Candidata do PSD/CDS aponta soluções para os problemas estruturais do concelho, defendendo turismo responsável, reforço da Proteção Civil, investimentos em habitação e uma possível dessalinizadora
Depois de vários mandatos de governação comunista, a social-democrata Sónia dos Reis, atualmente deputada na Assembleia da República, assume a liderança da candidatura PSD/CDS-PP à presidência da Câmara Municipal. Natural do concelho, com mais de dez anos de experiência na Assembleia Municipal, a candidata garante que não abandona o Parlamento, mas responde ao “desafio de servir a sua terra” num momento em que, afirma, “chegou a hora de apostar numa candidatura forte, unida e determinada”.
Em entrevista a O SETUBALENSE, Sónia dos Reis traça as linhas centrais do seu programa, onde defende um modelo de desenvolvimento sustentável e seguro, que promova riqueza e emprego para a população local sem comprometer os recursos naturais, um turismo equilibrado, que evite a sobrecarga das infraestruturas e respeite o ordenamento do território, e uma gestão rigorosa dos Projetos de Interesse Nacional (PIN), como a mina da Lagoa Salgada, que, no seu entender, não reúne condições para avançar sem reformulação.
A candidata admite ainda medidas estruturantes, como a possibilidade de instalar uma dessalinizadora, face ao risco de escassez de água, e compromete-se a dar prioridade à habitação acessível, reservando frações para jovens, profissionais da saúde, professores e forças de segurança. Ao mesmo tempo, promete melhorar a mobilidade urbana, investir no setor agrícola, reforçar os bombeiros voluntários e estreitar a cooperação com o Governo, ultrapassando barreiras ideológicas em áreas essenciais como a educação.
Determinada em afirmar que “Grândola virá sempre primeiro”, Sónia dos Reis assegura que, caso seja eleita, quer liderar um concelho “onde viver seja um sonho tornado realidade”, conciliando o crescimento económico com a qualidade de vida da população.
Sendo deputada da Assembleia da República, o que a leva a trocar o parlamento por uma candidatura à autarquia?
Não se trata de trocar mas de sentir que chegou a hora de apostar numa candidatura forte, unida e determinada, à Presidência da Câmara de Grândola. Cada cargo tem a sua pertinência e eu respeito o voto de confiança dado pelos eleitores do distrito de Setúbal para que eu fosse eleita deputada. Contudo, neste final de ciclo da CDU e face ao atual estado a que chegou o nosso município, sinto que é hora de me propor a solucionar o que está menos bem no meu concelho.
O que aprendeu em Lisboa (no parlamento) que considera útil aplicar em Grândola?
Eu diria que foi mais a minha experiência política em Grândola que me ajudou no Parlamento a ser mais sensível aos problemas no nosso País, a desejar a proximidade com a população. Mas, obviamente que a experiência no Parlamento nos prepara para missão de tentar resolver os problemas estruturais do País. E, estar na equipa de deputados liderada por Teresa Morais tem sido extremamente gratificante, porque estamos constantemente no terreno, a visitar instituições, equipamentos públicos e privados, a escutar as populações e, isso é uma experiência que levo para o plano local.
Vê-se como política profissional ou como alguém que regressa “à terra” para servir a comunidade?
Vejo-me como alguém que desempenha um cargo político e que tem procurado, quer no Parlamento, quer na Assembleia Municipal de Grândola, defender os interesses das pessoas que em si votaram, seja no distrito, seja no concelho, respetivamente. Nunca deixei o meu concelho, porque tenho estado sempre ligada ao poder local, desde 2010, e mesmo quando trabalho diariamente no Parlamento, a defender o meu distrito e o meu País, nunca esqueço a minha terra.
Fala em “desenvolvimento sustentável e seguro”. Como é que traduz isso em medidas concretas para Grândola?
Desenvolvimento sustentável e seguro traduz-se em: gerar riqueza para o concelho (nomeadamente, com emprego para a população local), respeitar os recursos naturais e toda a legislação ambiental em vigor e contribuir com boas contrapartidas como habitação, criação de infraestruturas e a real intenção de investimento a médio-longo prazo. Portanto, estaremos atentos e defenderemos um modelo de desenvolvimento que assente nessas condições.
