Qualificar os trabalhadores da autarquia, investir no desenvolvimento rural e urbano e retomar da construção de loteamentos municipais são algumas das medidas do candidato
Luís Cardoso, 52 anos, é o candidato da CDU à presidência da Câmara Municipal de Odemira nas eleições autárquicas de 12 de outubro. A coligação tem, neste momento, dois vereadores eleitos naquele órgão municipal, entre os quais o cabeça de lista.
Nascido na Cidade da Praia, Ilha de Santiago, República de Cabo Verde, e residente há muitos anos no concelho assume funções, desde 2016, no setor de Leitura e Faturação do município tendo já sido responsável pela gestão dos sistemas de tratamento de água e águas residuais, responsável operacional no Sistema do Litoral Sul na empresa Águas Públicas do Alentejo e exercido funções nos setores de Ramais e Conservação.
Qualificar os trabalhadores da autarquia, promover políticas que impulsionem o desenvolvimento rural e urbano e retomar da construção de loteamentos municipais são algumas das medidas defendidas pelo candidato da coligação.
Em entrevista a O SETUBALENSE refere que as opções tomadas pela atual gestão da autarquia não têm servido os interesses da população e que o concelho precisa de ser “reequilibrado”.
Porque é que decidiu candidatar-se à presidência da Câmara de Odemira?
Sinto que é altura certa para assumir esse compromisso com os odemirenses atendendo à conjuntura atual bem como o trabalho realizado ao longo dos dois últimos mandatos que carecem de uma continuidade mais efetiva de forma implementar as melhorias e transformações que Odemira precisa.
Se for eleito quais são as primeiras medidas que pretende realizar?
A curto e medio prazo, uma das primeiras medidas a levar a cabo seria um olhar para dentro da casa, ajustar o que precisa de ser ajustado, consolidar o que bem funciona e promover as alterações necessárias para que a câmara municipal forneça todas as respostas às solicitações dos seus munícipes e que esteja sempre aberta aos munícipes.
Para isso, seria necessário a valorização dos trabalhadores através de planos de formação profissional contínuo, para qualificar os trabalhadores em diversas áreas permitindo-lhes desempenhar melhor as suas funções e, por conseguinte, a sua evolução na carreira.
Criação de oportunidades de mobilidade interna e reconversão profissional, adequando as competências do trabalhador às necessidades do serviço sob a forma de uma simbiose altamente eficaz.
Garantir o envolvimento dos representantes dos trabalhadores nos processos de decisão que afetam o seu quotidiano, através das comissões paritárias e sindicatos bem como o incentivo à participação ativa em assembleias e fóruns internos, para que as preocupações e sugestões dos funcionários sejam ouvidas e integradas.
Apresenta-se com “um projeto enraizado nos valores da justiça social, da democracia participativa e da valorização do poder local”. De que forma é que pretende implementar esse projeto?
Com a promoção de políticas integradas que levam ao desenvolvimento rural e urbano de uma forma equilibrada e equitativa, com o reforço dos serviços públicos locais tais como a educação, transporte e apoio social, sem esquecer a proteção dos grupos mais vulneráveis.
Incrementar e acentuar o envolvimento dos munícipes nos orçamentos participativos de forma que façam parte integral e em todas as fases do desenvolvimento do processo.
Criar gabinetes de apoio descentralizado, móveis e fixos, aos Munícipes em algumas localidades onde a procura é muito significativa.
Criação de conselhos municipais temáticos onde se implementa na prática as políticas de igualdade, interculturalidade e inclusão a partir do envolvimento dos munícipes que terão ao seu dispor mecanismos práticos para elaboração de projetos.
Uma das medidas para a efetivação da valorização do poder local é descentralização de competências para as freguesias, equilibrando recursos entre freguesias e garantindo que as decisões sejam tomadas mais perto das populações. Promover que as próprias freguesias sejam elos de ligação da população com a câmara municipal.
Relativamente às associações locais, haverá um fortalecimento do relacionamento comas associações, cooperativas e iniciativas de economia social, para a implementação e dinamização do desenvolvimento comunitário, apoiado nos projetos culturais e sociais locais que promovam a identidade e coesão social de cada território.
