das pescas precisa de políticas públicas à sua medida e não de continuar a ser esquecido por quem governa o concelho.
Sesimbra tem uma riqueza natural única (Serra da Arrábida, Lagoa de Albufeira, orla costeira). Que planos tem para proteger estes territórios?
Queremos rever o processo de desassoreamento da Lagoa e reforçar a fiscalização ambiental. Além disso, propomos ligar a preservação ambiental à educação e à cultura, através de programas de educação ambiental e de sensibilização para estes territórios.
Qual a posição da sua candidatura em relação a novos empreendimentos turísticos junto à costa?
Defendemos uma moratória à construção de novos empreendimentos na zona do Meco e o impedimento de licenciamento de hotéis na região da Arrábida até ser realizada uma Avaliação de Impacto Ambiental séria com consulta pública.
Que medidas propõe para melhorar a mobilidade sustentável no concelho?
É necessário privilegiar o pedonal, o ciclável e os transportes públicos ao carro, no entanto, as pessoas só irão fazer esta escolha se existir uma oferta eficaz e segura. Por isso é tão urgente reforçar as ligações entre as freguesias e com o resto do concelho. Propomos criar ciclovias e passadiços, aumentar a frequência e rever os percursos das carreiras, criar percursos noturnos e garantir a coordenação horária entre os autocarros e os comboios de Coina e do Fogueteiro e apostar em transportes públicos elétricos.
As respostas de saúde são uma preocupação em Sesimbra. Que propostas apresenta para reforçar a rede de cuidados de saúde no concelho?
A saúde é uma das maiores preocupações dos sesimbrenses e exige uma resposta estrutural. É fundamental atrair e fixar médicos, enfermeiros e técnicos de saúde, tornando o concelho mais atrativo com medidas como habitação a custos controlados, apoio no acesso a creches ou ATL e assistência a dependentes. Queremos também reforçar a saúde de proximidade e de prevenção, em colaboração com as autoridades de saúde e o movimento associativo, através de unidades móveis de saúde, ações de sensibilização e programas de testagem sempre que surjam surtos epidémicos. Defendemos a construção de uma nova Unidade de Saúde Familiar na freguesia do Castelo, bem equipada e dimensionada para responder às necessidades dos mais de 20 mil residentes e a criação de um serviço de atendimento permanente que garanta resposta rápida em emergências e reduza a pressão sobre os hospitais dos concelhos vizinhos. Além disso, queremos reforçar os cuidados continuados e paliativos e equipar espaços comunitários, tais como as instalações desportivas e culturais do concelho, com desfibrilhadores e máquinas de higienização.
Que mensagem pretende deixar aos eleitores de Sesimbra para votarem no Bloco de Esquerda?
Juntos vamos virar o bico ao prego! Basta de turismo desenfreado, construção sem planeamento e corrigir problemas sem criar as infraestruturas necessárias. Os sesimbrenses querem e merecem mais qualidade de vida, com mais participação cidadã, mais transparência e mais inclusão. Está na hora de devolver às pessoas o controlo sobre o seu território e as suas vidas.