A necessidade de investimento nas infra-estruturas e no equipamento das escolas do concelho foi o aspecto mais consensual do debate entre os candidatos à Câmara Municipal de Alcochete. Os quatro concorrentes reconheceram que o parque escolar está degradado. Outra ideia que passou foi que as contas do município já estão melhores
[su_note note_color=”#009FE3″ text_color=”#fff” ]NOTA DO DIÁRIO DA REGIÃO – Devido a problemas técnicos, o debate em Alcochete não foi transmitido em directo no Youtube. Os mesmos problemas criaram algumas falhas na gravação, mas praticamente todas as mais de 3 horas do debate entre José Luís Alfélua (CDU), Fernando Pinto (PS), Vasco Pinto (PSD/CDS-PP) e Paulo Machado (Ind.) foram depois disponibilizados no Youtube – em video publicado a 25/0/2017, com esta explicação sobre os problemas técnicos.
Hoje, 28/07/2017, após reclamação da CDU de Alcochete, alertando para o facto de o candidato José Luís Alfélua ser o único afectado por cortes decorrentes dos problemas técnicos na sua intervenção inicial, optámos por republicar o video, cortado de todas as declarações iniciais, de todos os candidatos, procurando maior igualdade de tratamento.
Ao candidato José Luís Alfélua, à CDU de Alcochete, aos demais candidatos e aos espectadores do video, pedimos desculpa.
Francisco Alves Rito[/su_note]
O debate com os quatro candidatos a presidente da Câmara Municipal de Alcochete expôs à evidência a necessidade de investimento municipal nas escolas do concelho, face à actual situação do parque escolar de alguma degradação de infra-estruturas e equipamento e de insuficiência ou desadequação para as necessidades actuais.
O tema Educação esteve em destaque no debate da Operação Autárquicas 2017, promovida pelo DIÁRIO DA REGIÃO, em parceria com as rádios Popular FM e Rádio Sines, Setúbal revista, agência de notícias ADN e Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), que encheu o Fórum Cultural de Alcochete na noite de segunda-feira.
Fernando Pinto, o primeiro a falar, por ordem do sorteio, começou logo por prometer a requalificação de “todas as escolas” durante os “quatro anos de [próximo] mandato”. O cabeça-de-lista do PS avançou também a ideia da criação de um serviço de “intervenção S.O.S.” para resolver problemas básicos como pequenas reparações nos estabelecimentos municipais, sem olhar a que tutela pertence a escola.
O candidato socialista disse ainda que quando o PS governou a autarquia “investiu 1,5 milhões na educação e conseguiu a escola secundária para Alcochete”.
José Luís Alfélua, da CDU, recordou que o actual executivo fez “o Parque Escolar de S. Francisco”, que foi “a maior obra realizada no concelho, e replicou que, quanto à escola secundária “nem sequer o Estado reconhece a titularidade” porque não chegou a ser devidamente feita a respectiva recepção.
O cabeça-de-lista comunista acrescentou ainda que “só agora tivemos condições para fazer intervenção no parque escolar”.
Já Vasco Pinto, da candidatura ‘Alcochete de Alma e Coração’ (CDS-PP/PSD), afirmou que “as escolas [do concelho] são poucas , estão em condições precárias, e as obras realizadas apenas visam as necessidades actuais”. O candidato lembrou que “ao fim de 12 anos continuamos a ter crianças a terem aulas em contentores”.
O cabeça-de-lista centrista e social-democrata referiu que “todos sabem as dificuldades financeiras da Câmara de Alcochete” e acrescentou que pretende “aproveitar o Quadro Comunitário de Apoio (QCA) para construir mais uma escola”. Vasco Pinto sugeriu ainda a criação de programas que transmitam aos alunos a tradição e cultura próprias de Alcochete.
Paulo Machado, candidato independente pela candidatura ‘Somos Alcochete’ defendeu que “Educação não é infra-estruturas” e sustentou que o município deve começar por colocar a funcionar os instrumentos municipais para o sector, como o Conselho Municipal de Educação, e ir à substância do ensino com “políticas municipais que assegurem educação para todos”.
Não é a infra-estrutura que faz a Educação”, repetiu o candidato independente, acusando os adversários de só falarem “em quanto se investe, quanto pagam”.
Contas municipais em discussão
As contas municipais foram outro tema em grande destaque na discussão entre os candidatos.
O primeiro a falar no assunto foi o candidato da CDU (actual vice-presidente da Câmara), logo na sua intervenção inicial. “Passámos pela maior crise das últimas décadas – por culpa dos governos PS e PSD/CDS-PP -, que se reflectiu nas finanças da Câmara de Alcochete e levou a aprovação de plano de saneamento financeiro da Câmara Municipal, aprovado por todas as forças políticas”, disse José Luís Alfélua, que envolveu todos.
“O plano passou a ser prioridade para todos e todos estávamos conscientes que haveria medidas penalizadoras para todos, trabalhadores e munícipes”, disse, concluindo que “ninguém pode sacudir a água do capote”.
