Jovem azeitonense tem dado provas de grande valor na criação de software. Na Power Dot, empresa com uma rede de carregamento de carros eléctricos, lidera uma equipa de engenheiros que foi determinante na captação de 150 milhões
João Pedro Jesus Costa Santos, apesar do perfil de informático, não deixa de ser um praticante de actividades físicas mais exigentes. Apresenta-se, para esta entrevista a O SETUBALENSE, de muletas, com um tornozelo magoado num jogo de futebol, entre amigos.
Aos 27 anos de idade, que completou a 23 de Maio, é um mais do que promissor talento da programação informática. Mais do que promissor, porque já tem “obra” feita. Trabalha em software há dois anos e as suas qualidades despertaram o interesse de uma tecnológica maior, onde lida agora com projectos de milhões de euros.
Começou numa empresa de software house, em Lisboa, para onde se mudou precisamente por razões profissionais. Apesar de ainda curta, a jornada profissional já teve “imensas mudanças”, mas só de empresa, porque a área é sempre o software, área com muitas vertentes onde João faz quase tudo. Neste momento lidera uma equipa de quatro engenheiros, na empresa Power Dot, detentora de uma rede de carregamento de carros eléctricos.
“A Power Dot era cliente da outra empresa onde trabalhava. Comecei a envolver-me nos projectos, passei a ser responsável a 100% e em Janeiro de 2022 integrei os quadros da Power Dot. Começámos a olhar para a empresa numa óptica de crescimento, no produto e na engenharia, criámos uma equipa, e continuamos a contratar, e, em Maio recebemos uma ronda de investimento de 150 milhões da Antin. É um grande orgulho para mim porque é um dos maiores investidores europeus de infraestruturas e olharam para a Power Dot como uma boa oportunidade.”, conta João Santos.
O conceito que está a desenvolver é o destination charging em que as pessoas não se deslocam de propósito para recarregar o carro, mas integram o abastecimento no circuito normal diário da sua vida.
Natural de Lisboa, João viveu quase sempre em Azeitão, no concelho de Setúbal, onde chegou com 6 anos, quando os pais se mudaram. São ambos professores no Instituto Politécnico de Setúbal (IPS). O pai de engenharia electrotécnica (potencia e energias) e a mãe, arquitecta, dá aulas ao curso de construção civil, sobre reabilitação, de imóveis, fachadas, etc.
O percurso académico foi invulgar. A seguir ao ensino preparatório, optou pela via profissional e só depois fez a licenciatura. Ingressou no CTeSP em Automação, Robótica e Controlo Industrial, e integrou, depois, o IPS onde fez a licenciatura em Engenharia Electrotécnica e de Computadores. É mestrando em Engenharia Informática no ISCTE, mas pouco dedicado nos últimos meses devido ao trabalho. “O semestre passado consegui fazer tudo, mas neste semestre ainda não meti lá os pés”, revela. Garante que “não é por falta de gosto”, mas porque o trabalho o absorve demasiado.
Além de diplomado no IPS, foi também, até há cerca de um ano, docente da Escola Superior de Tecnologia de Setúbal (ESTSetúbal/IPS). Quando estava no Politécnico, integrou a equipa que venceu a 17a edição do Poliempreende com a ideia inovadora Menu.AI, que usava a Inteligência Artificial (AI, no acrónimo em inglês) para melhorar o sistema de entregas na restauração. Quando saiu da anterior empresa, o projecto ficou na gaveta, mas João ainda tenciona aproveitar o conceito e a tecnologia para outros fins.
Desde que fez Erasmus, tem ganho imensos concursos de empreendedorismo. Já vai em oito. O último foi o Gcloud da Devoteam, em Maio deste ano. Recomenda a participação neste género de desafios porque enriquece e mostra o valor dos jovens. “Todos os trabalhos que já tive vieram através destes concursos”, diz.
No mundo da informática, a sua paixão é a Inteligência Artificial, que não vê como uma ameaça ao emprego, mas como uma vantagem”.
“Há imenso mercado. Todos os dias são procurados profissionais da área das Tecnologias de Informação (TI), há imenso espaço para crescer. Por outro lado, a AI vai automatizar muito o nosso trabalho. Hoje já utilizo muito as ferramentas da Open AI, que é das plataformas mais avançadas em AI, que multiplicam o meu trabalho de programador duas a três vezes.”, defende.
Apesar de residir agora em Lisboa, não perde a ligação à região, de que gosta muito. “Sou fã da Arrábida. Já estive em muitos países e conheci muitas praias, mas ainda não conheci nenhuma melhor que Galapinhos. A costa podia ser mais bem aproveitada, o que iria favorecer imenso a região a nível económico, mas percebo o porquê de não ser, pela necessidade de preservação ambiental.”, explica.
Da infância e juventude em Azeitão recorda a liberdade de correr pelos campos. “Erámos quatro amigos, estávamos sempre na rua. Andávamos de skate, construímos rampas, casas nas árvores, também jogávamos online. Acho que foi muito equilibrado. Se soubesse o que sei hoje teria começado a tecnologia (a programar, interessado em robótica e software) mais cedo e talvez o que atingi ao 27 tivesse alcançado aos 17 anos.”, conclui.
João Santos à queima-roupa
Idade: 27 anos
Naturalidade: Lisboa
Residência: Lisboa/Azeitão
Área: Engenharia Electrotécnica e de Computadores
Apaixonado pela área técnica, partiu do ensino profissional para a licenciatura. Acredita na Inteligência Artificial como uma vantagem para a humanidade