Há quem diga que o concelho tem vivido uma explosão turística desordenada. Partilha dessa visão? Que modelo de turismo defende?
Não apenas partilho como foi a bancada que eu integro na Assembleia Municipal que defendeu a suspensão parcial do PDM de Grândola, para fazer uma real análise do turismo efetivo e potencial, no nosso concelho. Portanto, defendo um turismo que respeite e tenha em conta os recursos naturais existentes e o seu impacto a curto, médio e longo prazo. O turismo é importante mas não pode desenvolver-se ao ponto de sobrecarregar infraestruturas, recursos naturais e o próprio ordenamento do território, além de ameaçar a saúde e o bem-estar públicos. A chave é o equilíbrio, um turismo benéfico em que as populações locais possam dele também tirar partido, sem se sentirem «a mais» nas suas próprias terras nem ameaçadas por esse «progresso».
Sobre os Projetos PIN (Projetos de Interesse Nacional): quais foram, no seu entender, os erros cometidos no passado e como os evitaria no futuro?
Dos diversos PIN atribuídos pelo PS, realçaria o Projeto Mineiro Lagoa Salgada, um PIN que de acordo com o parecer da APA, não reúne todas as condições de segurança para a saúde pública, pelo que deverá ser reformulado. Evitaria esse e outros PIN danosos para o nosso concelho, agindo a tempo, lutando desde a primeira hora para que não ganhassem força e relevância e defenderia o meu território porque, como indiquei na pergunta 4, o modelo de desenvolvimento que defendo deve obedecer aos pressupostos que indiquei.
Se tivesse de travar um grande investimento turístico para proteger o território, faria isso?
Se esse investimento infringisse a legislação ambiental, pressupusesse ameaças à saúde e ao bem-estar públicos e não contribuísse em rigorosamente nada para a economia local, esse não seria um investimento desejável, porque apenas prejudicaria o meu território, que eu deverei defender sempre.
Acha que Grândola deve ter um limite para novos empreendimentos turísticos?
Acho que não podemos chegar ao ponto a que chegou este Executivo, de ter de pedir camas a Odemira e a Santiago do Cacém porque houve claramente uma não-gestão das camas turísticas no concelho. O limite deve ser o bom senso e o cumprimento do PDM, assim como da legislação em vigor. E, acima de tudo um turismo que se conjugue com as características do nosso concelho e a capacidade que temos para acolher mais projetos turísticos.
Referiu a Mina da Lagoa Salgada e a pressão sobre a costa como bandeiras da sua ação política. O que pretende mudar se for presidente da Câmara?
Se for presidente da Câmara terei uma cooperação mais estreita com o Governo, entidades regionais e nacionais, com as entidades locais, e a população. Acima de tudo, estarei atenta a todas as intenções e projetos, que analisarei com cuidado, mas trabalharei em parceria com a comunidade e diferentes organismos, não deixando derrapar prazos nem deixar escapar oportunidades de fazer saber e afirmar, numa ótica de sensibilizar para riscos e fragilidades, as nossas posições junto de quem decide.
A escassez de água é um problema estrutural no Alentejo. Não descarta a construção de uma dessalinizadora em Grândola. Não será um projeto demasiado caro para uma autarquia?
É um investimento considerável, sim, mas deve ser equacionado face ao risco de o nosso aquífero não estar tão abundante em termos de disponibilidade. Seria um investimento avultado mas necessário, para fazer face aos consumos de água que se verificam na nossa região, com o aumento de turismo mas também de novas habitações, nomeadamente na serra de Grândola. E a água não pode faltar para a população local, a agricultura, o turismo…
Já discutiu esta ideia com o Governo ou empresas privadas?
Das reuniões que tenho com responsáveis de empreendimentos turísticos, tenho sido bem clara relativamente a esta intenção. A dessalinização não é um capricho e, estou segura de que, se as empresas privadas perceberem que é um investimento necessário, não quererão ficar de fora. Afinal, são também os seus investimentos que ficam em risco. Quanto ao Governo, e conhecendo a estratégia Água que Une e a sensibilidade da Senhora Ministra relativamente ao tema da Água (até porque já falámos diversas vezes sobre o tema), estou segura de que haverá total sensibilidade para essa solução, caso os resultados de uma auditoria exaustiva ao nosso aquífero se revelem muito preocupantes.
