26 Abril 2024, Sexta-feira
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Miguel Salvado, Vereador“Os SMAS de Almada chegaram a ter quase 10 milhões de euros em dívidas por cobrar”

À frente dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Almada desde o início do actual mandato, Miguel Salvado não critica a anterior gestão da CDU mas diz que nem tudo estava bem, é o caso da cobrança de dívidas aos consumidores que chegou aos 10 milhões de euros, uma verba em grande parte já incobrável

 

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Eleito pelo PSD, Miguel Salvado aceitou ocupar um dos cargos mais desafiantes no executivo socialista, ser o rosto de um serviço público municipal responsável por uma rede fundamental a qualquer urbe; a rede de água e saneamento. Responsável pelo ciclo completo da água, os SMAS continuam a afirmar o sector como serviço gerido pelo município e tem na calha um projecto de obras que começou neste mandato e irá entrar pelo próximo governo da cidade

Qual a explicação para a maioria dos furos de captação da água que abastece os cerca de 200 mil habitantes do concelho de Almada estar no Seixal?
Estão no Seixal mas em terrenos adquiridos por Almada. Desde que os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Almada (SMAS) foram criados, há 68 anos, que se verificou que os melhores locais para captar água, pela abundância e qualidade, são no concelho do Seixal, principalmente em Vale de Milhaços, Miratejo e Corroios. Nesses terrenos os SMAS foram fazendo furos e a rede de adução.
O concelho de Almada está encostado tanto ao mar como ao rio e estamos no limite do aquífero, ou seja, estamos no início da coluna salina. Por estas razões, as nossas captações de água são, tendencialmente, mais para o interior, dai a localização dos furos estar no concelho do Seixal, e com perímetro de segurança.

Quantos metros cúbicos de água consome, diariamente, a população do concelho de Almada na rede pública?
Temos de fazer uma média. Por exemplo: o ano passado tivemos um dia em Julho que o concelho consumiu 110 mil metros cúbicos de água, foi o pico. A média é entre os 50 e os 60 mil metros cúbicos, por dia.
Temos uma reserva de cerca de 85 mil metros cúbicos, portanto, nesse dia de Julho, foi gasta a reserva e ainda tivemos de ir buscar água ao aquífero. Em consumos normais, no Inverno temos uma reserva de água que dá para dois dias e meio.

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Fala-se pouco em perdas de água. Em Almada quem são os grandes responsáveis por essas perdas?
Temos duas realidades; as perdas reais de água por a rede estar envelhecida e deteriorada, ou uma ligação que possa não estar tão bem feita. Depois temos as perdas aparentes.
As perdas aparentes, que já estão identificadas, são pelo uso abusivo da rede através de marcos de incêndio ou outros pontos de água.
Para resolver as perdas reais estamos a formar uma unidade especializada de permanência diária, que será constituída por um técnico superior e dois operacionais. Esta equipa estará munida de meios específicos e vai deslocar-se por todo o concelho para identificar, através de imagem e som, onde há as maiores fugas de água.
Neste momento estamos a trabalhar para ver se para o ano já temos a unidade formada e a trabalhar. Inclusive, até vamos adquirir uma carrinha totalmente eléctrica.

Qual a percentagem de perda de água?
Ronda os 28%, anualmente. Depende se é na rede em alta ou em baixa, mas em média é essa a percentagem.
Para controlar as perdas aparentes temos instalado o sistema de telemetria e computorização que nos permite, em tempo real, saber os metros cúbicos de água consumida e identificar as ruas onde pode haver perdas, sejam reais ou aparentes.
No caso de perdas aparentes, os SMAS conseguem fazer o controlo entre a água que entra, a que é consumida e a que é taxada. Outra forma é nas Zonas de Medição e Controlo que temos instalado ao longo do concelho.
Aliás, acabámos de concorremos aos fundos comunitários exactamente para a renovação de redes de águas e instalação de mais zonas de medição e controlo.
Para além destes sistemas temos a fiscalização e também a orientação da gestão de dívida relativamente a consumidores com dívida ou consumo excessivo. Quando chegámos aos SMAS a gestão da dívida era feita de forma manual, o que é impossível de controlar quando se tem cerca de 180 mil clientes. Tínhamos aqui uma realidade muito própria que não existe nem no Seixal nem em Lisboa e, com isto, os SMAS de Almada chegaram a ter quase 10 milhões de euros em dividas por cobrar.

