Candidata da IL à autarquia quer retribuir à vila tudo o que recebeu. Apresenta propostas que vão da habitação acessível à modernização dos transportes, sem esquecer as tradições locais
Paula Rosa Matos é a aposta da Iniciativa Liberal para a Câmara Municipal de Alcochete nas autárquicas de 2025. Farmacêutica de formação e gestora com mais de 30 anos de experiência em projetos de saúde, inovação e liderança, afirma querer “retribuir a Alcochete” tudo o que recebeu da terra onde cresceu. Com um discurso que combina tradição e modernidade, apresenta propostas para a habitação, mobilidade, saúde, educação e dinamização económica, defendendo que o concelho pode afirmar-se como um território de oportunidades sem perder a sua identidade cultural. Em entrevista a O SETUBALENSE, a candidata fala sobre o seu percurso, os principais desafios locais e a visão liberal que quer trazer para a gestão municipal.
Refere que quer “retribuir a Alcochete” tudo o que recebeu. O que significa, na prática, essa ideia?
Retribuir a Alcochete significa devolver à comunidade aquilo que ela me deu: oportunidades, inspiração e um profundo sentido de pertença. É transformar essa gratidão em ações concretas.
Cresci em Alcochete e fui fortemente influenciada pela comunidade escolar, pelos vizinhos, pelas tradições e modo de vida local. Recordo com carinho a escola comunitária da D. Lia, onde me apaixonei pela química, e as escavações arqueológicas no Porto dos Cacos, que ampliaram os meus horizontes. Essas experiências mostram como Alcochete contribuiu para o meu crescimento enquanto pessoa e profissional.
Retribuir à nossa terra significa dedicar-me, como profissional e cidadã, a criar projetos que fortaleçam Alcochete – na saúde, na gestão, na educação, na cultura e na inovação. Significa estar presente, investir tempo e experiência para gerar oportunidades, apoiar quem fica, preservar as nossas raízes e abrir caminhos para todos.
O que desejo é que cada alcochetano tenha os mesmos recursos e oportunidades que tive, para também encontrar aqui paz, prosperidade e futuro.
Como é que a sua experiência profissional pode ser útil na gestão de um município?
A minha experiência profissional é marcada pela gestão de projetos complexos, pela inovação em saúde e pela liderança de equipas em contextos nacionais e internacionais. Ao longo de mais de 30 anos, tive a oportunidade de gerir equipas multidisciplinares e implementar programas de prevenção, subdiagnóstico e saúde pública em colaboração com entidades públicas e privadas; competências essenciais para coordenar serviços municipais com eficiência.
Tive também a oportunidade de desenvolver estratégias de planeamento, inovação e sustentabilidade, fundamentais para otimizar recursos num município e garantir qualidade nos serviços prestados à população. Além disso, liderei processos de negociação e criação de parcerias com empresas, universidades e instituições de saúde, experiência que me permite saber como atrair investimento, dinamizar a economia local e promover projetos sociais.
Acredito que estas competências; planeamento estratégico, capacidade de decisão e negociação, inovação em políticas públicas e experiência de liderança, são diretamente aplicáveis à gestão autárquica, permitindo contribuir para um município mais eficiente, sustentável e próximo das pessoas.
Tal como na saúde, também na gestão municipal é preciso respeitar normas rigorosas, gerir orçamentos, prestar contas e tomar decisões com impacto direto na vida das pessoas. Não podemos “sacudir a água do capote” e dizer que a responsabilidade é só do Governo. O papel de um presidente de câmara é abrir portas, negociar com diferentes entidades e levar a voz do município até ao mais alto nível, contribuindo de forma construtiva para a resolução dos problemas.
Com a subida dos preços da habitação em Alcochete, que afastam jovens e famílias locais, que soluções concretas propõe?
