Flávio Oliveira: “Não é tempo da esquerda se apresentar dividida. Temos ideias inovadoras e participativas”

Flávio Oliveira: “Não é tempo da esquerda se apresentar dividida. Temos ideias inovadoras e participativas”

Flávio Oliveira: “Não é tempo da esquerda se apresentar dividida. Temos ideias inovadoras e participativas”

Habitação, mobilidade e ambiente são três das áreas prioritárias para a coligação que concorre junta pela primeira vez

Flávio Oliveira, 35 anos, é o candidato da coligação Bloco de Esquerda/Livre à presidência da Câmara do Barreiro nas eleições autárquicas. Esta é a primeira vez que os partidos concorrem coligados.

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O dirigente do núcleo Distrital de Setúbal do Livre mostra-se preocupado com três áreas do concelho: habitação, mobilidade e ambiente. Ao mesmo tempo, entende que é necessário fazer mais investimento nas freguesias de Santo António da Charneca e Palhais e Coina.

Criar um corredor verde desde a Mata da Machada até à Quinta Braamcamp, melhorar a gestão de resíduos e reforçar o Plano Municipal de Habitação são algumas das medidas que defendem.

Em entrevista a O SETUBALENSE o cabeça de lista refere que, conjuntamente, os dois partidos têm ideias e propostas para melhorar o Barreiro.

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Por que razão se candidata à presidência do município do Barreiro?

Para transformar o Barreiro numa cidade capaz de responder aos desafios desta década.

Num período em que os jovens não conseguem comprar casa, onde as desigualdades sociais aumentam, onde a discriminação é evidente, onde o peso das alterações climáticas já se faz sentir, em que a tecnologia está cada vez mais presente nas nossas vidas, a coligação Por Uma Esquerda Livre apresenta-se aos barreirenses com propostas para combater todos estes desafios.

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Trazemos mais cidadania para todos os que vivem e trabalham no Barreiro, desde o imigrante recém-chegado ao residente sénior, ou do casal jovem aos avós da nossa terra. Porque um presidente não pode estar só presente nas redes sociais. Tem de também estar presente na vida diária dos cidadãos, ouvi-los e convidá-los a contribuir e participar nas políticas da nossa cidade.

Se for eleito quais são as principais medidas que pretende concretizar?

A nossa candidatura assenta em três pilares: habitação, mobilidade e ambiente.

Sobre a mobilidade, consideramos positivo que o atual executivo tenha conseguido adquirir mais autocarros para o Barreiro, pois há certas freguesias, sobretudo as mais periféricas, como Coina e Palhais, onde os transportes públicos ainda não chegam, ou chegam com uma frequência insuficiente para as necessidades da população. Esperamos que esta nova frota traga também um acesso gratuito para cidadãos desempregados ou com mais de 65 anos para que não se inibam de passear pelo município onde decidiram habitar.

Para complementar a mobilidade sustentável, faltam mais ciclovias pelo Barreiro. Hoje temos mais vias para assegurar o transporte por bicicleta, mas ainda assim são insuficientes para chegar a todo o lado. Continua-se a dar prioridade ao automóvel no Barreiro, o que prejudica não só a mobilidade suave como também a segurança de quem a usa. Precisamos de mais bicicletas a circular e menos carros estacionados em cima do passeio.

Já sobre o ambiente, temos a Quinta Braamcamp que continua por reabilitar enquanto espaço de lazer tanto cultural como ambiental, talvez porque o atual executivo ainda não tenha desistido da ideia de converter este espaço em mais um empreendimento imobiliário.

O meu objeto pessoal de desejo político é estabelecer um corredor verde desde a Mata da Machada e o Sapal de Coina até à fábrica da CUF, atravessando a Pólis, o Terminal Fluvial e a Quinta Braamcamp.

No fundo queremos criar um coberto vegetal diversificado que consome menos água e serve de refúgio para a biodiversidade e contra as ondas de calor, e replicar este modelo nos restantes espaços verdes do município. O Rio Tejo é o pulmão do Barreiro, e não devemos perder a nossa ligação com a natureza a ele associada.

