Rui Braga explicou que a taxa dos direitos de passagem cobrada à Setgás é a mesma desde 2014
A Câmara do Barreiro considera ilegal e inconstitucional a taxa cobrada aos munícipes pela distribuidora de gás no concelho, entendendo que a empresa não deve reflectir na factura dos clientes a Taxa de Ocupação do Subsolo (TOS).
Dados da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos citados num artigo da revista Deco Proteste revelam que o município do Barreiro, é, em Janeiro de 2024, o que regista a TOS mais elevada no País.
“Para um cenário de consumo mensal de 200 kWh (equivalente a 17 m3/mês), à factura mensal dos consumidores acrescem 10,64 euros. Muito acima dos valores de 1,14 euros praticados no concelho vizinho de Palmela, ou de 2,77 euros no concelho do Seixal, na mesma região”, refere a associação de defesa do consumidor.
Com este agravamento na TOS, segundo a Deco, o município do Barreiro ultrapassou o valor praticado no Cartaxo, que era, em 2023, o município com a taxa de ocupação do subsolo mais elevada.
Mas, em 2024, a TOS do Cartaxo desceu de 7,54 euros para 5,18 euros mensais, a segunda taxa mais cara do país.
Em declarações à agência Lusa, o vice-presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Rui Braga, explicou que a taxa dos direitos de passagem cobrada à Setgás é a mesma desde 2014, tendo havido apenas uma actualização dos metros lineares.
A empresa, adiantou Rui Braga, fez reflectir na factura dos munícipes essa actualização, uma decisão que a autarquia do Barreiro classifica como inaceitável.
“Esta taxa é cobrada sobre os metros lineares que existem no Barreiro e, fruto da actualização dos tubos que estão por baixo do chão, houve uma actualização dos metros lineares e a empresa reflectiu isto nos munícipes”, disse.
Rui Braga disse ainda que a Câmara Municipal do Barreiro está a preparar uma carta de protesto dirigida à empresa, uma vez que este aumento contraria um acórdão do Supremo Tribunal Administrativo.
“O Barreiro está a crescer, há mais casas em construção, e houve uma actualização destes metros que é a fórmula pela qual a câmara faz cobrar à empresa que faz um serviço que lhe gera lucros. É nosso entendimento que é inconstitucional e ilegal que se reflicta esta taxa nos munícipes”, frisou.
Actualmente, no mercado regulado, a factura mensal para um cenário de consumo de 200 kWh por mês é de 20,61 euros e a este valor acresce ainda a TOS cobrada por alguns municípios.
De acordo com a Deco, há municípios, como Figueira da Foz e Barcelos, que actualmente não cobram taxa de ocupação do subsolo.
A TOS foi criada em 2006 e inicialmente cobrada às distribuidoras de gás natural pela utilização e aproveitamento de bens do domínio público e privado municipal, como é o caso das redes de gás no subsolo.
Desde 2008 que as distribuidoras de gás foram autorizadas a transferir esse custo para os consumidores, através da factura de gás natural, mas em 2023 o Supremo Tribunal Administrativo considerou que a cobrança da taxa de ocupação do subsolo (TOS) é ilegal.
Em causa está uma norma do Orçamento do Estado de 2017 que proibia os fornecedores deste serviço de cobrarem esta taxa aos consumidores, mas segundo a Deco, oito anos depois, a medida continua por aplicar e a taxa continua a ser cobrada.
A Deco adianta que continua sem ser possível reflectir as decisões do Supremo Tribunal Administrativo na factura dos consumidores e que está também por apurar de que forma poderão os consumidores vir a ser compensados pelos valores indevidamente cobrados.
A agência Lusa questionou a empresa Setgás sobre a taxa cobrada aos munícipes do Barreiro, mas até ao momento não obteve resposta.