O nosso plano Habitar Alcochete, assenta em três pilares que se complementam. O primeiro pilar é aumentar a oferta, com a nossa Via Verde Habitação, vamos acelerar os processos de licenciamento e fomentar habitação a preços acessíveis. Isto responde à procura, ajuda a nivelar preços e dá confiança aos construtores para investir em Alcochete. O segundo pilar, é o Alívio Fiscal às Famílias. É essencial, baixar o IMI e devolver o IRS até ao limite legal, para que tenham mais liquidez e possam fazer face aos custos da habitação.
Mas a solução não é só casas mais baratas, é também mais rendimento. Aumentar a capacidade económica local, será assim o nosso terceiro pilar: temos de trabalhar para atrair empresas de alto valor, que paguem salários acima da média nacional, e investir na qualificação dos nossos jovens para que possam trabalhar aqui e construir o seu futuro em Alcochete.
A apanha ilegal de bivalves é um problema grave no Tejo. Que medidas defende para combater esta prática?
A apanha ilegal de bivalves é um problema grave que se arrasta há 20 anos e que afeta a segurança, a justiça e a economia local. Não podemos aceitar que continue a ser um crime à vista de todos. É uma injustiça para quem cumpre as regras e paga impostos, e um risco para a liberdade e segurança da população do Samouco e de Alcochete.
Com o programa Mais Tejo, propomos uma solução diferente: trazer a ciência para recuperar o equilíbrio ambiental do rio e combater a invasão da amêijoa-japónica. Temos exemplos de sucesso no estuário do Sado, no porto de Amesterdão e até no estuário de São Francisco da Califórnia. Alcochete também pode transformar este problema numa oportunidade de desenvolvimento sustentável.
Alcochete tem uma forte tradição taurina. Como encara este tema?
Enquanto liberais, respeitamos a liberdade de escolha de cada indivíduo. A tauromaquia é uma tradição profundamente ligada à identidade cultural de Alcochete e também uma atividade económica relevante para a região.
Não podemos falar de Alcochete sem falar das suas tradições, e é nesse espírito que também escolhemos para hino da nossa campanha o novo fado de Alcochete. O fado e a festa brava são expressões culturais que fazem parte da alma do nosso concelho: unem gerações, dão palco às nossas bandas filarmónicas e mantêm viva uma identidade que atrai visitantes e reforça o orgulho de quem cá nasceu.
Para nós, tradição e inovação não se excluem – caminham juntas. Queremos uma Alcochete livre, moderna e próspera, mas sempre fiel às suas raízes.
Vê a tauromaquia como património cultural a proteger?
A tauromaquia é, antes de mais, uma tradição que merece respeito e faz parte da nossa herança cultural. Mas é também uma atividade económica que deve ser gerida de forma sustentável, com respeito pelos aficionados, pelos espectadores e, sobretudo, por quem participa diretamente no espetáculo, como os moços forcados, que actuam por paixão e muitas vezes colocam a sua vida em risco.
Importa ainda lembrar que as corridas de toiros dão às bandas filarmónicas do concelho um palco privilegiado para atuar. Estas instituições são autênticas escolas de música, formam gerações e têm um papel essencial no desenvolvimento cultural e intelectual dos nossos jovens. Sem estas oportunidades, a sua atividade seria mais limitada.
Não sou aficionada, apesar de ter crescido neste meio, mas reconheço o valor cultural e simbólico da corrida de toiros: para mim representa a vitória da inteligência, do cavaleiro, do campino, do bandarilheiro e do forcado, sobre a força bruta do toiro. E essa é também a forma como acredito que Alcochete deve enfrentar os seus desafios – com inteligência, estratégia e visão de futuro.
Quais são as suas propostas para melhorar os transportes e as acessibilidades entre Alcochete e Lisboa?
O atual executivo assinou um contrato que deixou Alcochete refém de uma solução de transportes que não responde às nossas necessidades. Além das acessibilidades a Lisboa, a mobilidade dentro do nosso distrito continua a ser um obstáculo diário.
O que propomos é renegociar, exigir compensações e criar soluções em parceria com empresas e entidades que dependem da mobilidade dos seus trabalhadores e clientes. Alcochete precisa de voz ativa para não continuar de mãos atadas.
