Cabeça-de-lista pela coligação aponta habitação, saúde, limpeza e espaço público como principais áreas a intervir. Acusa a gestão socialista de não ter estratégias de “desenvolvimento”
Jéssica Pereira, 30 anos, é candidata à presidência da Câmara Municipal do Barreiro pela CDU. De olhos postos na habitação, saúde, limpeza do espaço público e requalificação de espaços urbanos, considera que a actual gestão do município “não tem servido os barreirenses”.
Militante do PCP, membro da Comissão Concelhia do Barreiro do PCP e eleita na Assembleia de Freguesia da União das Freguesias de Palhais e Coina defende a requalificação do parque escolar e a insistência da autarquia junto do Governo para a construção das pontes para o Seixal e Lisboa e continuação do Metro Sul do Tejo.
Em entrevista a O SETUBALENSE a cabeça-de-lista pela coligação aponta o trabalho deixado pela CDU – que deixou os comandos da câmara em 2017 – e refere falhas desta gestão.
Garante que a CDU tem características, entre as quais “trabalho, honestidade e competência”, para responder aos problemas “reais” sentidos pelos barreirenses.
Porque é que se candidata à presidência da Câmara Municipal do Barreiro?
Nasci, cresci e formei-me no Barreiro. Costumo dizer que sou filha e neta de trabalhadores que vieram para esta terra à procura de uma vida melhor. Foi por reconhecer as potencialidades do nosso concelho, mas também as suas carências, que comecei a participar nas lutas por melhores serviços públicos em 2018. Muito tem piorado nestes últimos anos.
Sou mãe de uma bebé que não pôde nascer no Hospital do Barreiro, nem em nenhum da região, por se encontrarem encerrados. O acesso à habitação é, hoje, um pesadelo. Faço parte de uma geração jovem e trabalhadora que está na rua em defesa do cumprimento destes direitos. Todos estes factores, a par com o processo colectivo de discussão dirigido pelo meu partido, levaram a que aceitasse encabeçar a lista à presidência da câmara municipal, por considerar que só a CDU tem o projecto capaz de concretizar um futuro de confiança para o Barreiro.
Se for eleita quais são as principais propostas que quer concretizar no concelho?
Estamos na fase de preparação, em conjunto com activistas, população e forças vivas do Barreiro, do compromisso eleitoral da CDU. Consideramos fundamental valorizar os trabalhadores da câmara municipal e das juntas de freguesia, melhorando as condições e o bem-estar nos locais de trabalho.
Queremos investir no serviço público municipal de recolha de lixo, permitindo não só uma melhor relação custo-benefício, maior flexibilidade e autonomia na definição da estratégia e na gestão da recolha, como a criação e manutenção de emprego municipal.
É necessário requalificar os equipamentos escolares, nomeadamente os do 1.º ciclo e jardins-de-infância, para que as nossas crianças tenham as melhores condições para aprender, brincar e crescer.
Em termos de mobilidade, a autarquia tem de exigir, junto do Poder Central, a construção urgente das pontes para o Seixal e para Lisboa, a continuação do Metro Sul do Tejo e, no que toca às suas competências, retomar, elaborar e executar os planos anuais de pavimentação.
A revitalização da Quinta do Braamcamp como parque de lazer municipal para todos e garantir que os 17 hectares de terrenos onde se encontram as instalações do Grupo Desportivo do Fabril servem o interesse público desportivo são também prioridades da CDU.
Que críticas faz à actual gestão da câmara municipal?
O Barreiro tem vindo a perder a sua voz e identidade, características que o distinguiam. São muitos os exemplos de como vivemos pior hoje no nosso concelho, apesar dos milhares de euros gastos em operações publicitárias.
Falta uma estratégia de desenvolvimento económico e social que beneficie a maioria que aqui vive e trabalha. Por outro lado, o executivo do PS renunciou ao seu papel reivindicativo durante os Governos PS, descartando uma das principais funções do Poder Local, a defesa dos interesses das populações. O abandono do prolongamento do Metro Sul do Tejo até ao Barreiro ou a ausência de reivindicação sobre o nosso hospital são alguns exemplos.
A maioria absoluta do PS não tem servido os barreirenses. Falta investimento público em equipamentos sociais. Existem escolas a precisar urgentemente de obras. Paralelamente, assistimos à cedência e/ou venda de terrenos públicos ao privado, sem mais-valias para a generalidade da população.
São poucas as ruas e vias que não estão degradadas e com buracos. É inevitável não enfatizar o estado caótico a que chegou a recolha de resíduos urbanos. Estas situações prejudicam a imagem do Barreiro e a qualidade de vida das populações.
É preciso resgatar a capacidade de pensar e construir o concelho, através do diálogo e da participação de todos aqueles que desejem viver melhor na nossa terra.
Na apresentação da sua candidatura fala-se na necessidade de “uma alternativa capaz de concretizar um projecto de efectivo desenvolvimento para o concelho”. Que alternativa é essa?
Uma alternativa de trabalho, honestidade e competência que responda aos reais problemas do concelho e das pessoas, colocando o interesse público à frente de lucros privados. Uma alternativa que não mascare a realidade, mas que a transforme respondendo às necessidades de quem cá vive, estuda e trabalha.
Aliás é essa a marca da CDU neste concelho. Essa marca inclui a construção da Polis e dos passadiços de Alburrica, obras fundamentais para o usufruto do rio por milhares de barreirenses. Inclui também a renovação total da frota dos TCB, com os 60 autocarros movidos a gás natural– que depois o PS, após as eleições de 2017, veio simplesmente cortar a fita e fazer a festa. Mas o trabalho foi nosso. Inclui a construção da piscina municipal do Lavradio, a requalificação dos mercados municipais e a construção de escolas primárias.