O candidato comunista transmitiu ainda a ideia de que o saneamento financeiro está concluído, dizendo que as finanças da autarquia “são confortáveis neste momento”, que a divida é de 8 milhões, e que o município está novamente em condições de voltar a investir.
Uma mensagem que passou, até porque não foi directamente contrariada pelos demais candidatos.
Fernando Pinto mostrou não estar convencido quanto ao equilíbrio financeiro do município afirmando que tenciona fazer uma “verificação “ às contas municipais. “Tenho duvidas nas contas apresentadas, nesse conforto financeiro”, afirmou o candidato socialista argumentando que o parecer dos revisores (ROC) colocou reservas às contas por não haver transparência nos dados apresentados e que essa incerteza é patente também no relatório da Direcção-geral das Autarquias Locais (DGAL).
“Se os ROC têm estas duvidas, que certezas é que um candidato pode ter?”, questionou Fernando Pinto.
Apesar destas duvidas – e o apesar foi bem sublinhado por Paulo Machado – Fernando Pinto comprometeu-se pessoalmente, atirando um “comprometo-me aqui eu, Fernando Pinto”, a “requalificar as infra-estruturas escolares nos próximos quatro anos”.
Vasco Pinto disse depois que “a recuperação financeira deveu-se a um plano de saneamento financeiro, ao aumento das despesas e à ausência de investimento”, e arrancou uma salva de palmas quando deixou claro que “quem equilibrou as contas de Alcochete fomos todos nós, munícipes”.
O candidato da coligação CDS-PP/PSD, juntamente com o independente Paulo Machado, foram os que falaram menos sobre as finanças municipais, basicamente porque o moderador passou o debate à frente.
O aeroporto, o apoio ao movimento associativo e a reabilitação urbana foram outros temas em debate, dos muitos que passaram pela discussão no Fórum Cultural, alguns colocados pela moderação e outros suscitados pelas muitas intervenções do público presente.
Devido a falta de rede de Internet na sala, o debate não foi transmitido em directo em vídeo – na Rádio Popular FM houve transmissão em directo -, mas ficou disponível, no canal Youtube do DIÁRIO DA REGIÃO, no dia seguinte, e continua acessível.
Para mais informações, agenda de debates e os vídeos entre no site da Operação Autárquicas 2017.
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Alcochete em peso debate o seu futuro
Quase 400 pessoas participaram na discussão, o que, num município de 17 mil habitantes, constitui uma representação muito superior à de outros concelhos
Mais do que noutro debate qualquer – dos já realizados e apesar de vários terem sido também bastante concorridos, a começar pelo do Montijo, mesmo ao lado -, pode dizer-se que Alcochete esteve em peso na discussão sobre o seu futuro colectivo.
A presença de quase quatro centenas de pessoas (o Fórum Cultural de Alcochete tem 374 lugares sentados, e ainda havia gente de pé) no debate, num concelho que tem 17 mil habitantes, corresponde a uma representação relativa muito superior à participação registada nos demais municípios.
Um dado muito relevante, se tivermos em conta que se trata de Politica – área de que a generalidade dos cidadãos parece gostar pouco ou nada -, e que o público presente será, certamente, a elite que participa nestas coisas. Entre as quase 400 pessoas presentes estavam as dezenas ou centenas de apoiantes mais directos de cada uma das forças políticas de Alcochete.
O impacto do debate de Alcochete, no universo a que se destina, será, por isso, superior ao dos outros debates, em concelhos demograficamente maiores ou mais urbanos.
OS CANDIDATOS UM A UM
Fernando Pinto (PS)
O candidato do PS mostrou-se sereno, convicto e assertivo, com uma prestação muito ajudada pela excelente dicção, da sua costela radiofónica. Foi quem mais apresentou propostas concretas, que acabaram por marcar a agenda temática do debate, como foram os casos da requalificação do parque escolar municipal e da rede municipal de equipamentos desportivos. Mostrou ter ideias também para atacar os pequenos problemas, dos equipamentos públicos (intervenções S.O.S., como as designou, garantindo um carácter permanente) e até dos particulares (oficina móvel municipal).
Teve como pontos fortes a consistência politica e técnica e a convicção e confiança na eleição, falando sempre em ‘quando’ e não em ‘se’ for eleito, no “vamos fazer”, nas “nossas competências”, assumindo-se como novo presidente da Câmara, e a postura equilibrada, pela positiva. Não precisou recorrer a ataques agressivos ou mais pessoais para fragilizar a maioria CDU – nesse ponto contou com preciosa ajuda de Paulo Machado e marcou pontos, por exemplo, nas contas municipais e na relação com as colectividades, – e aproveitou, de forma brilhante, uma pergunta do público, aparentemente hostil, sobre a obra feita pelo antigo executivo PS na Educação. Deu uma resposta exaustiva, que mostrou que o investimento socialista foi o maior feito no concelho nessa área até hoje.
O ponto mais fraco foi talvez no campo da imagem. Foi o único candidato apenas em camisa (sem um casaco) e o fio a prender os óculos também não ajudam nada. Podia ainda ter evitado tanto uso do “de facto”.
