Jovem natural de Alcácer descobriu o trompete aos oitos anos. Em 2019, foi a estrela da pop que a descobriu. Resultou em “Vento Novo”, o seu mais recente EP, que apresenta neste 30 de Julho no EDP Cool Jazz
Natural de Alcácer do Sal e com raízes angolanas e cabo-verdianas, Jéssica Pina começou a tocar trompete aos oito anos, na Sociedade Filarmónica Amizade Visconde de Alcácer. Estava, nessa altura, ainda muito longe de perceber que iria fazer da música a sua vida, mas com o passar dos anos, as pessoas que a rodeavam começaram a notar-lhe o talento para o instrumento e para a música em geral.
“Começaram a puxar mais por mim. Eu já tocava trompete com muita dedicação, muito amor e sempre com muita curiosidade. Continuei a fazer o meu percurso na banda filarmónica e foi quando terminei o secundário, na hora de escolher um curso, que decidi que queria fazer da música a minha vida”, começa por dizer a trompetista e cantora.
Fez a licenciatura em Trompete Jazz na Universidade de Évora, seguida de um mestrado na mesma área, desta vez em Lisboa. No decorrer do mestrado, começou a receber convites para tocar com alguns artistas e foi com o Projecto Kaya que se estreou enquanto trompetista.
A sua paixão pela música africana está presente desde sempre e neste sentido tocou, entretanto com artistas como Bonga, Don Kikas, Karyna Gomes, entre outros. Tocou com HMB, em Portugal, e participou em alguns discos de Orquestras de Jazz. Quando terminou o mestrado, sentiu vontade de se estrear a solo. Em 2019, lança assim o álbum “Essência”, que foi também o seu projecto final de mestrado, onde compôs pela primeira vez originais. Preparava-se para apresentar este novo álbum quando surge a oportunidade de integrar a tournée Madame X Tour da Madonna.
Tour com Madonna trouxe “clique” que faltava para juntar a sua voz ao trompete
“O convite surge no decorrer da estadia da Madonna em Lisboa, na altura fez um álbum muito inspirado na música que sentiu na nossa capital, não só a música portuguesa, como o fado, mas também a mistura de culturas que temos em Lisboa, todas essas influências da lusofonia com que ficou muito admirada”, partilha. “Acabou por conhecer vários músicos e cantores. O Dino D’Santiago apresentou muita gente dessa comunidade, incluindo-me a mim também e uns tempos depois recebi o convite para trabalhar com ela, primeiramente para a Eurovisão em Tel Aviv e depois então para fazer parte da tournée mundial”, continua.
Esta foi, nas palavras de Jéssica Pina, “uma experiência mesmo muito enriquecedora, que claramente vou levar para o resto da minha vida e que mudou também a minha forma de pensar a música e sair da zona de conforto”.
Durante nove meses, em mais de 80 concertos em diversos palcos internacionais, “consegui absorver tudo o que estava a viver, perceber como se trabalha lá fora, com uma artista com a grandeza que tem a Madonna, e tentei trazer o máximo possível para o meu projecto”.
A participação nesta tour acabou, assim, por encorajar Jéssica Pina, que “já tinha o bichinho, mas não tinha tanta confiança para me jogar de cabeça como fiz dessa vez. Ajudou-me muito nesse sentido. A Madonna inspirou-me muito para arriscar começar a cantar e juntar a minha voz ao trompete, a assumir a voz como instrumento também principal no meu projecto”.
Fruto de toda esta experiência, nasce “Vento Novo”, o seu mais recente EP, composto pelas faixas “Vento Novo”, “Romeu”, “Drama Queen” e “What if”, que está agora a apresentar pelo país, com destaque para o EDP Cool Jazz, onde marcará presença neste 30 de Julho.
“Quando terminei a tournée, em 2020, vinha com muitas ideias para o meu projecto. De repente, vemo-nos obrigados a ficar em casa e resolvi começar a dar letras, voz e melodias a essas ideias”, recorda.
“Vento Novo” tem, assim, “vários significados e um deles é mesmo a minha apresentação como artista nova, a fazer algo novo, numa nova fase em que mostro coisas diferentes, com um estilo diferente, mais R&B e mais electrónico, e onde a voz também está presente”.
No futuro, pretende “continuar a fazer músicas novas, expressando estas diferentes fases por que passamos através da música”.
No que toca à ligação com as origens, esta “continua a ser muito forte. Vou a Alcácer do Sal muito regularmente. Continuo a frequentar a filarmónica, faço parte da banda e toco sempre que posso. Alcácer é casa, é mesmo o sítio onde sinto apoio. As pessoas mimam-me muito e é muito bom sentir esse apoio e carinho, sabendo que também foram em parte ‘culpadas’ por este meu processo. Foram as primeiras a perceber o talento, a apoiarem-me, a fazerem-me andar para a frente”. Por isso, “tenho muito a agradecer a Alcácer e foi muito importante ter começado na filarmónica. De certo modo mudou a forma como vejo a música”.