Luís Carvalho
I.
Henrique Caetano de Sousa foi o primeiro secretário-geral do Partido Comunista Português, em 1921/22. Na altura o cargo tinha outra designação: “secretário da Junta Nacional”. Mas era a mesma função.
Segundo os primeiros estatutos do PCP, a “Junta Nacional” era o “mais alto corpo executivo”, ao qual competia “manter a unidade e dirigir superiormente a ação política geral do partido”. Acresce que Caetano de Sousa era o único membro da “Junta Nacional” que integrava outro órgão chamado “Comissão Geral de Educação e Propaganda”. E era ainda o “secretário da redação” do jornal do partido.
No outono de 1922, foi ele o delegado do PCP ao 4.º congresso da Internacional Comunista, na Rússia. E terá sido ali o único líder do PCP a cruzar-se com Lenine em pessoa.
II.
Nos primeiros anos da República, Caetano de Sousa salientou-se como militante de um coletivo anarquista de Lisboa, o “Grupo Libertário Renovação Social”. Foi nesse âmbito fundador e secretário-geral de uma escola de instrução primária para crianças e adultos: a “Escola do Ensino Livre.
Entre 1918 e 1932, cumpriu um total de sete mandatos como 1.º secretário da assembleia-geral de uma grande associação mutualista, a Inabilidade – que chegou a ter à volta de 22 mil associados.
Destacou-se também no sindicalismo, em 1923, ao ser eleito secretário-geral da “Associação de Classe dos Empregados do Estado”. Com cerca de 2700 sócios, era então um dos maiores sindicatos no País.
Em 1925/27 foi dirigente de uma associação de apoio a presos políticos e suas famílias, o “Socorro Vermelho Internacional, que nessa altura atingiu perto de 2800 sócios. Até que em 1927 foi também ele preso político, sob a ditadura militar. O que já lhe tinha acontecido antes, sob a 1.ª República.
Pelo seu percurso no anarquismo e no movimento sindical, pela sua dedicação às causas da educação e da solidariedade social, e pela sua experiência de preso político antifascista sob a ditadura, Caetano de Sousa é exemplo de muitos dos fundadores e primeiros dirigentes do PCP.
III.
Depois de Caetano de Sousa regressar da Rússia, e basicamente com o apoio da Juventude Comunista, realizou-se, em Março de 1923, uma “conferência nacional” do PCP que aprovou um programa partidário e elegeu uma nova direção. O jovem sindicalista José de Sousa passou a ser o novo secretário-geral (já com esta designação). E Caetano de Sousa tornou-se o “secretário internacional”.
Mas o partido dividiu-se, e esta direção ficou em minoria. Foi nesta crise que o setubalense Carlos Rates ascendeu a secretário-geral do PCP. Caetano de Sousa foi então expulso, mas manteve-se próximo do partido.
Há registo, por exemplo, de ele apoiar com dinheiro a reorganização que em 1929 lançou o PCP na resistência clandestina contra a ditadura. Em 1937, um relatório da PIDE concluía que ele continuava “a manter as suas ideias”. E nos anos 1940, fez parte da Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal, presidida por Bento Jesus Caraça.
IV.
Caetano de Sousa nasceu (em 1888) e viveu grande parte da sua vida em Lisboa, Mas radicou-se em Almada quando se aposentou, nos anos quarenta. Ainda foi sócio da Incrível Almadense. E ali faleceu em 1954.
Os seus dois filhos seguiram-lhe as pisadas e tornaram-se militantes do PCP, no tempo da ditadura. Um deles também foi preso político. E depois do 25 de Abril, foi deputado municipal do PCP em Almada. O outro foi um dos fundadores da comissão de trabalhadores dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Almada.
Investigador