Agência da União Europeia Sobre Drogas apresentou hoje o relatório anual de 2024 sobre consumo de drogas em águas residuais
Lisboa, Porto e Almada apresentaram em 2024 um aumento das concentrações de MDMA/ecstasy nas suas águas residuais comparativamente a 2023, segundo um relatório da agência europeia esta quarta-feira divulgado, apesar de a canábis ser a droga mais consumida.
A Agência da União Europeia Sobre Drogas (EUDA), sediada em Lisboa, apresentou hoje o seu relatório anual de 2024 sobre consumo de drogas em águas residuais captadas em estações de tratamento de 128 cidades europeias, incluindo Lisboa, Porto e Almada. O relatório foi feito em 26 países (24 da UE + Turquia e Noruega).
O analista científico João Pedro Matias, da EUDA, referiu à agência Lusa que as maiores concentrações de MDMA nas águas residuais foram recolhidas na Bélgica, Chéquia, Países Baixos e Portugal, sendo que as três cidades portuguesas referidas “apresentaram um aumento nos consumos de MDMA/Ecstasy, acompanhando o que é a tendência europeia”.
Os consumos de MDMA/ecstasy em Lisboa (81.8 mg/1.000 pessoas/dia) continuam similares às cidades europeias com maiores quantidades detectadas de MDMA, disse o especialista.
João Pedro Matias explicou que nas cidades portuguesas abrangidas, as substâncias mais presentes são a canábis (droga ilícita mais consumida), MDMA e cocaína e que, relativamente às anfetaminas e metanfetaminas, estas não apresentam valores significativos.
No que se refere à canábis, a droga também mais consumida em toda a União Europeia (UE), as três cidades portuguesas observadas tiveram resultados muito similares, mas com tendências divergentes em relação ao ano anterior, com um decréscimo de consumo no Porto (de 98.3 para 53.7 mg/1000 pessoas/dia) e aumentos em Lisboa (de 113.2 para 150.8 mg/1000 pessoas/dia) e Almada (de 102.6 para 119.1 mg/1000 pessoas/dia).
As cargas mais elevadas do metabolito de canábis THC-COOH foram encontradas em cidades da Europa Ocidental e do Sul, em especial em Espanha e nos Países Baixos e Noruega.
Observaram-se tendências decrescentes com 25 das 51 cidades a comunicarem uma diminuição e 13 cidades a comunicarem um aumento desde 2023.
Relativamente à cocaína, os resíduos nas águas residuais continuam a ser mais elevados nas cidades da Europa Ocidental e do Sul (em especial na Bélgica, nos Países Baixos e em Espanha).
Também foram detectados vestígios na maioria das cidades da Europa Oriental, onde continuam a ser observados alguns aumentos, enquanto em Portugal “foram detectados decréscimos de consumo nas três cidades participantes”, explicou João Pedro Matias.
O analista explicou ainda que, apesar de a análise das águas residuais poder detectar flutuações nos padrões semanais de consumo de drogas ilícitas, mais de três quartos das cidades apresentaram níveis mais elevados de resíduos de droga frequentemente associados ao consumo em contextos recreativos (cocaína, cetamina e MDMA) no fim de semana (sexta a segunda-feira).
Quanto aos resíduos de anfetamina, canábis e metanfetamina foram distribuídos de forma mais uniforme ao longo da semana, situação idêntica à de Portugal.
O analista da EUDA disse que este estudo refere-se à população das cidades cobertas pelas estações de tratamento, “não se podendo falar diretamente em número de pessoas testadas, mas em população coberta”.
João Matias realçou que a cetamina (ou ketamina) também foi detectada nas águas residuais das três cidades portuguesas, apesar de os valores encontrados serem reduzidos e que, no caso do Porto, são quase inexistentes.
As maiores concentrações de cetamina foram observadas nas águas residuais de cidades da Bélgica, dos Países Baixos, da Hungria e da Noruega.