Quinta da Atalaia em contagem decrescente para a Festa que se livrou das restrições pandémicas e espera público
A apenas três dias de começar a maior festa organizada por um partido político no País, pelo PCP, a Quinta da Atalaia, no Seixal, garante os últimos preparativos para de 2 a 4 de Setembro receber os visitantes na 46.ª edição da Festa do Avante!.
Ao longo dos 50 hectares que compõem o espaço, os pavilhões vão ganhando forma, mas ainda há muito que se faça. Militantes do partido, simpatizantes ou “festivaleiros” apenas, investem os últimos esforços para que a Festa chegue a bom porto.
“Coloca a tábua por cima, é mais fácil”, avisa Rui Nunes. Comunista há mais de cinco décadas, não perde uma oportunidade em ajudar no que pode. “Desde a primeira festa que eu cá ando. Ainda no tempo em que era feita na FIL [Feira Internacional de Lisboa]”, relembra.
A viver relativamente perto das instalações, em Alhos Vedros, aproveita o tempo que a reforma lhe dá para se dedicar diariamente a construir o stand que vai funcionar como restaurante de choco frito, em representação da gastronomia setubalense.
“Estes ares da Quinta da Atalaia fazem bem à saúde. Há paz, solidariedade, convívio, há de tudo. É uma alegria”, afirma.
“Um revolucionário nunca se reforma”
Para uns uma alegria, para outros, a concretização do Avante! é muito mais: “reivindicação política, cultural, social e económica”, afirma Manuel Lopes, ex-operário fabril que viu a reforma ser-lhe antecipada por incapacidade. Quanto à ajuda dentro do partido, a sua posição é clara: “Um revolucionário nunca se reforma”.
Habituou-se a rasgar quilómetros entre o Seixal e a cidade onde vive, Viseu, e, durante a organização do evento, está a acampar no parque de campismo próprio para os que vêm de longe.
Em tempos em que acredita que os valores comunistas “estão a ser fortemente distorcidos e atacados”, convenceu-se de que o Avante! é a solução: “Vamos fazer uma grande festa para toda a gente”.
Juventude Comunista
No lado oposto do recinto, os mais novos têm um espaço dedicado. A Cidade da Juventude ergue-se com a ajuda de jovens voluntários que abdicaram das férias de Verão para ‘dar uma mãozinha’ nas preparações.
É o caso de Pedro Rodrigues que aos 19 anos ficou responsável pela organização da Cidade da Juventude. Admite ser uma tarefa importante, mas está confortável com o cargo: “Nada é impossível e aqui todos ajudamos”.
Para Sara Rocha e Maria Teixeira, de 19 e 21 anos, a Festa já começou. Pertencem à Juventude Comunista Portuguesa (JCP) e, apesar do trabalho, mostram-se animadas: “O trabalho é feito entre amigos, por isso faz-se bem”, riem.
Previsão de mais visitantes do que em 2021
Após dois anos de festa marcados por restrições sanitárias, o Partido Comunista está agora em contagem decrescente para o evento que acredita trazer mais pessoas, relativamente a 2021.
“Estamos a preparar a construção para mais gente”, diz Eduardo Vieira, membro da organização da festa. “O ano passado houve mais visitantes, em comparação com 2020, e acreditamos que este ano a história se repita”.
Depois de duas edições polémicas em que o valor das despesas se demonstrou superior ao número das receitas pelo decréscimo de bilhetes vendidos, – dados partilhados pelo Jornal Eco – Eduardo Vieira nega que a posição adoptada pelo PCP em relação à guerra na Ucrânia possa constituir um entrave ao número de visitantes.
O PCP foi o único partido com assento parlamentar que não condenou a invasão militar da Ucrânia, mas a organização da Festa continua a demonstrar confiança na edição preparada.
“Os portugueses vão entendendo progressivamente a nossa posição. Pelos sinais que vamos tendo, cresce o número de pessoas que quer vir à Festa, sabendo que é um espaço de paz, liberdade e democracia”, assegura.
Quanto às críticas que têm sido frequentemente feitas aos artistas que vão actuar na festa, Eduardo Vieira considera ser “um atentado à liberdade de expressão e à democracia”. “É uma acção premeditada de tentar confundir os portugueses relativamente à posição do PCP em relação à guerra. São calúnias”, acrescenta.
Homenagem a Saramago e música electrónica
Além de ser um evento político, a Festa do Avante! concentra em si espectáculos desportivos e culturais, com uma forte componente musical.
Este ano, comemora-se o aniversário do centenário de José Saramago, militante do partido comunista, com um reportório de música clássica de autores citados nas obras do escritor e ainda música original inspirada no Nobel da Literatura.
O cartaz, que segue os contornos de anos anteriores com a apresentação de música portuguesa e afro-descendente, acrescenta uma novidade nesta edição: a Rave Avante!, composta por espectáculos de música electrónica que tem como mote as mulheres e as suas lutas.