Como é que tem corrido o trabalho enquanto oposição na câmara municipal?
Tem sido um trabalho de dar voz aos que a perderam, fazendo a ponte entre os que ficaram esquecidos, os que deixaram de ter acesso livre aos serviços e os que não conseguem fazer-se ouvir perante a câmara municipal.
Tem sido um trabalho de alertar para as inúmeras fragilidades em que se encontram os munícipes e por isso, os eleitos da CDU têm tido uma postura de chamar à razão nas diferentes políticas levadas a cabo pela gestão do PS.
Que críticas faz à atual gestão da autarquia?
As maiorias absolutas têm um grande problema com a sua perduração no tempoe quando deixam de sentir o pulso à realidade. No caso da gestão PS em Odemira são 28 anos de decisões que nem sempre servem os reais interesses da população. Esse facto faz com que se crie uma dinâmica invertida em que as prioridades muitas vezes dependem do que o executivo PS julgue que serve o real interesse da população, apesar da realidade no terreno exigir outro tipo de resposta e não o avanço de políticas desastrosas.
Por outro lado, em muitas situações, os eleitos da CDU fizeram com que a gestão PS descortinasse os referidos erros e com isso, alterassem algumas decisões em claro proveito e benefício da população.
Considera que há escassez de habitação em Odemira? Se sim, de que forma é que a situação pode ser revertida?
Existe uma brutal escassez de habitação em Odemira, à semelhança do que se passa a nível nacional. O mercado de arrendamento está híper inflacionado em que hoje em dia nenhuma família tem condições para arrendar uma casa sem despender 70 ou 80 porcento do seu rendimento.
Apesar da política de disponibilização de lotes para os jovens a preços reduzidos os mesmos não conseguem obter financiamento para a construção das suas habitações. A nosso ver, a única política que pode reverter a escassez de habitações no mercado é o retomar da construção de loteamentos municipais em que as casas seriam disponibilizadas através de rendas acessíveis e controladas, tal como o governo cumprir a promessa que fez a Odemira de investir e disponibilizar mais de 90 milhões de euros para a habitação no concelho.
De que forma vê a chegada de imigrantes ao concelho?
A chegada dos imigrantes ao concelho de Odemira foi um processo natural se nos basearmos nos pressupostos que vieram suprimir uma grande necessidade de mão de obra que se fazia sentir.
O problema não está na sua chegada, está na sua integração, na sua libertação das máfias e no papel social que quer Governo quer as próprias empresas deveriam ter junto deles.
No combate à criminalidade, quais são as vossas propostas?
Relativamente ao combate à criminalidade as forças policiais têm feito o seu serviço e iremos apoiar tudo o que é feito em prol de garantir a segurança de todos. É também preciso ter em conta que segundo o RASI 2024 o concelho de Odemira é dos mais seguros tendo inclusive a maior redução de taxa de criminalidade do distrito com menos 310 ocorrências. Há dados preocupantes que se mantêm como a sinalização de vítimas de exploração e tráfego laboral.
O concelho precisa de um município que pressione as autoridades e Governo para que haja mais ações de fiscalização e preventivas de forma a debelar a organização ou organizações criminosas que atuam no concelho subjugando a comunidade imigrante que cá reside. E isto só será possível com uma autoridade que tenha os meios humanos e materiais dignos para o seu trabalho.
Há algo mais que queira acrescentar?
O concelho de Odemira precisa de ser reequilibrado. E o município tem de fazer tudo ao seu alcance para atenuar as diferenças entre o interior e o litoral. É o maior concelho da Europa e não pode andar em jogos em que dependendo de quem está no governo, o município seja mais ou menos reivindicativo pela sua população.
Na habitação, nos transportes (nomeadamente o comboio), na vigilância aos grandes empreendimentos agrícolas, a câmara tem de ser parte da solução e exigir ao governo (seja ele do PS ou AD) que se cumpra o que há muito nos foi prometido.