A habitação é transversal a todos os candidatos. No seu caso, que propostas diferenciam o PSD/CDS-PP?
Desde logo, aproveitar todas as oportunidades de construção de habitação, potenciadas pelo Governo, e que este Executivo nunca aproveitou. Depois, investir em terrenos em todas as freguesias, dando primazia às populações locais e reservando uma percentagem de frações aos descendentes que possam estar a estudar mas regressarão para junto das suas famílias. Finalmente, criaremos habitação destinada a professores, médicos e enfermeiros e profissionais das forças de segurança que, muitas vezes, deixam o nosso concelho, por falta de resposta.
Quanto à mobilidade, quais são os principais bloqueios que identifica e como pretende resolvê-los?
Este executivo apregoou um Plano de Mobilidade municipal que nunca aplicou. Portanto ficou tudo por fazer: eliminar obstáculos na via pública, promover a criação de ciclovias e requalificar o piso na via pública, propicia a quedas principalmente dos mais idosos, com a profusão de raízes e de pedras da calçada sobrelevadas. Não é um concelho inclusivo para cidadãos com mobilidade reduzida ou limitações visuais. E isso acontece em todo o concelho. Já para não falar na necessidade de requalificar caminhos e estradas municipais.
Que medidas concretas prevê implementar para apoiar o setor agrícola já no primeiro ano de mandato?
É essencial apoiar a produção local como o arroz, o vinho, o mel e a batata doce, entre outras. Defendo há muito a realização de encontros e fóruns destinados a esse efeito, com especialistas e eventos de promoção, no concelho ou em feiras do setor, no País ou noutros países. A parceria com a Associação de Agricultores é também fundamental para estar inteirada dos problemas do setor e poder, num diálogo aberto com o Governo, procurar soluções.
O que propõe para reforçar a Proteção Civil e apoiar os bombeiros voluntários de Grândola?
Proponho um reforço de verbas em protocolo, na atribuição de equipamentos mas também de construção de infraestruturas e apoio no parque automóvel, sempre sujeito a elevado desgaste.
Disse que quer ultrapassar “barreiras ideológicas” e trabalhar em conjunto com o Governo. Pode dar um exemplo de área onde isso é absolutamente essencial?
Todas as áreas devem ser trabalhadas em parceria mas dou como exemplo uma, a educação pois, se este executivo tivesse aproveitado o acordo setorial entre o Governo e a ANMP já poderíamos ter uma escola secundária e uma básica requalificadas. Mas não, teve quase três anos para submeter os projetos, que as verbas seriam garantidas pelo PRR e o BEI. Apenas em abril apresentou esse projeto à comunidade. Considero que essa incompreensível «falta de parceria» foi bastante danosa para a comunidade escolar, quando deveria ter sido essencial.
Caso não consiga maioria absoluta, estaria disponível para entendimentos com outras forças políticas locais?
Se não tiver maioria absoluta, terei de analisar o «puzzle político» que resultar das eleições. Não farei nunca um acordo que prejudique a minha terra e trabalharei com as condições que me forem dadas pelo eleitorado.
Qual considera ser a principal diferença entre a sua candidatura e as dos seus adversários?
Trabalho neste projeto há doze anos. Sou determinada, objetiva, nunca obedeci a interesses ou influências e agi sempre atempadamente, sem ter medo de afirmar as minhas posições e lutar por elas. Para mim, Grândola virá sempre primeiro.
Qual é o futuro que sonha para Grândola em 2030?
Espero um concelho onde as pessoas possam ter igualdade de oportunidades, aceder a boas infraestruturas educativas, de saúde, onde os mais idosos tenham bons cuidados e as famílias possam aqui encontrar e desenvolver o seu projeto de vida. As empresas possam desenvolver-se e fortalecer-se, o meio rural progredir e a costa encontrar o equilíbrio que lhe foi negado, durante anos.
Quero mesmo, um concelho, onde viver seja um sonho tornado realidade.