No dia em que a CGTP-IN comemora 54 anos de luta pelos direitos dos trabalhadores, na Mundet foi inaugurado um centro que lembra a luta contra a ditadura
“Todos os dias é preciso construir Abril para que este não fique só na memória, na nostalgia e na saudade. Tem de ser presente e futuro”, afirmou na tarde de hoje Marcelo Rebelo de Sousa na inauguração do Espaço Memória – Centro de Arquivo, Documentação e Audiovisual da CGTP-IN, na antiga Fábrica Mundet, no Seixal.
Neste mesmo dia em que a CGTP-IN comemora 54 anos de fundação e de luta pelos direitos dos Trabalhadores, o Presidente da República lembrou que esta força sindical foi “essencial”, entre outras, para prepara o caminho dos Capitães que fizeram a Revolução dos Cravos. E parafraseando uma palavra de ordem da própria CGTP-IN, expressou: “A luta continua”, e logo a seguir acrescentou que a função desta estrutura sindical é “prosseguir nas suas causas e lutas, quer gostem ou não de determinado governo ou presidente da república”, isto porque “uma democracia só é democrática se souber respeitar isso mesmo”.
No espaço daquela que foi a “maior fábrica da indústria corticeira no mundo”, como disse o presidente da Câmara do Seixal, Paulo Silva, Marcelo Rebelo de Sousa salientou o papel determinante que os trabalhadores desta unidade fabril tiveram no crescimento de um município do Seixal “progressista, com tradição operária, trabalhador e militante, e que nunca deixou de o ser”.
Ao mesmo tempo, lembrou a luta dos trabalhadores, desde a Monarquia até aos vários períodos da República, que acabaram por dar origem à Intersindical, e CGTP-IN que, desde 1970, esteve nas ruas com manifestações e mobilizações que “apesar de reprimidas”, deram força para que acontecesse o 25 de Abril de 1974. “É justo que evoquem essa memória, não com nostalgia porque na vossa óptica a luta continua”.
Na presença de antigos trabalhadores da Mundet, sindicalistas afectos à CGTP-IN, autarcas e antigos dirigentes desta central sindical, como Arménio Carlos, Manuel Carvalho da Silva e Isabel Camarinha, Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu-se ao actual secretário-geral, Tiago Oliveira, e desejou-lhe que “possa sempre” corresponder “em renovação, sempre em mobilização, sempre em militância”.
Na inauguração de um espaço que “ficará a fazer parte da história da luta dos trabalhadores portugueses”, que vai acolher milhares de documentos, desde testemunhos, livros, cartazes e arte, Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou para relembrar o nascimento da Intersindical e ainda uma curiosidade.
Os sindicatos que reuniram os metalúrgicos, lacticínios, banqueiros e outros “aproveitaram uma brecha da lei em 1969 e afirmaram uma estrutura confederativa a nível nacional”. Por ironia do destino, a Intersindical veio a ser criada a 1 de Outubro de 1970, quando seu pai, Baltazar Leite Rebelo de Sousa, era ministro do governo da ditadura. “Hoje estou eu aqui a celebrar os 54 anos da CGTP-IN”, disse.
Paulo Silva que foi aluno de Marcelo Rebelo de Sousa na Faculdade de Direito de Lisboa, e com este se relacionou mais proximamente enquanto presidente da Associação de Estudantes daquela Faculdade, onde o então professor Marcelo era presidente do concelho directivo, realçou a importância da Fábrica da Mundet na luta dos trabalhadores. “Aqui, os trabalhadores assumiram a gestão da fábrica após o 25 de Abril e conseguiram a sua recuperação económica. Mas por pouco tempo, quando foi devolvida à família Mundet não resistiu à crise e foi à falência”.