Com apenas 14 anos, a jovem guarda-redes do Sporting já se afirma na turma das Quinas de Sub-17
Foi descoberta por acaso no intervalo de um jogo do Estrela Afonsoeirense por um observador do Sporting. Ia esfarrapando-se numa das balizas a evitar que os amigos gritassem golo, aproveitando ao máximo aquele momento antes do recomeço do encontro. Foi há cerca de três anos e mal sabia que estava a ensaiar os primeiros voos para o futuro.
Hoje, com 14 Primaveras cumpridas e já de leão ao peito, Catarina Potra é vista como uma das maiores promessas do futebol feminino português. É guarda-redes e o potencial é tanto que, depois de chamada à Selecção Nacional de Sub-15, queimou etapas e até passou a defender as redes da turma das Quinas em escalão superior: nas Sub-17.
A paixão pelo futebol, porém, vem de há muito. “Desde sempre”, defende a jovem montijense, que frequenta o 9.º ano na Escola Poeta Joaquim Serra, sem deixar de apontar uma explicação para os laços fortes criados com o desporto-rei.
“O meu pai é presidente de um clube perto da minha casa [Estrela F.C. Afonsoeirense] e todos os dias ia com os meus amigos – e ainda vou – para lá jogar. Estava sempre à baliza e eles faziam-me remates. Passava tardes inteiras a brincar. Acho que o gosto veio daí.”
E porquê a opção por estar entre os postes? “Porque ser guarda-redes é diferente. Exige mais trabalho, mais cabeça, muito mais mentalidade, mais esforço. Como gosto de trabalhar e sempre gostei de ajudar os outros, então poder fazer isso dentro do desporto que mais gosto é maravilhoso”, justifica.
O abrir das portas do reino de Alvalade marcou o início do trajecto futebolístico de Catarina e é classificado pela jovem como “o momento mais caricato” da sua ainda curta carreira.
“Estava a jogar com os meus amigos no campo do Estrela, ao pé de casa, no intervalo de um jogo que estava a decorrer e, por grande sorte, um senhor que trabalha no Sporting estava a observar alguns jogadores. E eu lá estava na baliza a defender e a atirar-me para o chão”, lembra, prosseguindo: “Esse senhor foi falar com o meu pai, que é o presidente do clube, sem saber que eu era filha dele. Perguntou quem eu era, onde jogava e disse que tinha muita qualidade.” A oportunidade surgiu assim, de forma inusitada para ser agarrada depois com as duas mãos. “Fui então fazer um treino ao Sporting, depois outro e acabei por ficar. E agora aqui estou eu.”
Agora… com seis internacionalizações no bolso – três pelas Sub-15 e outras tantas pelas Sub-17 –, numa altura em que acaba de cumprir mais um estágio pela Selecção na Cidade do Futebol, em Oeiras. Inesquecível, como aquela primeira vez em que o treinador leonino, logo após um jogo das verdes e brancas, lhe trouxe a boa nova.
“O mister chamou um grupo de jogadoras e disse que estávamos convocadas para o estágio da Seleção Nacional Sub-15. Foi muito emocionante, vieram-me muitas coisas à cabeça, foi incrível”, confessa, reforçando: “Não estava mesmo nada à espera, foi uma surpresa muito grande e muito boa.”
Cantar o Hino
Cada partida por Portugal, garante, desencadeia sempre um misto de sensações indescritíveis.
“Desde o entrar no campo, a fila, cantar o Hino… Cantar o Hino é uma coisa do outro mundo”, vinca. Quando se trata de representar a pátria “não há jogos especiais”, reconhece, até porque “Portugal é Portugal” e o orgulho em defender o escudo nacional é “enorme”. Todavia, entre a meia-dúzia de internacionalizações já somadas, destaca um momento.
“O que mais me marcou até agora foi mesmo o facto de, com 14 anos, ir estrear-me pela Seleção Nacional Sub-17 contra o Brasil. Quando terminou o jogo, emocionei-me bastante”, revela sobre o duelo amistoso de 18 de Fevereiro último, no Estádio Algarve, que terminou favorável às portuguesas por 3-2, depois de terem estado a perder por 0-2.
A jovem montijense não esconde a importância de ter merecido a confiança técnica para se mostrar em acção no escalão Sub-17. “Se representar a Selecção Nacional por si só já é um orgulho enorme, poder representá-la em escalões mais acima do meu é sinal de muito trabalho, muito esforço, muito suor, muita dedicação. É um querer também muito grande. Estou muito contente por estarem a apostar em mim e por verem a minha qualidade. Vou dar sempre o meu melhor”, atira, ao mesmo tempo que desvenda o sonho futebolístico que vai acalentando. “O meu objectivo, como o de qualquer jogadora, é chegar o mais alto possível: à Selecção A e também, se possível, chegar a um clube grande fora de Portugal. Quanto à forma como tem vindo a ser recebida entre o grupo de trabalho Sub-17, sobretudo pelas “mais velhinhas”, a dona das balizas portuguesas diz-se satisfeita. “Não há tratamento diferente. Integraram-me bem, sou bem tratada. Tratam-me por Potra”, avança, acrescentando a concluir que ainda não foi “baptizada” com qualquer alcunha.
Penáltis no radar da filha de um Campeão Paralímpico
A forma como os guarda-redes vivem os instantes que antecedem a marcação de um pontapé livre da marca dos 11 metros é sobejas vezes definida, por muitos daqueles que passaram pelas quatro linhas, com uma velha máxima: ‘a baliza torna-se demasiado grande para quem defende e muito pequena para quem marca’. Catarina Potra já defendeu alguns, mas não vai muito por aí. “Os penáltis exigem muita concentração, uma capacidade mental muito forte. Não é uma questão da baliza ser grande ou não, tem a ver com o facto de serem milésimos de segundo que podem fazer toda a diferença. Há mais o antes, o saber observar o adversário, os seus movimentos, o olhar para a bola”, considera a jovem que é filha do ex-atleta Campeão Paralímpico Gabriel Potra, que coleccionou títulos ao longo de uma carreira brilhante no atletismo. Catarina fala com a mesma força psicológica do pai. Recentemente, o trajecto cumprido no futebol valeu-lhe um voto de saudação do executivo camarário do Montijo.