E a nível interno, como pretende resolver problemas de estacionamento, trânsito e transportes públicos?
A descentralização é chave. Vamos transferir serviços essenciais para fora do centro da vila, reduzindo drasticamente a pressão sobre estacionamento e trânsito. O novo Bullring Alcochete Business Center vai concentrar serviços do Estado e criar um balcão único de apoio ao munícipe, para apoiar os munícipes com mobilidade reduzida e que residam no centro da vila.
Ao mesmo tempo, ao criar emprego local, reduzimos deslocações para Lisboa. Mas sabemos que precisamos de mais: por isso defendemos uma faixa BUS na Ponte Vasco da Gama e uma saída alternativa para Alcochete, melhorando a mobilidade de todos.
Com organização e visão, Alcochete pode ter trânsito fluido e serviços acessíveis.
Que áreas de serviço público considera prioritárias reforçar?
Sem saúde e educação não há futuro. Quase metade da população não tem médico de família, e não podemos continuar a fingir que o SNS vai resolver. Criámos o cartão SUA Saúde, que garante consultas através de protocolos com clínicas locais.
Na educação, queremos que as escolas sejam um verdadeiro elevador social: formação contínua para professores e ligação dos alunos às empresas e às novas tecnologias, para que tenham acesso a empregos de qualidade aqui em Alcochete.
No apoio social, queremos fortalecer as instituições, entre as quais a Santa Casa da Misericórdia, criando oportunidades para gerarem mais rendimentos de forma que possam continuar a apoiar quem mais precisa. Uma rede solidária forte significa um concelho mais justo.
Que setores estratégicos quer promover para dinamizar a economia local?
Alcochete é um cofre de tesouros à espera de ser aberto. É berço de um rei, tem a marca da Academia Cristiano Ronaldo, acessos às principais autoestradas do país, está a 20 minutos da capital e possui um estuário único. Mas tem faltado visão estratégica para colocar todos estes tesouros a gerar receita e valor para a nossa comunidade.
É aqui que nasce o Bullring Alcochete Business Center. Escolhemos este nome porque “bullring” significa em português praça de toiros, símbolo da nossa identidade, mas no contexto da bolsa de valores é sinónimo de mercado em alta, dinamismo e sucesso económico. Ou seja, uma palavra que une tradição e futuro, exatamente como queremos para Alcochete. O Bullring será o motor de inovação do concelho, atraindo empresas de alta tecnologia e inovação, ciências da saúde, economia verde e indústrias criativas — setores estratégicos que podem criar emprego de qualidade, reter talento jovem e oferecer salários competitivos.
Ao mesmo tempo, no turismo, lançaremos o conceito Alcochete Manuelina, com excursões de um dia que tragam visitantes, animem o comércio local e valorizem o nosso património.
E no ambiente, o programa Mais Tejo vai devolver biodiversidade ao estuário e transformar o rio numa fonte de rendimento sustentável e de lazer para os alcochetanos.
O que a distingue dos outros candidatos nesta corrida autárquica?
O que nos distingue é “mundo” e visão. A minha experiência internacional deu-me contacto com realidades diferentes e a capacidade de pensar Alcochete a longo prazo. Enquanto outros executivos têm vivido do dia-a-dia, nós apresentamos uma estratégia clara: preservar a identidade, resolver problemas crónicos e projetar o futuro.
Temos uma equipa diversa, com pessoas de várias idades, áreas e quadrantes sociais, unidas pela vontade de servir Alcochete. Não precisamos da política para viver estamos aqui por compromisso cívico. Trazemos ideias novas, coragem para inovar e visão para proteger o que nos define.
Se não for eleita, estaria disponível para entendimentos ou acordos pós eleitorais?
Estamos disponíveis para apoiar soluções que sirvam Alcochete. Não estamos na política para lugares, mas sim para resolver problemas. Se houver projetos que tragam benefícios reais para os alcochetanos, podem contar connosco. O que não aceitamos é política de interesses ou compadrios.