Essa dívida está relacionada com a ideia de que em Almada não era comum cortar o fornecimento de água ao consumidor?
Houve um tempo em que só se cortava a água em casos de flagrante delito, ou por não ser paga ou por uso ilícito. Isto não é forma de gerir, e assim se chegou a um montante em dívida tão elevado. Estamos a falar de uma verba que não é para uso corrente, mas sim para investimento.
Destes 10 milhões de dívidas uma boa parte já prescreveu e outra parte é incobrável. Mesmo assim, neste mandato, temos vindo a reduzir essa verba, inclusivamente começámos a criar imparidades dentro das próprias contas.

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Desses 10 milhões de euros quanto já foi recuperado?
Neste momento ainda temos cerca de 4 milhões de euros de dívida aos SMAS, sendo que deste montante há uma parte incobrável. Implementámos um sistema de gestão de dívida e de cortes, completamente uniformizado, também automatizado. Isto é, foi preciso implementar a nível informático e dos serviços um serviço automático em que notificamos os nossos clientes sobre o valor a pagar. É dado um período para pagarem ou constituírem um plano de pagamento, se nada fizerem procedemos ao corte de abastecimento.
Mas só o fazemos em última circunstância; é de referir que 99,9% das vezes os SMAS aceitam um plano de pagamento, e até chegamos a dilatar os prazos para as pessoas conseguirem pagar.

Os casos de reais dificuldades económicas e sociais estão acautelados?
Os SMAS de Almada só cortam a água em situações limite, mas cortam. Contudo, os casos sociais estão acautelados até porque estão abrangidos pela tarifa social, portanto no sistema passam logo para uma área diferente.

As tarifas da água em Almada são elevadas?
Não considero que as tarifas da água de Almada sejam elevadas. São inferiores à média nacional e dentro da média das que se praticam no distrito, nuns concelhos são mais elevados que em outros. Tendo em conta a qualidade dos serviços que os SMAS de Almada prestam, estão dentro do aceitável, e não estamos a querer aumentá-las. Aliás, a nossa preocupação é não aumentar a tarifa da água. A lógica é optimizar aquilo que temos, por isso temos de cobrar o que nos é devido, em vez de irmos pela opção de aumento.

Logo após ter tomado posse assinou uma “Carta Compromisso” onde declara que os SMAS de Almada vão manter-se no ângulo municipal e sob gestão pública. Reafirma esse compromisso?
Claro que sim! Foi a primeira decisão que o conselho de administração dos SMAS de Almada tomou, e eu próprio também. Escrevemos uma carta aos munícipes e aos nossos funcionários, onde dizemos que queremos manter a gestão dos SMAS a 100% no município.
Por isso sempre defendemos que não faz sentido Almada entregar a gestão das nossas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) à Simarsul [Saneamento da Península de Setúbal], como fizeram oito dos municípios da península.
Mesmo no passado, quando foi preciso contrair empréstimos para construir ETAR ou modernizar as existentes, lutámos pela não inclusão na Simarsul. Essa decisão teve como represália não termos acesso aos fundos comunitários para esse fim. Mas mantivemos a nossa decisão.

Refere-se à ETAR da Mutela e à do Portinho.
Sim.

Quantas ETAR tem Almada?
Quatro. A da Mutela, Valdião, Portinho e Quinta da Bomba.

