25 Março 2023, Sábado
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Jovem do Pinhal Novo detido por rede de espiões no Irão [VÍDEO]

Pedro Pinela conta como ficou aterrorizado por ter sido suspeito de ligação ao Daesh, depois de surpreendido por agentes da “Beitol Moqadas”. O relato na primeira pessoa do jovem que continua a aventura pelo mundo

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Estava prestes a escrever acerca das especificidades da arquitectura iraniana (incansavelmente trabalhada com minúsculos pedaços de espelho aplicados em tectos e paredes), das famosas tapeçarias daqui (são o segundo produto mais exportado), do cheiro a miolos de ovelha cozinhados nos bazares (vendidos depois a preços idênticos ao do caviar), da obsessão pelos frutos secos que eles têm (que produz o som de cascas a estalarem ao serem abertas ou a cair no chão, enquanto se passa na rua) e por aí fora.

Até chegar à popularidade das cirurgias plásticas no meio feminino, principalmente sob a vertente das rinoplastias (narizes engessados é o que não falta), ao dinheiro que não vale nada convertido ao euro (a maior nota com que se pode andar no bolso equivale a 12,5 euros), aos vendedores de meias, bolos, cintos, livros para colorir, lanternas, envelopes, etc (até que o leitor achasse que efabulava acerca desta ampla diversidade de produtos disponíveis dentro do metro da capital).

Contudo, depois do que tive a sorte de presenciar no meu primeiro dia em Ispão (Isfahan), não tenho como não falar da contemporaneidade da minha experiência que sempre reflecte uma parte do passado.

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Estamos a dia 10 de Fevereiro de 2017, passaram 38 anos sobre a revolução iraniana. A manhã começa pacata e soalheira, há pouca gente na rua. Não encontro onde dormir, pelo que tenho de carregar a mala o dia inteiro, existem muitos olhares postos nas minhas costas, assim sendo.

Vagueei pelas ruas, no centro da cidade, até dar de caras com uma banda filarmónica militar a aquecer o seu fôlego para as celebrações daquele que é o dia que marcou o derrube o xá Mohammad Reza Pahlevi e a consequente subida ao mais alto posto da governação de aiatolá Khomeini.

Esta nova era na política do Irão ditou principalmente o distanciamento do país em relação ao Ocidente, que se adoptassem doravante leis conservadoras baseadas no Islamismo e que o clero tivesse o papel principal no comando da nação. Este dia pode apenas ser comparado, ao nível da sua importância social, ao nosso 25 de Abril.

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Em meia hora, as avenidas cortadas ao trânsito são inundadas de gente vinda de todas as afluentes. Os camuflados multiplicam-se, erguem-se grandes faixas, distribuem-se cartazes, os altifalantes gritam palavras de ordem com um forte cariz religioso e eu largo a tralha para um canto discreto e fotografo o mais que posso. Há uma praça enorme para onde todos convergem, porém o acesso à plataforma de onde poderia fotografar a multidão é-me vedada.

Uma da manhã, já dormia, junto ao palácio Hasht Behesht, dentro da área de um parque público. Oiço vozes, sinto luzes sobre as pálpebras e acordo. O mesmo homem do restaurante acompanhado por 3 outros homens (2 deles fardados), pedem-me que me levante e que arrume as minhas coisas.

Vão levar-me para um hotel já que não estou disposto a pagar por um, mas quando chegamos ao destino, estou no posto da polícia a ser interrogado sobre a minha religião e sobre a mesquita que visitei por engano, ao anoitecer desse dia. Estavam convencidos de uma eventual ligação minha ao Daesh ou aos serviços de informação de um país inimigo

A polícia passeia pelo meio das festividades com auriculares e à civil, até me encontrarem para me perguntarem qual é o meu problema. Explico que não tenho um, passam a vista pelo meu passaporte, respondo a algumas perguntas e deixam-me ir almoçar.

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No restaurante onde me sento, vejo um homem que entra e que se dirige a mim, pedindo-me o passaporte. Porquê? Ele é da polícia, explicam-me. Posso ver identificação? Deixa-te disso e mostra-lhe o passaporte, foi mais um apelo assustado do que uma ordem. Então, dei-lhe o passaporte, fez-me perguntas com um tradutor a mediar a conversa e, por fim, quis ver as fotografias que tinha na minha câmara. Esta última vontade senti-a carregada de opressão. Despediu-se e deixou-me entre os pedidos de desculpas dos ainda presentes por aquela inconveniência embaraçosa.

Era da polícia religiosa, um “agente” da Beitol Moqadas, responsável por manter a ordem social segundo a lei da Sharia (lei islâmica).

Uma da manhã, já dormia, junto ao palácio Hasht Behesht, dentro da área de um parque público. Oiço vozes, sinto luzes sobre as pálpebras e acordo. O mesmo homem do restaurante acompanhado por 3 outros homens (2 deles fardados), pedem-me que me levante e que arrume as minhas coisas.

Vão levar-me para um hotel já que não estou disposto a pagar por um, mas quando chegamos ao destino, estou no posto da polícia a ser interrogado sobre a minha religião e sobre a mesquita que visitei por engano, ao anoitecer desse dia. Estavam convencidos de uma eventual ligação minha ao Daesh ou aos serviços de informação de um país inimigo.

Tinha sido seguido o dia inteiro pela Beitol Moqadas, fiquei a saber depois de tudo estar resolvido, e inclusive algumas das pessoas com quem travei conhecimento nesse dia eram espiões ao serviço da organização, daí saberem onde podia ser encontrado a dormir, nessa noite.

Se falei em opressão por ter sido forçado a mostrar as minhas fotografias, agora estava aterrorizado, mesmo com as gentis palavras da polícia “normal”, que me ofereceu estadia no posto e que se desculpou pelo ocorrido.

No dia seguinte, cortei a barba, meti-me no hotel mais barato da cidade, juntei toda a minha coragem para voltar a sair à rua e dei um passeio aos pensamentos sobre o dia que passara por um parque na periferia. Somos tão livres em Portugal!, insistia em concluir.

Entretanto… a caminho de Qeshm, Hormozgan, Iran

Pedro Pinela

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