Presidente da Câmara confirma recomendação técnica mas passa ao lado das anomalias graves apontadas
O edifício onde até aos primeiros dias deste ano funcionou a Divisão de Educação da Câmara Municipal do Montijo é para ir abaixo. Deve ser demolido. Esta é uma das duas medidas “imediatas” preconizadas pelos técnicos da autarquia no relatório da vistoria final realizada ao imóvel, ao qual O SETUBALENSE teve acesso.
Nuno Canta, presidente da Câmara, confirmou a recomendação técnica na reunião do executivo, na última quarta-feira, depois de ter sido questionado pelo vereador social-democrata João Afonso, porém contraiu-se na justificação apresentada.
“O edifício não está em colapso, mas os técnicos falam de alguma necessidade de escoramento. Retiram o que tinham falado no relatório preliminar [que apontava a existência de deficiências estruturais graves no imóvel]”, começou por responder o socialista, inflectindo logo depois o discurso. “O que nos é dito é que convém ser demolido. Nós já tínhamos pensado nisso. Íamos demolir o 3.° piso”, disse, adiantando: “Recomendaram que a solução mais adequada é a demolição, já que vai haver uma grande intervenção [para implementar a Loja do Cidadão], mas também porque a estrutura estética do edifício vai ser diferente [em termos de volumetria]”.
O que diz o relatório
Todavia, a recomendação dos técnicos foca, sobretudo, outros motivos nas conclusões. Desde logo não rebatendo a análise preliminar feita ao equipamento.
“… a comissão considera ser necessária a tomada das seguintes medidas imediatas: 1- a demolição total do edifício perante as anomalias muito graves que colocam em risco a segurança e saúde de pessoas, podendo motivar acidentes graves ou muito graves, incluindo danos materiais avultados e existe o risco de inoperacionalidade do edifício; 2- a implementação das medidas de escoramento vertical e horizontal já descritas no relatório preliminar.”
Além disso, “o custo das obras de uma reabilitação/beneficiação do edifício, tendo em conta as anomalias muito graves e novos requisitos funcionais [futura Loja do Cidadão, além das exigências funcionais de acordo com o estabelecido por lei], tem um valor superior em mais de 50% do custo da construção do edifício com a mesma área bruta do imóvel original”, pode ler-se ainda no documento.
O relatório apresenta também as causas das anomalias no edifício, tais como as intervenções de que foi alvo ao longo dos 65 anos que leva de existência e o mau uso que lhe foi dado.
“Além de todas as observações e descrição das anomalias apontadas no relatório preliminar e no presente relatório final, verifica-se que as principais causas resultam de vários defeitos ao nível do projecto, defeitos na execução das obras e defeitos de utilização.”
O documento foi elaborado após a realização de um total de 17 sondagens, executadas nos tectos falsos e pavimentos, entre 28 de Fevereiro e dia 3 deste mês.
Oposição arrasa Nuno Canta
Em declarações a O SETUBALENSE, os vereadores da oposição não poupam críticas ao edil socialista.
João Afonso considera que a recomendação para que o edifício seja demolido “vem confirmar e reforçar o que estava no primeiro relatório”. O edifício “tem graves problemas de segurança”. Mais: o autarca do PSD afirma mesmo que Nuno Canta faltou à verdade.
“O presidente da Câmara mentiu claramente, quando disse que a demolição está associada a questões da estética arquitectónica do edifício e Loja do Cidadão. Está associada é aos problemas estruturais graves que põem em causa pessoas e bens, tal como havia sido referenciado na primeira vistoria”, disparou.
Já o vereador eleito pela CDU, Carlos Jorge de Almeida, fala em desconforto.
“Tornou-se evidente, para quem seguiu com atenção o problema, que o presidente da Câmara e a vereadora da Educação, depois de surgir n’O SETUBALENSE o artigo ‘Toda a verdade sobre o edifício da Educação’, não estavam confortáveis”, observou.
“O presidente, perante linhas concretas do relatório [o primeiro], retirava conclusões contrárias. Era capaz de dizer aquilo que lá não estava”, lembrou o comunista. “Agora, outra vez, querendo tapar o sol com a peneira, vem com desculpas de ocasião. Desviou-se da verdade. O que lhe competia era pôr o edifício em condições, o que, no caso, parece ter de ser demoli-lo”, atirou, a concluir.
A primeira vistoria ao imóvel levou quase dois anos para ser efectuada após solicitações nesse sentido, acompanhadas de alertas para o estado em que o imóvel se encontrava. A Divisão de Educação acabou por ser transferida para outras instalações no Bairro do Saldanha já este ano. A realização da nova vistoria, com recurso a sondagens, recomenda agora a demolição imediata do edifício.