Que críticas faz à atual gestão da autarquia?

Desde que o PS ficou com a maioria absoluta em 2021 que tem havido uma maior desconexão por parte da autarquia com as necessidades dos barreirenses. Talvez o exemplo mais gritante seja a gestão de resíduos.  A equipa de limpeza está no limite dos meios técnicos capazes de recolher o lixo, sobretudo os monos. A privatização da Amarsul não trouxe qualquer melhoria ao serviço, antes pelo contrário. Continuamos a não ter um plano autárquico abrangente para reaproveitar os resíduos orgânicos. As queixas amontoam-se mas o executivo pouco ou nada tem feito para resolver o problema.

Faz falta uma aposta municipal mais ousada na sustentabilidade dos resíduos, a começar na Redução de plásticos e embalagens descartáveis, passando pela Reutilização dos resíduos para outros fins, e terminando na Reciclagem quando o reaproveitamento não for conseguido.

Outros municípios na Europa – vejam o exemplo de Capannori, na Itália – conseguiram reduzir a produção de resíduos em mais de 50% após abordarem uma estratégia de Desperdício Zero, e no Barreiro vejo um grande potencial para sermos igualmente ambiciosos.

Também a democracia participativa levou um rombo. O orçamento participativo fechou a porta durante a pandemia e nunca mais regressou. As pessoas deixaram de ter oportunidades para se envolverem nos planos de obras, servindo as reuniões camarárias como meros lugares de troca de informação, em vez de abrir a porta para um envolvimento sério dos cidadãos. É preciso trazer esta humildade de volta e permitir aos cidadãos e às associações envolverem-se mais proximamente com o município.

Por que razão decidiram avançar com uma candidatura coligada – BE e Livre – às eleições?

Porque não é tempo da esquerda se apresentar dividida nestas eleições. Quer o Bloco de Esquerda quer o Livre têm muitas ideias em comum para o município do Barreiro, ideias inovadoras e participativas.

A experiência autárquica do BE e as ideias inovadoras e construtivas do Livre complementam-se, trazendo uma frente de esquerda progressista capaz de enfrentar os desafios que se avizinham. Juntos somos mais que a soma das partes e conseguimos eleger mais representantes capazes de trazer estas ideias para a frente do debate autárquico.

O slogan da vossa candidatura é “Por uma Esquerda Livre”, o que é que isto significa?

A resposta mais simples é que o nome representa a junção dos dois partidos coligados. Mas isso seria uma resposta aborrecida.

A resposta mais politicamente interessante é que queremos mostrar ao Barreiro, uma terra que sempre foi politicamente à esquerda, que é possível a esquerda unir-se com propostas comuns que avancem o Barreiro para uma cidade mais moderna e mais justa, que reconhece as necessidades capazes de responder aos desafios desta década, como é o caso das alterações climáticas, das desigualdades sociais e da transição digital.

No fundo, estamos a apresentar uma frente de esquerda inovadora, progressista, livre dos vícios políticos a que nos habituámos, e livre do passado, para trazer aos barreirenses mais liberdade para fazerem as suas escolhas, mais liberdade para participarem no debate sobre como queremos transformar a nossa cidade no Barreiro 2030.

Quais são as principais áreas em que consideram que é necessária uma maior intervenção?

Se falarmos de áreas físicas, as que precisam de maior intervenção são as freguesias periféricas, nomeadamente Santo António da Charneca, Palhais e Coina. 50 anos depois do 25 de Abril e estas freguesias continuam mal servidas a nível de transportes públicos, isoladas do resto do Barreiro. O orçamento é parco e o desenvolvimento é escasso. Foram construídos menos de 10 novos edifícios desde 2021 em Palhais e Coina. A rotunda de Santo António está na gaveta desde 2023. É preciso mudar, é preciso modernizar estas freguesias.

