Social-democrata diz que se abateu ‘uma praga’ sobre o Montijo: “Temos a candidatura ‘Arca de Noé’; o candidato ‘cinzento’; e o candidato ‘fogaça’
Mais a frio, depois de ter renunciado à candidatura à Câmara Municipal do Montijo e, em simultâneo, à presidência da comissão política local do PSD, João Afonso diz não estar arrependido – apesar de vincar que estaria em boa posição para levar o partido laranja a uma conquista histórica no distrito de Setúbal – e arrasa os candidatos já anunciados à liderança do município.
“Não tenho grandes dúvidas de que a possibilidade de eu ganhar a Câmara Municipal seria bastante elevada, eram essas as indicações dos estudos de opinião. Mas não me arrependo, embora saiba que, em consequência dessa minha decisão, entreguei a Câmara Municipal a um conjunto de pessoas muito pouco recomendáveis”, afirma, em entrevista a O SETUBALENSE e à Rádio Popular FM.
O social-democrata debruça-se, de forma cáustica, sobre cada um dos cabeças-de-lista já conhecidos, a começar pela candidatura do movimento independente “Montijo com visão e coração”.
“Fernando Caria constituiu uma lista que é uma espécie de ‘Arca de Noé’, onde toda a bicharada para lá entra. O que une todas aquelas pessoas? É o Orçamento Municipal, meter a mão aos 70 milhões de euros. O que ali está é extremamente perigoso. Se entregarmos a Câmara àquela bicharada, o que vai acontecer na prática é a delapidação do património municipal”, considera, ao mesmo tempo que questiona as fontes de financiamento do movimento independente.
“De onde veio o dinheiro? Fernando Caria já gastou dezenas de milhares de euros em campanha. Quem está a subsidiar e porquê? Por que não o explica?”, desafia, antes de disparar: “Fernando Caria não tem obra feita. É profundamente preguiçoso. Nunca quis trabalhar. Nunca quis competências, quando as teve recentemente [na área da higiene urbana, na Junta de Montijo/Afonsoeiro] ‘borregou’. Não é capaz de pronunciar um pensamento. Só sabe dizer: ‘Sou do Montijo, amo o Montijo, viva o Montijo. Isto é muito pouco para ser presidente da Câmara.”
Um pouco menos corrosiva é a apreciação que faz ao candidato do PS, Ricardo Bernardes. “Acho que é uma pessoa honesta. Reconheço isso. Mas, tem uma característica que me preocupa: é um funcionário do partido. No conflito de interesses entre a comunidade e o PS, ficará sempre do lado do partido. É o típico homem cinzento do partido”, aponta, sem deixar de criticar o respaldo que o socialista encontra num ex-líder local do partido. “É bom não nos esquecermos que Ricardo Bernardes é apoiado por esse ‘grande coronel do Ceará’, que é o sr. José Bastos. Não tenho qualquer dúvida de que isto tem muito a ver com um conjunto de interesses da família Bastos/Canta. E os montijenses sabem disto.”
‘Uma coisa do outro mundo’
João Afonso tece também duras críticas à escolha de Luís Miguel Franco por parte da CDU. “Agora apresentou o candidato ‘fogaça’ [doce típico de Alcochete]. Se eu fosse candidato, teria o prazer de comer o candidato ‘fogaça’, em termos políticos. Vamos importar um ex-presidente da Câmara de Alcochete, um primo de Alcochete – como eles lá se tratam todos –, para presidir à Câmara do Montijo. Só nos faltava mesmo esta. É uma coisa do outro mundo”, atira.
Para o social-democrata, Luís Franco “é mais um que faz parte do aparelho do partido [PCP]”. “Sempre viveu em torno do partido e foi um medíocre presidente da Câmara de Alcochete”, avalia, antes de reforçar o ataque à opção da CDU. “Não tenho nada contra os candidatos pára-quedistas que circulam por aí, mas eu seria incapaz de ser candidato em Alcochete ou na Moita ou em Setúbal… Acho que nós temos de ser candidatos na nossa terra. Ser candidato à Câmara não é uma profissão imposta pelo partido. A CDU realmente chegou ao nível zero.”
“Isto parece uma praga que caiu sobre o Montijo. Temos o candidato da ‘Arca de Noé’, o candidato ‘cinzento’ e o candidato ‘fogaça’. Dá para fazer uma banda desenhada. É este tipo de indigência de candidaturas que nós temos no Montijo”, resume João Afonso, que, quanto ao PSD, prefere esperar para ver. “Quero ver quem vai o PSD apresentar. Se apresentar alguém com o mínimo de dignidade, faço conta de ajudar o partido na medida do possível. Não me vou envolver no processo, mas é preciso que apareça alguém com dignidade. Não passo um cheque em branco ao PSD”, conclui.
Futuro “Não serei mais candidato pelo PSD… posso candidatar-me como independente em 2029”
João Afonso reitera que vai exercer as funções de vereador até ao fim e que só depois decidirá o seu futuro político, o qual, garante, está longe de ter terminado no Montijo. Porém, não deverá passar pelo partido laranja.
“De futuro, não serei mais candidato pelo PSD”, afiança, ao mesmo tempo que admite a hipótese de vir a desvincular-se do partido para assumir uma nova candidatura à Câmara do Montijo em… 2029. “É uma possibilidade. Pode estar em cima da mesa a minha futura candidatura como independente. Não afasto a possibilidade de, daqui a quatro anos, conjuntamente com determinadas forças políticas e organizações, fazer e liderar uma lista de independentes”, assume.
A terminar, João Afonso deixa críticas ao PSD, que generaliza a todas as outras forças partidárias. “Os partidos estão habituados – não é só o PSD – a terem pessoas que sejam vassalos partidários. Comigo enganaram-se. Não sou vassalo partidário, porque tenho a minha vida profissional, ao contrário da maioria dos dirigentes partidários. Por isso é que tenho a liberdade de falar como falo”, observa, a finalizar.