A candidata do Livre afirma estar sempre disponível para cooperar com todas as forças políticas que queiram defender os interesses de Sesimbra, sem perder a identidade progressista
Licenciada em Educação, Mestranda em Política Social, Formada em Comunicação Aumentativa e Alternativa e fundadora, formadora e mentora de adolescentes e adultos neurodivergentes e de famílias atípicas na Impacta Educa, Carina Calisto. Além de outras funções, é ainda ativista e consultora de acessibilidade física, cognitiva e sensorial.
Afirma que o Livre “representa uma forma de fazer política transparente, participativa e comprometida com as pessoas e com o ambiente”, e que o concelho “não pode ser planeado apenas para quem tem mais recursos ou menos dificuldades; tem de ser pensado para todos”, o que significa “garantir que todos os espaços públicos novos ou requalificados cumprem normas de acessibilidade universais, não como exceção mas como regra”.
Considera que a justiça social “será o princípio que guia a habitação, a saúde, a educação e o trabalho”, e frisa que o Livre pretende desenvolver um modelo de mobilidade sustentável: autocarros mais frequentes e noturnos, ligação eficaz ao comboio, transportes a pedido em zonas de baixa densidade, ciclovias, passeios seguros e acessibilidade universal”.
O que a motivou a aceitar ser candidata à presidência da Câmara de Sesimbra pelo Livre?
Vou dizer o mesmo que disse aos meus camaradas quando me apresentei como candidata às primárias para a Câmara de Sesimbra: Eu candidatei-me e aceitei quando fui eleita, não por ambição pessoal, mas por compromisso com o coletivo. Compromisso com todos aqueles que vivem, trabalham e /ou estudam em Sesimbra. O Livre representa uma forma de fazer política transparente, participativa e comprometida com as pessoas e com o ambiente e isso fez com que encontrasse o partido ao qual quero pertencer e com o qual acredito que possa ser para Sesimbra uma alternativa progressista, corajosa e profundamente enraizada na justiça social.
Trabalha com inclusão e deficiência, como essa experiência molda a sua visão para o concelho?
Eu trabalho com a inclusão e a deficiência e/ou neurodivergência exatamente porque vivo essa realidade. Vivo-a aqui e já a vivi em outros concelhos.
Sou uma mulher neurodivergente (autista e com phda) e mãe de um jovem neurodivergente (autista, phda, não oralizado) em Ensino doméstico, exatamente para ter a oportunidade de ter o seu direito à educação cumprido.
A Impacta Educa surgiu exactamente porque as falhas na sociedade, as falhas no concelho, as falhas no País eram tão flagrantes, tão graves e colocam em causa tantos direitos básicos de crianças, jovens, adultos e das famílias, que houve necessidade de criar algo que pudesse ser um porto seguro, uma resposta imediata e um local de empoderamento. O concelho não pode ser planeado apenas para quem tem mais recursos ou menos dificuldades; tem de ser pensado para todos. E, quem melhor para falar sobre a inclusão senão quem vive a exclusão no seu dia a dia? E não é só a minha realidade que me molda a visão para o concelho. É a partilha e a vivência de outras realidades. É a noção da falta de liberdade de uma fatia enorme da população. Porque só é livre quem pode exercer os seus direitos e no momento em que não há acessibilidade (seja física, sensorial ou cognitiva) não há forma de se participar ativamente em sociedade ou exercer uma cidadania ativa.
Por ser ativista pelos direitos das pessoas com deficiência, que políticas específicas pretende implementar para um concelho mais acessível em todos os espaços públicos?
Como disse antes, inspiro-me no pensamento de Amartya Sen que diz que a liberdade real só existe quando todos têm as condições para participar plenamente na vida em comunidade. As políticas sociais, por princípio, deveriam ser automaticamente inclusivas, o que significa que não devíamos estar sempre a falar de “inclusão” como algo à parte. No entanto, como essa realidade ainda não está garantida, é essencial implementar medidas concretas para que a acessibilidade seja efetiva e não apenas uma promessa.
Na prática, isto significa: garantir que todos os espaços públicos novos ou requalificados cumprem normas de acessibilidade universais, não como exceção mas como regra; rever edifícios e espaços já existentes, criando um plano municipal de adaptação progressiva, com prazos definidos e participação das próprias pessoas com deficiência (através da criação de um gabinete municipal de inclusão, que trabalhe com associações locais e cidadãos para identificar barreiras e eliminá-las); investir em transportes públicos acessíveis, desde autocarros a interfaces de mobilidade suave, para que a deslocação dentro do concelho seja uma liberdade e não uma barreira; trabalhar a acessibilidade comunicacional — sinalética em formatos alternativos, materiais em leitura fácil, braille, Língua Gestual Portuguesa e tecnologias de apoio; formar trabalhadores municipais e prestadores de serviços para que a acessibilidade não seja só física, mas também relacional e cultural e envolver toda a comunidade nestas mudanças (o que implica criar programas de sensibilização sobre o capacitismo, o idadismo e outras formas de discriminação que normalizam a exclusão social).
Ou seja, não se trata de criar “ilhas de acessibilidade”, mas de transformar Sesimbra num município onde todas as pessoas, com ou sem deficiência, possam exercer plenamente a sua cidadania.
Se for eleita para gerir a Câmara de Sesimbra, quais os valores centrais que vão orientar a sua administração, ao nível da justiça social, ecologia e participação cidadã?
