“(…) os regimes nazi e comunista são responsáveis por massacres, pelo genocídio, por deportações, pela perda de vidas humanas e pela privação da liberdade no século XX numa escala nunca vista na História da Humanidade”
Extracto da Resolução do Parlamento Europeu, 2019
A guerra da Ucrânia arrasta-se indefinidamente. A Rússia tinha planeado assassinar Volodymyr Zelensky e resolver a questão em poucos dias.
Todavia, a guerra já dura há três penosos meses, sem que o conflito tenha fim à vista. Cada dia que passa, maiores serão as dificuldades do agressor russo e maior a determinação dos ucranianos.
A justificação para a invasão centra-se na suposta necessidade de “desnazificar” a Ucrânia, tendo este sido o principal argumento invocado por Vladimir Putin.
É um argumento infame e um embuste; sabemos que a principal e única motivação é, como sempre, a ganância por novos territórios.
Todavia, vale a pena reflectir e comparar o termo nazi, utilizado como pretexto.
Quais os motivos porque as palavras fascista, nazi e comunista não têm a mesma densidade? Mesmo perante o inigualável sofrimento humano que o Comunismo causou, porque é que o termo não gera tanta repulsa quanto o Fascismo e o Nazismo?
O Comunismo foi responsável pela morte de cerca 70 milhões de pessoas na China; na União Soviética cerca 20 milhões; Ucrânia, cerca sete milhões (o Holodomor); Cambodja e Coreia do Norte, cerca dois milhões cada, num total estimado de cerca 100 milhões de mortos.
Existem causas diversas para essa diferença de percepção.
Por um lado, os livros escolares de História colocam o acento tónico no Fascismo e do Nazismo, em detrimento do Comunismo.
Nos livros escolares portugueses e na Comunicação Social, o termo é deliberadamente ocultado.
Por outro, o Holocausto, uma das ocorrências mais baixas e desprezíveis da história da Humanidade, onde a prisão, a deportação e o assassínio dos judeus, homens, mulheres e crianças, foi realizada pelos nazis numa escala sem precedentes.
A singularidade do Holocausto e a enorme atenção que correctamente se lhe dá em termos históricos, contribuíram para que o Nazismo tivesse uma reputação pior que o Comunismo.
Um terceiro motivo tem a ver na forma como os diversos países flagelados por estas ditaduras reagiram, histórica, sociológica e politicamente.
Por um lado, a Alemanha. Com os Julgamentos de Nuremberga, em 1945/46, deu-se início, aí sim, à desnazificação. A República Federal Alemã (RFA), expôs as atrocidades do Nazismo, responsabilizou-se por elas e procurou redimir-se, relançando rapidamente a democracia com Konrad Adenauer, tornando-se um importante país europeu, democrático e pluralista, pioneiro da que viria a ser a União Europeia.
Quanto à República Democrática Alemã (RDA), passou do Nazismo directamente para o Comunismo.
Em 1990, aquando da reunificação alemã, as diferenças entre a RFA e a RDA em termos de democracia e prosperidade, eram abissais.
Na Itália, o Fascismo terminou em 1945, com a execução de Mussolini e o advento da República. No Japão terminou também em 1945.
Em Portugal terminou com o 25 de Abril, em 1974 e em Espanha com a morte de Franco, em 1975.
Todos estes países confrontaram as suas ditaduras. A Rússia não fez nada semelhante relativamente ao legado comunista. Pelo contrário, Lenine e Estaline ainda são largamente apreciados.
Relativamente a Estaline, ainda existe uma forte relutância relativamente aos seus inúmeros e hediondos crimes, confirmada por Putin que nega, por exemplo, o massacre de Katyn ocorrido em 1940, onde os soviéticos executaram cerca 22 mil oficiais polacos, ocultando provas e atribuindo as culpas do referido massacre aos nazis.
Actualmente a Rússia é um pária internacional, olhado com repulsa pela esmagadora maioria dos países, contando com o apoio da Bielorrússia, China, Coreia do Norte, Cuba, Eritreia, Nicarágua, Síria e Venezuela.
Com “amigos” deste calibre, estamos basicamente conversados.
Enquanto a Rússia não se confrontar com o seu passado trágico, continuando a branquear os crimes comunistas, tal constituirá um forte entrave à sua evolução para um Estado democrático, livre e pluralista.