A artista que ouvia música erudita sobe ao palco este sábado, em Grândola
Cuca Roseta é a estrela fadista da Feira de Agosto em Grândola, com um concerto no sábado. Cuca vai apesentar o seu mais recente álbum, “Meu”, com temas escritos e compostos pela fadista que, ao contrário da maioria das histórias das ou dos fadistas, não cantava o fado em pequenina… antes pelo contrário.
Efectivamente (Isabel) “Cuca” Roseta ouvia em casa, maioritariamente música erudita, e de fado, nem um acorde. Aos 18 anos vai a uma casa de fados e… tudo mudou. Cantou, o fadista Carlos Zel ouviu-a e teceu-lhe os maiores elogios. Mas Cuca iniciar-se-ia no mundo da música, num outro registo musical: os Toranja de Tiago Bettencourt, estávamos no início do século. Foi uma experiência fascinante, intercalada com a Licenciatura em Psicologia.
Decide então participar num concurso de Fados no Porto e a partir de então percorreu o mundo lisboeta do Fado, e bebeu os seus ensinamentos. Encontra pelo caminho João Braga, que no primeiro encontro a convida a cantar com ele num programa da RTP. Daí ao mítico Clube de Fado foi um salto. Mário Pacheco, guitarrista e o homem do Clube, percebeu de imediato o talento que ali estava. E porque pelo Clube do Fado passavam todos as altas individualidades internacionais (da música e não só) que vinham a Lisboa, o prestigiado músico e produtor argentino Gustavo Santaolalla viu-a uma noite e disse que “tinha visto uma estrela”. Estava o destino mais que marcado…
E nasceria “Cuca Roseta”, o álbum de estreia, que incluiu clássicos como “Rua do Capelão”, Avé Maria Fadista” ou “Marcha de Santo António”. O sucesso foi imediato: disco de ouro, destaque na imprensa nacional e internacional e concertos em locais tão diferentes como Nova Iorque. Paris, Barcelona, Londres, Abu Dhabi, sem esquecer o EDP Cool Jazz em Cascais. E para terminar este primeiro ciclo de sucesso, um concerto no Tivoli em Lisboa, com Carlos do Carmo, Pedro Abrunhosa e André Sardet, como convidados especiais.
Chegada a 2012, foi tempo trabalhar no segundo álbum, que Cuca assume frontalmente, escrevendo e compondo a maioria dos temas, mas ainda assim estabelecendo parcerias com nomes… pouco fadistas, como Tó Zé Brito, André Sardet ou até mesmo o Chef Avilllez. “Raiz”. Nome do álbum, é um disco pleno de emoções, que seria apresentado em 2013, num local emotivo: o Mosteiro dos Jerónimos.
Seguem-se inúmeros concertos em Portugal, Brasil, Bélgica, Marrocos, Espanha, Estados Unidos e faz duetos nomes com Julio iglésias, Djavan e Silvia Perez Cruz. Cuca Roseta estava afirmada no mundo da música. Em 2015, convida Nelson Motta, importantíssimo produtor brasileiro para produzir o seu novo álbum, “Riu”, no qual, para além dos sues próprios temas, surgem parcerias com Byan Adams, Djavan, Jorge Drexler e Pedro Jóia. Era a junção de variados universos musicais., que resultaria em mais de 120 concertos na tour com o nome do álbum, com o final apoteótico nos Coliseus de Lisboa e Porto.
Segue-se o álbum “Luz”, em 2017, um álbum muito intimista, algo místico até, que conta com compositores como Pedro da Silva Martins, Carolina Deslandes, Jorge Fernando, Mário Pacheco e outros.
No ano seguinte, Cuca surpreende ao lançar um álbum com canções clássicas de Natal. Faz 3 concertos em 3 igrejas de Lisboa, Porto e Coimbra, com as receitas a reverterem para instituições de solidariedade.
E porque, quando o Fado é paixão, Amália tem sempre lugar. E no ano do centenário do nascimento da nossa maior fadista, Cuca gravou um álbum de tributo a Amália. Foi a meio de 2020, mesmo em plena pandemia e que, por esse motivo, não teve a dimensão e a divulgação que um projecto como este, merecia.
Ainda com a pandemia em pano de fundo. Trabalha arduamente no seu novo disco de originais: “Meu”, um disco totalmente da sua responsabilidade e que anda a apresentar pelo país, pelo mundo.
Grândola vai vê-la ao vivo no sábado e confirmar a dimensão maior de uma fadista, que é muito mais do que fadista, com incursões em universos musicais diferentes, mas que, em todos são visíveis a dimensão e a emoção de Cuca Roseta.
Opinião Musical