Habitação e investimentos no saneamento são duas principais medidas da candidata que defende mais aposta na agricultura e o reforço de meios da GNR
Ana Paula Pereira, 46 anos, é a candidata da Iniciativa Liberal à presidência da Câmara Municipal de Odemira nas eleições autárquicas de 12 de outubro. O partido volta a concorrer depois de, em 2021, ter ficado em 5.º lugar dos mais votados.
A eleita na assembleia municipal refere que as principais áreas a intervir são na habitação e na infraestrutura de águas e redes de esgotos. Nesta primeira medida entende que é necessário dar incentivos à construção, criar loteamentos de baixo custo e dar também incentivos aos jovens para se fixar no concelho do Litoral Alentejano.
Professora de profissão entende que o partido que lidera os destinos da autarquia “não conhece a realidade do concelho” e que é preciso olhar para a agricultura, que considera ser um setor predominante no município.
Em entrevista a O SETUBALENSE a cabeça de lista não concorda com a criação de uma polícia municipal e defende o reforço de meios, tecnológicos e humanos, da GNR.
O que é que a levou a candidatar-se à presidência da Câmara de Odemira?
A minha candidatura nasce da convicção de que Odemira precisa de uma nova energia, de uma gestão que alie o rigor técnico a uma proximidade real com os cidadãos. Quero liderar uma câmara municipal transparente, dialogante e, acima de tudo, eficaz.
Não sou apenas uma candidata, sou uma cidadã de Odemira, com profissão, que não entra na política para procurar emprego, mas sim porque vive, sente e compreende as necessidades da nossa gente, desde a serra até ao mar.
Conheço os desafios que todos os odemirenses enfrentam diariamente, num território esquecido pelo poder central e local e é com um enorme sentido de responsabilidade, mas também de missão, que apresento este projeto.
Se for eleita quais são as primeiras medidas que quer ver concretizadas?
As maiores prioridades para o concelho são a habitação e as infraestruturas básicas. Não é admissível em pleno séc. XXI ainda existirem centenas de odemirenses sem água de rede publica e esgotos – é algo inconcebível e decorre diretamente da inércia e desconhecimento da realidade que caracteriza este executivo e o seu presidente.
Como é que tem decorrido o trabalho como eleita na assembleia municipal?
Foi uma experiência muito importante, porque no trabalho que desenvolvemos na assembleia municipal conseguimos perceber que podemos fazer a diferença para os odemirenses, ou pelo menos, lutar para fazer essa diferença.
Não obstante as diferenças substanciais existentes entre as várias forças políticas representadas, sente-se que a maioria dos deputados municipais está ali para poder dar o seu contributo para melhorar o concelho. Essa experiência de discussão de ideias e de projetos diferentes foi muito enriquecedora e espero poder repeti-la, agora ao nível da câmara municipal.
Defende “uma gestão que alie o rigor técnico a uma proximidade real com os cidadãos”. Como é que espera concretizar este objetivo?
Um partido que preside aos destinos de uma população há 28 anos tem vícios, tem preferências, tem tiques que por vezes se afastam dos ideias democráticos que defendemos. Queremos uma gestão meritosa da câmara municipal, com uma preocupação real sobre os problemas das pessoas, em que esteja presente sempre que somos eleitos para representar a população e defender os seus interesses. Os interesses de todos e não de apenas alguns.
Essa proximidade real passa por exemplo por saber identificar e reconhecer as falhas que ainda existem ao nível de infraestruturas básicas e dotar o mais rapidamente possível a população com essas infraestruturas.
Não se pode pensar em desenvolver apenas atividades no topo da pirâmide, quando as necessidades básicas da base da pirâmide não estão satisfeitas.
Diz que este é um “território esquecido pelo poder central e local”. Que críticas faz ao atual executivo?
Como já referi este executivo não conhece a realidade do concelho. Os projetos desenvolvidos têm na sua maioria um cariz urbano que não é compatível com a realidade local.
O partido no poder em Odemira há 28 anos, teve também a governar Portugal durante quase 10 anos – sentimos alguma diferença por isso ter acontecido? As acessibilidades são as mesmas, a rede de transportes é a mesma, a rede viária interna é a mesma. Perdeu-se uma década de oportunidade. Isto mostra que é claro que só há um caminho, que é a mudança, mudar quem esta aos comandos deste município.
Quais são as principais medidas da IL quanto à habitação?
A IL entende que a câmara municipal tem de ter intervenção, uma vez que o mercado por si não esta a funcionar. Continuamos com falta de oferta e muita procura, o que pressiona os preços para níveis que começam a ser incomportáveis.
É fundamental uma política de incentivo à construção, com a criação de loteamentos de baixo custo, promovendo junto dos jovens a autoconstrução com uma fiscalidade reduzida; promover as cooperativas de habitação, através dos mecanismos fiscais adequados para reduzir os custos da construção; promover parcerias para construção a custos controlados e para promoção de rendas acessíveis, podendo nesse processo envolver o património da camara que se encontra devoluto.
O aumento do número de migrantes no concelho é para vocês um problema?
A população migrante é uma necessidade do Pais e da região, uma vez que não existe mão de obra suficiente para satisfazer as necessidades do tecido empresarial. O que aconteceu nos últimos anos em Odemira e em muitas zonas do Pais é outra realidade – foi uma migração descontrolada, com demasiada facilidade na obtenção de nacionalidade portuguesa, o que contribuiu para que se formassem autênticos “hubs para parquear” migrantes que aguardavam apenas pela nacionalidade, para se poderem mudar para outros países.
Esse fenómeno, da responsabilidade do Governo PS e com a conivência do executivo local, que ainda em 2023 enaltecia o papel do governo de então na gestão da imigração, criou uma pressão enorme sobre um concelho que não estava preparado para acolher tanta gente em pouco tempo, esgotando a oferta de habitação existente, pressionado os preços da mesma e criando sentimentos de revolta e repulsa na população.
Conseguir fazer isto numa população como a odemirense, que sempre conseguiu assimilar as várias vagas de imigração que já vêm do final dos anos 80, demonstra uma enorme inabilidade e mesmo incompetência.
Na criminalidade quais são as vossas propostas?
A criminalidade subiu no concelho nos últimos anos, mas não nos parece que exista uma situação limite e de alarme. Entendemos que a medida de criar uma polícia municipal não é a mais correta, sendo que defendemos o reforço das equipas da GNR que já estão destacadas no território, por entendermos que esta força de segurança é a que reúne melhores condições para atuar no território.
Mas para alem do reforço de elementos, tem de existir um reforço de meios, quer de transporte, quer tecnológicos, pois não faz sentido ter elementos da GNR a perder horas com procedimentos administrativos que poderiam ser bastante mais aligeirados, com meios tecnológicos.
Há algo mais que queira acrescentar?
Gostaria de acrescentar que Odemira é um concelho eminentemente agrícola, com uma forte oferta turística e onde estas atividades se desenvolvem sobretudo no interior de um parque natural.
Entendemos que a agricultura intensiva tem de ter sustentabilidade ambiental, mas o seu peso económico e social no concelho é substancial, uma vez que o ecossistema agrícola não se limita às empresas de agricultura intensiva, mas também a todas as empresas que prestam serviços a essa agricultura e que vão desde as oficinas às lojas de rega, desde as casas de pneus aos serralheiros e demais microempresas do concelho.
É preciso ter presente que grande parte do emprego no setor privado do concelho esta direta ou indiretamente ligado a este ecossistema agrícola, que se falhar determinará um problema social gravíssimo no concelho, que culminará num novo êxodo rural e num retrocesso do qual dificilmente se recuperará.