Que grandes investimentos tem os SMAS na calha?
Todos os anos temos um plano de investimentos, isso já era habitual. Os mais importantes, depois de pequenas obras, são ao nível de renovação de abastecimento de águas e saneamentos. Por exemplo, vamos intervir em toda a Avenida do Cristo Rei, até ao Santuário e zona envolvente [cidade de Almada]. Estamos a falar de uma obra de mais de um milhão de euros.
Vamos ainda fazer obra na Estrada Nacional 10, na zona da Sobreda, até à fronteira com o concelho do Seixal, também em Almada Velha e em freguesias urbanas onde passam adutoras fundamentais para o abastecimento da cidade. É preciso renovar a rede com novos materiais; é uma empreitada com, talvez, quatro fases, e só a primeira implica um investimento na ordem dos 900 mil euros. Quando se intervém no subsolo com a colocação de novas condutas é sempre muito caro.

E nas freguesias mais deslocadas do centro do concelho, caso da Charneca da Caparica?
Na Charneca da Caparica estamos a renovar áreas como a Avenida 25 de Abril, onde está uma adutora muito importante, é uma obra que ronda os 400 mil euros. Isto para além de montar saneamento em algumas zonas onde ainda não existe, e a responsabilidade não é dos proprietários, já devia ter sido feito pela Câmara há muito tempo. Os investimentos são avultados, mas estamos a fazê-los.

Estamos a falar num ciclo de obras com que prazo?
Entre intervenções da responsabilidade da Câmara e dos SMAS, algumas são ainda para terminar este mandato, caso da Estrada Nacional 10 ou Avenida do Cristo Rei e Avenida do Mar, outras vão ter de transitar para o próximo mandato. Mas todo o plano de obras fica concluído este mandato.

Qual o montante previsto para esse plano de obras?
Entre a Avenida do Cristo Rei, Estrada Nacional 10, uma parte da Avenida do Mar e intervenção em outras artérias, prevemos um investimento em cerca de cinco milhões de euros. É uma verba dentro do plano normal, mas poderemos ter de realizar outros investimentos.

De quanto é o endividamento financeiro dos SMAS de Almada?
Temos cerca de três milhões de euros de endividamento, o que não é nada para esta realidade. Os SMAS já chegaram a ter um endividamento, contraído no passado, de quase 14 milhões de euros na altura da construção das ETAR, mas está resolvido. A última prestação foi paga o ano passado.

 

“Bebo água da torneira e aconselho todos a beberem, principalmente a de Almada”

Miguel Salvado elogia a qualidade da água pública que se consome no concelho e o trabalho dos funcionários dos SMAS pela preocupação em manter essa qualidade. Como maior preocupação elege o equilíbrio financeiro desta empresa municipal

Na rua, quem o conhece como responsável pelos SMAS de Almada, com que queixas o confronta?
Muitas vezes tem a ver com a factura, depois por questões como um ramal de água que foi pedido ou de um ponto de água que é preciso localizar, e também por roturas no espaço público ou que causam interrupção no abastecimento particular.

Quando tem falta de água em casa o que faz?
Primeiro tenho de perceber o que está a acontecer. Em segundo lugar, quanto tempo demora, não só por mim, mas por todos. Eu não me importo que, por momentos, fique sem electricidade ou gás, agora a água; a água é um bem essencial.

Em sua casa, todos bebem água da torneira de Almada?
Todos. Não compro água engarrafada. E quando compro é porque não há local onde beber. Bebo água da torneira e aconselho todos a beberem, principalmente a de Almada. A nossa água é de excelente qualidade. Muitas vezes quando as pessoas se queixam de algum sabor ou cor, isso não é da água que os SMAS distribuem, essa é controlado diariamente, mas sim da canalização do edifício.

Quais as grandes dores de cabeça que os SMAS de Almada lhe dão?
Os SMAS de Almada dão-me grandes alegrias. Temos excelentes técnicos, excelentes profissionais, excelentes funcionários, todos eles com uma dedicação muito grande ao serviço público. Temos 490 funcionários e estamos num processo de recrutamento para substituir os que entretanto se reformam.
A minha maior preocupação é o equilíbrio financeiro do serviço para permitir que, ao longo do tempo, possamos renovar a rede e prestar um serviço de excelência sem aumentar o custo do serviço para os consumidores. Reafirmo: a Almada que se consome no concelho de Almada é de excelente qualidade!

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