Relativamente a outras áreas, a cultura e o associativismo, dois dos pilares mais diagnosticantes do município, têm sofrido alguma negligência em anos recentes. O cheque-cultura não tem sido suficiente para atrair os cidadãos a inscreverem-se nos espetáculos culturais. A fraca divulgação no website da câmara não ajuda. São precisos mais incentivos, a começar por uma divulgação mais ativa e atualizada dos espetáculos.

Quanto ao associativismo, é preciso dar espaços mais adequados às associações que cá residem para que tenham condições para executar a sua atividade.

O Barreiro operou desde a sua génese num princípio de entreajuda e colaboração entre os diferentes cidadãos, muito graças ao trabalho das cooperativas, associações e moradores dos bairros. Não só precisamos de recuperar essa prática, como também dar mais voz a esses cidadãos para contribuírem ativamente para as políticas locais. Precisamos de um Barreiro mais partilhado.

Quais são as vossas propostas no que diz respeito à habitação?

Para a habitação, temos essencialmente três propostas para aumentar a acessibilidade.

Primeiro, transformar os espaços vazios e os edifícios devolutos em habitação a custos controlados para a população, ou então em espaços sociais para revitalizar a cidade.

Segundo, reforçar o Plano Municipal de Habitação com mais oferta de habitação pública, oferecendo através de concurso fogos com rendas verdadeiramente acessíveis à população com baixos rendimentos e/ou à população jovem que queira residir no município. Falta também concretizar na totalidade a Estratégia Local de Habitação para a Quinta da Amoreira e a Quinta da Mina.

Terceiro, oferecer apoio municipal financeiro e social para cooperativas de habitação que queiram aumentar a oferta da habitação no município a preços acessíveis.

Com estas medidas é possível revitalizar o mercado habitacional do Barreiro aumentando a oferta, reduzindo os custos e, consequentemente, as desigualdades sociais.

Já sobre a criminalidade, quais são as vossas propostas?

Muito foco é dado à criminalidade ativa sobretudo graças ao crescente sensacionalismo à volta do tema quer pela Imprensa quer pelos partidos de direita. Salientamos que o número de crimes registados, de uma forma geral, manteve-se ou diminuiu no Barreiro desde 2020, mostrando o trabalho exemplar que as forças policiais têm feito. Estamos a falar de dados oficiais da justiça, e não do número de capas dos jornais ou de comentários nas redes sociais.

Menos foco é dado à prevenção da criminalidade, que começa por uma abordagem de proximidade feita pelas forças de segurança junto da população e sobretudo das escolas. A melhor forma de combater o crime é evitar que este aconteça, e isso passa por construir uma comunidade segura, de proximidade e confiança entre os vizinhos, com o apoio e a proteção das patrulhas de rua, e não de criar políticas divisionistas que só acentuam as desigualdades sociais.

O que esta coligação propõe é reforçar a coesão social dotando as forças de segurança com os meios necessários para forjar uma relação de confiança com as comunidades. Queremos criar canais de alerta mais digitais e menos burocráticos que permitam uma intervenção preventiva mais célere, e também dar oportunidades de formar as comunidades para estarem atentas a situações de risco e usarem esses canais.

Nos contactos que têm feito junto da população o que é que os cidadãos vos transmitem face à vossa candidatura?

Sem dúvida que a maior surpresa é a própria coligação. Somos a coligação mais recente a candidatar-se ao Barreiro em mais de 20 anos. Conseguimos mostrar que é possível os partidos unirem-se para trazer mais justiça social e ambiental a um Barreiro partilhado. Muitos barreirenses têm-nos contactado mostrando-se surpreendidos e entusiasmados com esta candidatura.

Estamos num período em que muitos cidadãos estão descontentes com os vícios partidários, que têm resultado numa má gestão do país, e o Barreiro não foi uma exceção neste mandato.

Muitos olham para esta coligação e para as nossas propostas e a nossa postura como uma alternativa inovadora de fazer política. Esperamos estar à altura durante a campanha eleitoral.

Há algo mais que queira acrescentar?

Se os barreirenses quiserem uma alternativa política de confiança, progressista, inovadora, que trará de volta aquela sensação de comunidade local que se tem perdido, sabem onde marcar a cruz no dia 12 de outubro.

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