Transparência, participação cidadã, justiça social e compromisso ambiental.
Quero uma autarquia que governe de portas abertas, que envolva os cidadãos nas decisões e que não deixe ninguém para trás. A justiça social será o princípio que guia a habitação, a saúde, a educação e o trabalho. A ecologia será a lente para todas as decisões de urbanismo, turismo e mobilidade. E a participação cidadã será o motor que garante que a política é feita com as pessoas e não apenas para elas.
Que significado tem para si ser uma “alternativa progressista” para Sesimbra?
Significa oferecer um caminho que une equidade, sustentabilidade e democracia. Não é apenas criticar o que está mal, mas propor soluções novas, ancoradas em valores de esquerda, verdes e inclusivos. É mostrar que Sesimbra pode liderar pelo exemplo: proteger o ambiente sem travar o desenvolvimento, garantir habitação acessível sem sacrificar o território, valorizar a diversidade como riqueza e não como obstáculo.
Que medidas propõe para tornar habitação acessível em Sesimbra?
O Livre Sesimbra propõe que o município aumente a percentagem de habitação pública, crie programas de apoio à renda, incentive a reabilitação urbana e imponha quotas de habitação acessível em novas urbanizações. Defendemos ainda a limitação do alojamento local desregulado, que pressiona os preços, e a criação de um Observatório da Habitação que monitorize preços e identifique edifícios devolutos. Habitação é um direito, não um privilégio.
Esta proposta reflete a bandeira dos 3C’s do Livre:
Casa — porque garantir habitação pública e acessível é assegurar o direito fundamental a um lar digno;
Conforto — porque habitar com segurança, renda justa e qualidade de vida é condição para uma comunidade saudável e coesa;
Clima — porque reabilitar edifícios e apostar na eficiência energética é reduzir custos, proteger o ambiente e tornar Sesimbra mais sustentável.
No que toca a urbanismo e ordenamento do território: como conciliará desenvolvimento, preservação ambiental, infraestruturas, crescimento e relação do turismo com a população local?
O desenvolvimento não pode significar especulação nem destruição do território.
A prioridade será reabilitar e consolidar zonas urbanas existentes, em vez de expandir descontroladamente.
O turismo deve ser sustentável, valorizando a cultura e a identidade local e criando pontes entre identidades e culturas diferentes.
Pretendemos reforçar a fiscalização ambiental, suspender licenciamentos de grandes empreendimentos turísticos que ameacem a nossa costa e rever o Plano Diretor Municipal para colocar a comunidade no centro das decisões.
Transporte e mobilidade: quais os planos para melhorar deslocações dentro e para fora do concelho?
Pretendemos desenvolver um modelo de mobilidade sustentável: autocarros mais frequentes e noturnos, ligação eficaz ao comboio, transportes a pedido em zonas de baixa densidade, ciclovias, passeios seguros e acessibilidade universal.
Queremos uma Sesimbra dos 15 minutos, onde os serviços básicos estão acessíveis a pé ou de bicicleta.
Propomos ainda transporte público gratuito para jovens até 25 anos, seniores acima de 65 e pessoas em situação de vulnerabilidade.
O programa do Livre menciona um forte cariz ecologista; que medidas para adaptação às alterações climáticas em Sesimbra?
Pretendemos implementar um Plano Municipal de Ação Climática, criar comunidades de energia renovável, promover reflorestação com espécies autóctones e reforçar a proteção da Rede Natura 2000.
A autarquia terá de ser exemplo na eficiência energética e na transição para energias limpas.
O combate às alterações climáticas não é apenas uma urgência global, é também a chave para proteger a beleza natural que torna Sesimbra única
Que desafios vê no acesso aos serviços de saúde no concelho, e como pretende resolvê-los?
O principal desafio é a falta de cuidados de saúde primários acessíveis e próximos.
Propomos um Plano Municipal de Saúde, mais profissionais de saúde, gabinetes de serviço social nos centros, contratação de psicólogos e reforço dos programas de saúde mental e apoio aos cuidadores informais.
Queremos também criar transporte solidário para consultas fora do concelho e investir em saúde preventiva junto das escolas e associações.
Acreditamos que poderá ser a base da mudança, para os desafios atuais e sabemos que poderá haver necessidade de ajustar medidas em determinados contextos, mas a participação cidadã atua exatamente aí: garantindo que as medidas que são aplicadas vão de encontro às necessidades reais.
Como pretende cooperar com outras forças políticas locais, partidos ou movimentos, para alcançar objetivos comuns? O Livre fala de diálogo com a esquerda.
A política local (e a nacional) deve ser feita em diálogo permanente.
Estarei sempre disponível para cooperar com todas as forças políticas que queiram defender os interesses de Sesimbra, sem perder a identidade progressista.
O Livre defende pontes à esquerda e eu acredito nessa construção de consensos, desde que não se comprometam os valores da justiça social, da sustentabilidade e da democracia participativa.
Que mensagem quer deixar aos eleitores de Sesimbra para votarem na sua candidatura?
Quero dizer a cada pessoa de Sesimbra que este projeto é vosso.
É de quem acredita que o concelho pode ser mais justo, mais verde, mais acessível e mais humano.
É de quem não aceita que a habitação seja um luxo, que os transportes isolem freguesias ou que a natureza seja destruída em nome da especulação.
É de quem acredita na força da comunidade e na política como voz.
O meu compromisso é simples: governar com verdade, com coragem, com equidade e com amor pela nossa terra.