Iniciativa juntou pescadores, chefes, ambientalistas e consumidores à volta consumo sustentável de pescado
Diversificar a dieta em peixe, ter em conta os tamanhos mínimos legais do pescado e observar os rótulos de origem das espécies foram as principais recomendações deixadas pela World Wide Fund for Nature (WWF), organização não-governamental de ambiente convidada pela Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal (EHTS) a debater a importância do consumo sustentável de pescado, em Portugal.
A iniciativa partiu dos alunos da turma de Gestão Hoteleira da EHTS, desafiados a organizar uma acção que ligasse a hotelaria à ecologia, daí a associação à WWF e à temática do peixe. Para Maria João Carmo, directora da EHTS, “a sustentabilidade é um tema com interesse para qualquer consumidor e estando a escola a formar jovens na área da hotelaria e restauração, faz todo o sentido falar da conscencialização para um consumo responsável”, afirmou.
Nesse sentido, em 2015, a WWF criou o projecto “Fish Forward” presente em 11 países da União Europeia, incluindo Portugal. O objectivo da campanha é sensibilizar os consumidores para as consequências económicas e sociais da sobrepesca considerada a segunda maior ameaça para os oceanos, a seguir às alterações climáticas. De acordo com os responsáveis pelo projecto europeu, a solução para o problema da sobreexploração dos recursos e recuperação dos ecossistemas marinhos está no consumo responsável de peixe e marisco. “Os recursos do mar, tal como todos os outros não são ilimitados. É preciso tomar conta deles para que não desapareçam no futuro”, advertiu Carla Guerreiro, vereadora da Câmara de Setúbal, responsável pela Divisão das Actividades Económicas e Recursos Humanos, que deu início ao fórum de discussão.
Tomando como ponto de referência a escassez de recursos, o “Fish Forward” trabalha com três públicos-alvo: as autoridades, as empresas e os consumidores em geral. Com o intuito de responder às necessidades dos consumidores foi elaborado o guia WWF para consumo de pescado “Histórias por detrás do seu prato” pensado para incluir as espécies dos 11 países europeus, que integram o projecto. “A primeira parte contém recomendações gerais, como a origem do pescado e os tamanhos mínimos permitidos por lei e a segunda algumas receitas para as pessoas confeccionarem”, explicou Rita Sá, responsável pelas pescas da WWF.
Dado que o guia foi a primeira iniciativa com maior visibilidade da organização, a discussão da mesa redonda centrou-se na utilidade do manual para consumidores e profissionais do ramo. Por essa razão, o painel de oradores abrangeu as várias fileiras do sector desde os pescadores, passando pelos armadores, chefes, retalhistas, membros da doca comercial, entre outros. A moderação do debate ficou a cargo de Catarina Grilo, responsável pela Iniciativa Gulbenkian Oceanos (IGO), que visa a protecção, conservação e boa gestão dos ecossistemas marinhos.
Na óptica de Vasco Alves, chefe da ESHT e fundador de uma empresa de água de mar depurada para uso gastronómico, a publicação de guias, como o da WWF é útil para auxiliar os consumidores na hora da compra, diversificando as suas escolhas. “Comprar peixe é sempre muito difícil sobretudo em Setúbal, porque é tudo de elevada qualidade. Cá, as espécies mais famosas são o carapau, a sardinha e o choco, mas com esta iniciativa somos convidados a diversificar mais a oferta”.
Por seu turno, Ana Paula Queiroga, do departamento comercial e de marketing da Docapesca salientou a importância da diversificação e da sustentabilidade. “Temos de ser selectivos na escolha do pescado. As nossas campanhas de valorização da cavala e do carapau servem precisamente para associar a Docapesca ao consumo de espécies sustentáveis abundantes na nossa costa e nutricionalmente importantes”.
Já Rita Sá, da WWF reiterou a importância dos três factores a ter em conta na compra e consumo de peixe: a diversidade, o tamanho e a origem. “Escolher espécies mais abundantes para diminuir a pressão sobre as mais vulneráveis, assegurar que o pescado tem o tamanho legal e que as espécies se reproduzem e obter informação sobre o local, arte de pesca ou o método de produção usado, optando pelos métodos com menor impacto ambiental são essenciais para um consumo consciente”, acrescentou.
No entanto, a tónica da responsabilização da sobrepesca só foi colocada por Carlos Pratas, da Bivalmar que fez questão de distinguir o papel dos pescadores das grandes companhias comerciais. “Confundir os pescadores com os industriais da pesca não é justo. Eles não apanham tudo o que vem à rede e têm sido os primeiros a defender o consumo sustentável. O problema está nos grandes industriais protegidos pelo governo e pela UE, que continuam a fazer grandes arrastões nas nossas costas”, criticou.
Em representação do lado dos comerciantes, Henrique João Santos, presidente da Associação do Mercado do Livramento acrescentou que “o pescador só vai trazer cavala para vender se o consumidor comprar. Por isso, apesar das recomendações, o mercado terá de colocar sempre à disposição dos clientes outro tipo de peixes”.