Foi com a CDU que se devolveu aos barreirenses os terrenos da Quimigal, da Bonfim e da Braamcamp entre muitos outros exemplos. É esse o património ímpar do qual temos orgulho quando olhamos para o futuro que queremos construir.
Recusam “mistificações e operações de charme que escondam os problemas com que o concelho se confronta”. Que problemas?
São os problemas reais sentidos pelos barreirenses. Por exemplo no acesso à habitação, quem consegue hoje comprar ou alugar casa no Barreiro? Mas também no acesso a cuidados de saúde, quer pelo número de utentes sem médico de família, como pelo encerramento de serviços fundamentais no Hospital do Barreiro.
Há dias uma mulher em trabalho de parto teve o seu filho nos corredores do hospital, porque a maternidade estava encerrada. É inaceitável. Onde estava o presidente quando encerraram estes serviços? Temos um executivo que cede terrenos ao Grupo CUF por 500 euros por mês, mas não toma posição firme em defesa do SNS. Agora, volta e meia, tenta fazer voz grossa porque o governo é PSD/CDS. Mas, depois de tantos anos calado quando o governo era PS, é uma voz com pouco crédito.
Ao mesmo tempo que estes problemas continuam sem resposta, a CMB opta por entregar anualmente dois milhões de euros a uma empresa para a recolha de lixo, sem que isso se concretize num concelho mais limpo.
Faltam investimentos importantes que, sendo responsabilidade do Governo, devem encontrar no Poder Local uma voz reivindicativa. Referimos, por exemplo, a urgência de um maior investimento na rede de transportes colectivos urbanos, fluvial e ferroviária. O Barreiro está a poucos minutos de Lisboa, mas a sua população perde, diariamente, duas a três horas em deslocações – tempo que pode ser dedicado à vida pessoal e familiar. Não se vive melhor no Barreiro e essa realidade é por demais evidente.
Sendo membro da AF da União das Freguesias de Palhais e Coina como é que tem decorrido o trabalho da CDU nesta freguesia?
O trabalho dos eleitos nos diferentes órgãos autárquicos tem-se pautado pela defesa dos interesses das populações. É inegável a presença da CDU nas acções de luta por mais e melhor SNS, pela concretização de obras fundamentais e pelo direito à habitação, por exemplo. Em todas as acções e sessões procuramos levar à discussão as questões prementes, mantendo a ligação aos problemas concretos, como a necessidade de reabrir os Centros de Saúde de Coina e do Alto do Seixalinho.
Alertamos para a falta de obras nas escolas de Palhais e de Coina ou de questões que impactam o dia-a-dia das populações, como a luta pela reinstalação do multibanco do Mercado Municipal do Lavradio ou a manutenção do espaço público. A diferente correlação de forças não arredou a CDU do contacto com a população, procurando responder aos seus anseios. Tem sido esse o trabalho que desenvolvemos em todas as freguesias e do qual nos devemos orgulhar.
No que diz respeito à habitação no Barreiro, quais são as propostas que defende?
A CDU conhece as dificuldades que os barreirenses enfrentam quanto ao preço das habitações. Consideramos que cabe também à autarquia promover uma política, com o Poder Central, de construção de habitação pública a custos controlados. Os projectos de renda acessível estão longe de resolver os problemas do acesso à habitação.
Sabemos que estes problemas vão além do concelho e que cabe ao governo o papel decisivo. Mas a câmara municipal tem um papel muito importante, o de não favorecer a especulação imobiliária, travando a pretensão de tornar o Barreiro num espaço onde muito poucos têm o direito de viver.
A criminalidade é para vocês um motivo de preocupação?
A CDU reconhece a necessidade de um maior investimento em meios e no reforço do efectivo. Também aqui há uma marca CDU, ao entender a importância da valorização da PSP, da GNR e, também, dos Bombeiros e demais agentes da Protecção Civil.
Precisamos de forças que actuem na prevenção, na sensibilização e não de forma apenas reactiva. O policiamento de proximidade tem sido degradado pelo encerramento das esquadras da Quinta da Lomba e do Lavradio.
Não desvalorizamos as particularidades que exigem atenção, mas não embarcamos em sensacionalismos de que tudo está mal, ou que a criminalidade disparou quando os números mostram o contrário, procurando bodes expiatórios sem apontar os reais problemas que enfrentamos.
Nas acções de rua com a população quais têm sido as principais preocupações dos cidadãos? Como é que reagem à sua candidatura?
O que nos chega da rua é que há um grande descontentamento com uma gestão distante e desligada da realidade do concelho. Isso torna-se evidente, por exemplo, quando contactamos com os comerciantes da Rua Miguel Bombarda que nos transmitiram a sua preocupação com a diminuição brutal de vendas, sem que tenham sido envolvidos na construção de uma solução para o encerramento dessa rua para obras. Foram avisados uns dias antes do fecho da rua. É também palpável nas conversas com os trabalhadores da autarquia, pela degradação das suas condições de trabalho e os atropelos à legislação laboral. O desinvestimento numa gestão participada e em questões estruturantes para a vida dos barreirenses é a herança deste executivo PS.
Já a reacção à candidatura da CDU tem sido muito positiva. Sentimos confiança e ânimo. Nas conversas feitas, a população reconhece a falta que faz ao Barreiro o projecto de trabalho, honestidade e competência de que a CDU é portadora.