Autoridade para as Condições do Trabalho esteve no quartel da associação
Uma bombeira voluntária do Montijo, grávida de sete meses, queixa-se de ter sido injustamente dispensada do serviço de atendimento da central pela direcção da associação. Aguardava por um contrato de trabalho que diz ter-lhe sido prometido, mas no passado dia 16 foi informada de que estava afastada das funções que vinha a desempenhar de forma remunerada. Na última sexta-feira, inspectoras da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) deslocaram-se ao quartel, para averiguarem o caso.
Márcia Ramalho, 26 anos, revela que fazia serviço de ambulância até ter ficado grávida, altura em que passou “a fazer atendimento na central”.
“Nunca tive contrato de trabalho. Estava na esperança que me fizessem, porque me foi prometido. Por isso mantive-me mais tempo [a desempenhar essas funções]. Estou grávida de 30 semanas e passei todo esse período na central. Desde Janeiro que tenho feito horas de serviço, o único mês em que fiz menos serviço foi Abril. Em Julho, por exemplo, folguei apenas seis dias”, conta. E reforça: “Fazia 12 horas de dois em dois dias. A partir de Julho folguei seis dias por mês, para não haver falhas na central. Quando havia falhas ficava a fazer 24 horas. Para eles agora, se calhar, não é nada, mas para mim, na altura, foi muito”, lembra, inconformada.
As promessas, confessa, geraram-lhe “muita” esperança. “O coordenador de serviço e um elemento do Conselho Fiscal prometeram-me contrato. O tempo foi passando até que falei com o presidente e o vice-presidente e expus a situação, ou faziam-me contrato ou não. O presidente disse-me para me manter, para me focar. Voltei a esperar. Mais tarde liguei-lhe e ele disse-me que iam avançar com o contrato, até que fui dispensada”, recorda. A esperança esfumou-se no dia 16. “Disseram-me que não era mais necessário ir, que estava dispensada e desejaram-me boa sorte. A razão que me deram foi o facto de ter faltado três vezes. Duas faltei por estar doente e uma por assuntos familiares, mas tenho justificações”, adianta.
A O SETUBALENSE, Jorge Lopes, presidente da direcção, apenas garante que a bombeira “foi sempre voluntária” e que “nunca prestou serviço de assalariada”. E escusa-se a avançar com mais explicações. “Não vou poder adiantar nada, porque está a correr um processo na ACT.”
Márcia Ramalho discorda, porém, da forma como a direcção classifica o seu trabalho nos últimos meses. “Então se sou voluntária, como é que me dispensam do serviço por faltas? E como é que um voluntário recebe 940 euros por mês?”, questiona.
A bombeira considera-se vítima de uma guerra interna entre direcção e comando e atira: “Temos um bom comando, podiam aproveitar o comando que há para levar a casa a algum lado. Em vez de o ajudarem, estão a tentar destruí-lo, o que é injusto. É vergonhoso o que se está a passar. Agora vou ter o meu bebé, quando nascer voltarei como voluntária”, conclui.
Jorge Lopes e as demissões “Só fica quem quer o bem da associação”
A última semana ficou marcada por três demissões nos órgãos sociais da associação. Depois das renúncias de dois directores, na última sexta-feira foi o presidente do Conselho Fiscal quem bateu com a porta. E Jorge Lopes é peremptório: “Relativamente aos dois elementos que se demitiram da direcção é muito simples — só fica quem quer o bem da associação. Relativamente ao presidente do Conselho Fiscal, nós não cedemos a pressões, que têm a ver com favores”.
As demissões na direcção, ocorridas na terça-feira passada, culminaram com agressões. Jorge Lopes diz que a situação não se registou em contexto de reunião, mas sim durante a formalização do acto de demissão de um dos dois elementos demissionários, perante o presidente da Mesa da Assembleia Geral. Ao mesmo tempo, discorda que tenham existido agressões entre directores e explica: “Um elemento demissionário da direcção agrediu outro director.”