A oferta turística tem vindo a crescer nos concelhos do Alentejo litoral a ponto de toda a região se estar a tornar “um destino de excelência”, diz Ceia da Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo
O Alentejo – particularmente o litoral alentejano – está a tornar-se “um destino de excelência” no país, procurado por portugueses e estrangeiros, graças à diversificação e qualificação da oferta turística – dos alojamentos às experiências – e são já muitos os projectos e atractivos que contribuem para essa dinâmica. Entre as novidades contam-se a estruturação dos Caminhos de Santiago, já em curso, e a criação de uma rede de estações para autocaravanismo, mas há muito mais a ser feito neste momento para dar continuidade à afirmação e crescimento da região.
O SETUBALENSE – DIÁRIO DA REGIÃO – Que retrato faz do turismo no Alentejo, especialmente nos concelhos do distrito de Setúbal?
Ceia da Silva – O Alentejo é apenas, e este “apenas” é do ponto de vista simbólico, a região turística que mais cresceu nos últimos anos. Os dados estatísticos do INE (Instituto Nacional de Estatística) que temos já deste ano mostram que nos primeiro meses do ano continuámos a ser a região que mais cresce, acima de 20%, quer em dormidas quer em proveitos. Temos hoje em turista mais exigente, mais culto, mais informado, com mais poder de compra e claramente que para esses números contribui muito o litoral alentejano, que tem contribuído imenso quer do ponto de vista da procura, quer do ponto de vista da oferta. Há um conjunto de unidades que estão já em construção, em toda a faixa litora que vai de Troia a Odeceixe e que claramente está a transformar, desde os últimos anos, aquela região numa região de excelência e de grande qualidade, e que é procurada por segmentos de mercado muito bem posicionados e isso depois induz desenvolvimento em termos globais. Alojamentos de excelência implicam restaurantes, comércio local, animação turística, criação de emprego, fixação de jovens. Eu diria que o litoral alentejano é hoje um destino que começa a consolidar-se como um destino de grande excelência.
Quais são os principais atractivos turísticos do Alentejo e do litoral alentejano?
Eu diria que o Alentejo, e o litoral alentejano em particular, é um verdadeiro arco-íris de oferta. Há um produto que se tem destacado imenso e um projecto que catapultou imenso o território para uma baixa sazonalidade: a Rota Vicentina. Mas também o walking [pedestrianismo] e o ciclyng [ciclismo]. O turismo de natureza tem sido uma grande alavanca. É uma região com uma rota pelo património material e imaterial muito forte, portanto as rotas vão também passar por todo o património, como complemento ao sol e mar e aos desportos náuticos. Há uma estação náutica em Sines. Troia tem condições únicas para observação da fauna ligada ao mar. Os mergulhos, a descoberta da natureza debaixo do mar e que é fabulosa pela sua riqueza faunística única. O turismo equestre também está a dar passos significados. O enoturismo, que começa a ganhar uma força muito forte. O turismo cultural [que dá a conhecer] fortificações, megalitismo, [património] barroco, sagrado e profano. É de facto uma região com todas as potencialidades e que começa a ter um alojamento de excelência, excelente restauração e animação turística.
Que projectos turísticos estão a ser preparados para a região?
Os Caminhos de Santiago estão a ser neste momento a ser implementados por nós no terreno e são um projecto estruturante, que vai ser lançado em Santiago do Cacém, de forma simbólica. Vai estar pronto até Outubro deste ano mas o projecto será lançado em Junho. Temos um projecto de autocaravanismo que vai ter mais de 60 estações, e vai dar outro tipo de condições a um tipo de turismo que também interessa e que tem de ficar situado em locais com alguma qualidade que permita que possa deslocar-se às povoações, comer nos restaurantes e consumir. É um projecto inovador em Portugal e que vai ser lançado em Julho pelo secretário de estado do Turismo. Estão aprovadas 40 estações de autocavanismo no Alentejo, seis delas no litoral alentejano. Lançámos recentemente o guia de enoturismo que está neste momento nos aviões da TAP para o Canadá, Estados Unidos e Brasil – só para o Brasil são dez rotas aéreas –, que já esgotou e que tem uma zona específica para os produtores de vinho do litoral alentejano. Lançámos o guia de restaurantes certificados no Alentejo. Estamos a estruturar – um projecto que estará concluído até finais de Outubro – também o guia de percursos pedestres que vai envolver pelo menos um percurso circular em cada um dos cinco concelhos do litoral alentejano. Estamos a falar de mais de 1500 quilómetros cicláveis, com estações de BTT onde é possível lavar a bicicleta, tomar um duche, etc. É mais um produto muito importante e em que estamos a trabalhar. Estamos a trabalhar no birdwatching [observação de aves] com estações próprias para observação da avifauna. Na área das rotas, temos as rotas do património cultural e imaterial e uma delas passará pelo litoral alentejano. As rotas de turismo cultural [do megalitismo, barroco e cultura avieira], com pacotes de dois, três e cinco dias, estarão prontas até Outubro.
Que ganhos se podem esperar com os Caminhos de Santiago?
O peregrino de Santiago do Cacém é o peregrino que faz mais de 95% de caminhada, com objectivos religiosos, com mais de 65 anos, com poder de compra e disponibilidade de tempo e que fica nos melhores hotéis e nos melhores restaurantes. Isso vai trazer um novo segmento de mercado do território, que conjuntamente com a Rota Vicentina vai alavancar as zonas do ano menos propícias para o sol e mar e para os desportos náuticos. Vai trazer um turista mais culto, com mais poder de compra, e ajudar a esbater a sazonalidade. Vão surgir novas unidades, novos hotéis, novos passeios, novos restaurantes e empresas de animação à volta do produto. É um projeto muito estruturante que vai trazer um turista diferente para o litoral alentejano.
Qual é, em traços gerais, o perfil das pessoas que visitam o Alentejo?
No Alentejo há ainda, de facto, mais turistas portugueses, à volta dos 57% a 63%. Ao nível do litoral alentejano os números estão muito equilibrados entre turistas portugueses e estrangeiros. Há hoje de facto muitos turistas estrangeiros, fruto do trabalho da agência de promoção externa muito relevante e que tem trazido operadores de turismo externo que têm feito os maiores elogios às praias, às condições do turismo de natureza e aos percursos. É muito importante termos mais turistas portugueses, mas também internacionais. [Vamos] continuar a trabalhar todos os dias, [e] estar muito no terreno com um trabalho muito preciso e voluntarioso de muita gente, que tem feito com que o litoral alentejano seja hoje considerado por órgãos turísticos internacionais um dos melhores destinos turísticos do mundo.