Comissão de Utentes não aceita que IP coloque responsabilidade dos acidentes nas populações e autarquias
Desde o último atropelamento ferroviário ocorrido entre as estações da Baixa da Banheira e Alhos Vedros, que vitimou uma mulher de 47 anos, no dia 15 de Junho, utentes que viajam de comboio pela Linha do Sado têm demonstrado preocupação com aquilo que consideram ser, “um desrespeito” por parte das populações, que atravessam a linha a pé e evitam as passagens aéreas. No entanto, a Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul (CUTS) aponta que a Infraestruturas de Portugal (IP) também é responsável por “manter a sinalética adequada nas estações e colocar barreiras no acesso à linha, se verificar que a segurança está em causa” e qualquer palavra em contrário “é igual a sacudir água do capote sobre as suas responsabilidades de manutenção da segurança, nas estações e na linha ferroviária”.
Mas, em resposta a estes incidentes, a IP considera que as autarquias também devem assumir um papel proactivo na formação cívica dos utentes.
Na manhã da passada terça-feira, enquanto aguardava pelo comboio na estação de Baixa da Banheira, Antónia Silva comentou a O SETUBALENSE que “quase todos dias” observa “várias pessoas a atravessarem a linha a pé, não raras vezes quando o comboio já está prestes a entrar na plataforma”.
Um “grave descuido com a segurança pessoal de cada um”, comenta também José Oliveira, reformado que reside nas imediações desta estação, no entanto, sem esquecer que “as avarias constantes nos elevadores, devido às vandalizações da estação, também não ajudam a outras escolhas”. Assim como “a vigilância deveria ser mais frequente, por parte de uma empresa de segurança”.
Na estação do Barreiro A, em pleno centro da cidade, os actos de vandalismo também são “constantes e bem visíveis” e as reparações “tardam a chegar, assim como a limpeza e desinfecção do espaço”, aponta Luísa Alves, num dia que considera “estranho” e de “excepção” por ver alguns funcionários ao serviço da Infraestruturas de Portugal a repararem luminárias na escadaria da passagem aérea e a desinfectarem a máquina de venda de títulos.
“Espero que não se esqueçam do vidro em falta, há anos, logo quando chegamos ao cimo da escada, junto ao elevador. E que apenas tem uma rede a impedir que uma criança por ali passe”, recorda.
Nas Câmaras da Moita e Barreiro a firmação é unânime, com “disponibilidade para o diálogo com a Infraestruturas de Portugal”, mas reconhecem “deve ser responsável pelas situações”.
A Câmara da Moita, que tem no seu território as estações de Baixa da Banheira, Alhos Vedros e Penteado, considera “essencial” a manutenção dos espaços e a “criação de condições de segurança na Linha do Sado”. Porém, alerta que estas acções “não são competências da autarquia”, deixando, no entanto, a porta aberta para “dialogar e encontrar soluções em conjunto que garantam a segurança dos utentes”.
Mas, no Barreiro, Rui Braga, vereador responsável pela Divisão de Gestão, Reabilitação, Revitalização Urbana afirma que a autarquia “tem colocado como prioridade resolver todas as questões relacionadas com a segurança dos utentes, nas estações ferroviárias que se encontram dentro do território do concelho e, por isso, tem avançado com a resolução de “pontos negros de mobilidade na cidade através de uma comissão criada ara esse efeito”, apesar de manter o diálogo com a IP sempre que necessário.
IP quer autarquias com papel activo na formação cívica dos utentes
Em resposta a O SETUBALENSE sobre as questões levantadas pelos utentes a IP recorda que após a intervenção de modernização, realizada entre 2004 e 2009, entre Setúbal e o Barreiro foram “suprimidas todas as passagens de nível (PN) existentes e atravessamentos de nível nas estações (ATV)”, tendo sido implementadas “soluções desniveladas”, neste caso várias passagens aéreas, “que à data foram devidamente discutidas e acordadas com os municípios”.
No entanto, a empresa tem conhecimento de que “apesar das soluções implementadas, verifica-se que os passageiros e munícipes da zona envolvente à Linha [do Sado] são muito indisciplinados e fazem tresspassing na via férrea apesar da proibição, vandalizando as vedações que a IP coloca ou repara”.
A par desta consideração a empresa aponta ainda que “a mudança dos comportamentos só é possível com a actuação das Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia junto das populações, estando a IP sempre disponível para colaborar”, sendo determinante “quebrar hábitos e refazer os circuitos de mobilidade dos peões”.
Dois atropelamentos ocorreram no espaço de um mês
No dia 9 de Maio uma jovem de 15 anos foi vítima de atropelamento ferroviário na estação Barreiro A e pouco mais de um mês depois, uma mulher de 47 anos também faleceu na sequência de um atropelamento ferroviário entre a Baixa da Banheira e Alhos Vedros.
Ambas situações são vistas pela Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul (CUTS) com “grande preocupação” afirma Luísa Ramos.
Para a CUTS é notório que a Infraestruturas de Portugal precisa de “actuar com medidas rápidas e mais eficazes, de modo a criar barreiras nas estações para garantir que não feitos atravessamentos em zonas indevidas”.