Consegue passar a ideia de que poderia ser um bom presidente de Câmara.
José Luís Alfélua (CDU)
O candidato da CDU foi muito sereno, transmitiu firmeza e humildade, numa conduta de nível, sem ataques. Procurou sustentar-se na ideia de que a sucessiva vitória da CDU no concelho atesta a capacidade da força politica e passar a mensagem de que, quanto às finanças municipais, ‘o pior já passou’ pelo que, de agora em diante, é que quase tudo pode ser resolvido.
Teve como pontos fortes a forma como conseguiu lidar com a situação das contas municipais, não apenas porque transmitiu a ideia que se trata de um problema resolvido com sucesso, mas, sobretudo, pela capacidade – por mérito seu e demérito dos adversários – de envolver alguns candidatos (no caso de Vasco Pinto, por exemplo, a compreensão demonstrada foi tal que parecia um vereador da maioria, quase como se também tivesse culpa ou responsabilidade na divida) e conter outros (Fernando Pinto podia ter sido mais demolidor e Paulo Machado não fez sangue neste capítulo). Soube passar a ideia de que, mesmo sem dinheiro, a Câmara fez obra, tendo elencado os vários investimentos de vulto realizados neste mandato.
O ponto mais fraco foi mesmo a impossibilidade de contrariar a realidade. Viu-se na contingência de assumir, nas respostas ou na falta delas, várias falhas na gestão autárquica da CDU. Reconheceu algumas, que justificou com as limitações financeiras, e outras deixou passar, no seguimento de afirmações dos adversários, principalmente de Paulo Machado, que falava com a autoridade de quem ‘esteve dentro do convento’.
Consegue passar ideia de que poderia ser um bom presidente de Câmara.
Vasco Pinto (CDS-PP/PSD)
O candidato da coligação ‘Alcochete de Alma e Coração’ compadeceu-se demasiado com as dores da CDU para quem quer afirmar-se como alternativa. ‘Assumiu’ as dificuldades financeiras com compreensão infinita, como se tivesse integrado a maioria e não a oposição. No domínio da relação do município com o movimento associativo, considerou, também, que “tem sido bem conseguida, pontualmente há dificuldades em dar resposta”, mais uma vez complacente com o executivo comunista. Só mesmo na intervenção final descolou desse registo e mostrou afoiteza na afirmação da diferença. Sublinhou, no entanto, que o mérito da recuperação financeira é de todos os munícipes (e arrancou uma salva de palmas). Revelou, com esse aparte e noutros momentos, que a química que o liga à população continua a funcionar.
Os pontos mais fortes são a empatia com o público, numa postura elegante e de alguma candura que perpetua a fama e o proveito de ‘menino bonito’ da vila. Emana do povo, com alma alcochetana, como mostram os feitos políticos da eleição para a Câmara e a captura do apoio de partidos relevantes.
O ponto mais fraco foi o discurso algo atabalhoado, mais na dicção do que substância – em que mostrou consistência, ideias e propostas -, mas que, ainda assim, tem efeito negativo na imagem que passa.
Consegue passar ideia de que poderia ser um bom presidente de Câmara.
Paulo Machado (IND)
O candidato independente do movimento ‘Somos Alcochete’ é de extremos, no sentido de ser capaz do melhor e do pior. Com um discurso afirmativo e pensamento muito criativo, marcou a diferença relativamente aos outros candidatos em diversas matérias, mas nem sempre pela positiva. Foi demasiado vago na generalidade dos temas e praticamente não apresentou propostas concretas. Pautou-se basicamente pela explanação dos princípios estruturantes. Praticou humildade, quando soube pedir desculpa a Vasco Pinto por uma afirmação errada. No caso do aeroporto, por exemplo, afirmou que é essencial defender a preservação da avifauna local, mas não esclareceu se acha isso compatível com a vinda do aeroporto. Ficou sem saber-se se é a favor ou contra e se prefere a BA6 ou o Campo de Tiro. Ao ponto de Fernando Pinto lhe atirar com um certeiro “pelo menos nós temos opinião”.
O ponto forte foi a segurança transmitida, alicerçada num bom conhecimento das matérias e dos dossiês, que usou mais para destruir o discurso alheio do que para construir o seu. Várias vezes usou o que sabe (após 8 anos como vereador pela CDU) para contrariar e incomodar o candidato comunista, revelando dados ou fazendo considerações sobre a gestão CDU. Aliás, a ideia que ocorre, sugerida também pelo acaso de os dois terem ficado na mesma mesa, é que Paulo Machado vai dividir mais o eleitorado da CDU do que de outro partido qualquer.
Os pontos fracos revelados por Paulo Machado foram o tom, que se aproximou da sobranceria, e o discurso demasiado rápido, palavroso e teórico. Perdia-se na retórica. Chegou a uma altura em que o próprio disse tudo numa frase: “Para percebermos as propostas temos de entender os conceitos, senão não falamos a mesma linguagem”.
Conseguiu passar a ideia de que poderia ser um bom presidente de Câmara.
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