Em “Setúbal e a Primeira Guerra Mundial”, o jovem historiador Diogo Ferreira mostra qual foi o impacto político, económico e social da I Guerra Mundial (1914-1918) em Setúbal, revelando novos dados importantes para compreender aquele período da 1ª República
A obra “Setúbal e a Primeira Guerra Mundial”, resultante da tese de mestrado em História Contemporânea defendida pelo setubalense Diogo Ferreira em 2015, foi lançada publicamente em livro, sábado à tarde no auditório da Escola de Hotelaria e Turismo, como um contributo para se compreender melhor o impacto político, social e económico que Setúbal sofreu durante a I Guerra Mundial (1914-1918), durante o período da 1ª República.
O livro, que vem “contribuir com estudos inéditos obtidos com base em arquivos e documentação que ainda não tinha sido consultada pelos historiadores”, resulta de um ano de investigação académica desenvolvida na Faculdade de Ciências Socias e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde Diogo Ferreira se encontra a tirar doutoramento em História Contemporânea e é historiador na respectiva unidade de investigação.
A economia agrícola da região, assente nos vinhos, laranjais e explorações de cortiça também foi severamente afectada, uma dimensão paralela ao sector industrial que Diogo Ferreira resume com especial enfoque na evolução da indústria conserveira. “As necessidades externas de Inglaterra e França para alimentarem as tropas nas trincheiras levaram a um boom na indústria conserveira, que cresceu de cerca de 40 para mais de 120 fábricas, mas ao contrário do que se pensava – que tinha havido um crescimento nas pequenas e médias fábricas e não na exportação – eu apresento a hipótese de que esse crescimento não se verificou na exportação porque a maior parte dela ia por Lisboa e não pelo Porto de Setúbal. É um contributo muito importante para se perceber a verdadeira dimensão do sector conserveiro setubalense no contexto nacional”, explicou o autor.
O impacto da I Guerra Mundial na vida social do dia-a-dia dos setubalenses é o último tópico analisado na obra. Diogo Ferreira lembra que “Setúbal era o terceiro maior concelho do país, depois de Lisboa e Porto, tendo 55 mil habitantes” e as farinhas e cereais, bem como outros alimentos, “não chegavam aos trabalhadores operários”, havendo relatos de fome e crises de subsistência. Um cenário agravado pelas investidas de diversas greves motivadas por uma “solidariedade operária que não se vê nos dias de hoje” e pela gripe pneumónica que assolou o país e matou 672 setubalenses entre Outubro e Dezembro de 1918, no cessar da I Guerra Mundial.
Na apresentação do livro, Maria Fernanda Rollo, docente orientadora da tese de mestrado de Diogo Ferreira e actual Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, considerou que a obra agora lançada conseguiu trazer “muitas novidades” para “uma leitura mais ampla e fundamentada daquilo que foi o impacto da I Guerra em Portugal e a posição relativa de Setúbal face a outros contextos geográficos”.
Esta é primeira obra a solo do jovem setubalense de 26 anos, que já publicou outras três em co-autoria e que desde a licenciatura em História, tirada em 2013, tem vindo a especializar-se no estudo da história de Setúbal e da região no contexto da I e II Guerras Mundiais. “É uma área de investigação científica que me permite contribuir muito e de forma inovadora”, justificou.
Diogo Ferreira, cuja paixão pela história de Setúbal advém do trabalho de muitos historiadores locais, espera com este livro preservar a memória do município, uma missão que no seu entender cabe também à Câmara Municipal de Setúbal, que custeou parte do livro. A edição é da Estuário e o design da DDLX – Design Comunicação Lisboa, representada no lançamento pelo editor José Teófilo Duarte. Presente esteve também Ricardo Oliveira, vereador da Educação da autarquia.
O livro – que tem na capa a reprodução de uma fotografia de Américo Ribeiro mostrando um comboio na Avenida Luísa Todi, em 1914 – será agora colocado à venda nas principais livrarias independentes da cidade. Contou com o apoio do Gabinete da Juventude e da Divisão de Cultura da câmara municipal, que em 2016 distinguiu Diogo Ferreira como um dos 14 jovens revelação “pelo seu contributo para a investigação na área da História Contemporânea”.