Riberalves: “Não é o mais barato mas, o nosso bacalhau é o melhor do mercado”

Riberalves: “Não é o mais barato mas, o nosso bacalhau é o melhor do mercado”

Riberalves: “Não é o mais barato mas, o nosso bacalhau é o melhor do mercado”

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A afirmação é de Ricardo Alves, administrador e responsável pela gestão da fábrica instalada na Moita. A estratégia de procura de máxima qualidade por parte da empresa, desde a compra de matéria-prima ao processo de transformação de bacalhau instalado em Portugal, posiciona a marca enquanto líder juntos dos consumidores.

 

Tudo começou numa pequena garrafeira, a Garrafeira do Oeste, em Torres Vedras, ainda nos anos 70, onde, já então João Alves vendia bacalhau. A garrafeira evoluiu para um cash-&-carry, sempre com o negócio do bacalhau presente, entre outros. Em 1985, pela mão de João Alves, nasceu a Riberalves, mas a indústria propriamente dita chegaria apenas nos anos 90, com a venda do cash-&-carry e a construção da primeira fábrica em Torres Vedras. “Foi tudo muito rápido”, começou por revelar na entrevista que concedeu a O SETUBALENSE – DIÁRIO DA REGIAO, Ricardo Alves, administrador e responsável pela maior fábrica do mundo na transformação de bacalhau. “Em 2000 iniciámos o processo do bacalhau pronto a cozinhar e em 2003, devido à dificuldade de espaço, apostámos na vinda para a Moita. Isso foi um grande salto”. Na Moita, continua, “desenvolvemos toda a indústria de um produto – bacalhau pronto a cozinhar – que veio dinamizar fortemente a atividade, os resultados e o crescimento da Riberalves”. Num tom mais intimista, o filho do homem que esteve na génese deste grande projecto, partilhou uma curiosidade que poucos conhecem: “o negócio da compra desta fábrica, fechado entre o meu pai e o anterior proprietário, o senhor Carlos Marques da Costa, foi rubricado numa folha A4, escrita à mão. Escreveu-se o valor dos stocks, do terreno, etc., e assim foi produzido o documento de venda. Veja o que vale a palavra de dois homens e o que eles confiavam um no outro. O negócio foi feito assim! Na altura era uma antiga fábrica – das mais antigas de Portugal – com cerca de 12 mil metros quadrados. Agora é uma unidade industrial com quase 50 mil metros quadrados e onde investimos, ao longo dos anos, cerca de 45 milhões de euros. Passámos de 40 funcionários para cerca de 300”. Estava dado o mote para uma conversa mais detalhada.

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Como está a correr o ano no mercado do bacalhau em particular?

O preço da matéria-prima tem vindo a aumentar nos últimos três anos em média 10% ao ano. Significa que o bacalhau aumentou 30% e, em consequência, o consumo caiu um pouco, na ordem dos 10%. De qualquer forma, em termos de valor, continua tudo muito estável e no caso particular da Riberalves vamos ter uma faturação até ligeiramente superior à do ano passado, na ordem dos 5%. Terminamos o nosso ano fiscal em Março apontando a uma faturação entre os 158 e 160 milhões de euros.

 

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Que inovações trouxeram ao mercado neste ano?

Em 2019 renovámos toda a imagem da Riberalves, aproveitando para lançar uma nova estratégia de comunicação que valoriza as qualidades únicas do bacalhau e que vem valorizar a experiência de consumo das pessoas. Tomámos uma medida muito importante nesta indústria, ao identificar de forma clara, em todo o packaging, os tempos de Cura Tradicional Portuguesa a que é submetido o Bacalhau. Isto é significativo, porque regra geral os consumidores não têm acesso a esta informação crucial. Tal como sucede nos queijos ou no presunto, o que faz a grande diferença na qualidade do bacalhau é o tempo de cura, pelo que é isso que temos obrigação de comunicar aos consumidores. Com a Riberalves, as pessoas sabem se estão a comprar bacalhau com 4 meses, 9 meses ou um 1 ano de cura.

 

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Onde é que são enquadrados os investimentos recentes?

Precisamente na questão da qualidade. Investimos 5 milhões de euros para aumentar a nossa capacidade de armazenamento, isto é, possibilitando-nos colocar mais bacalhau em maturação no sal. O nosso negócio tem dois pilares muito importantes, relacionados com a capacidade financeira para compra de matéria-prima e com a capacidade de armazenagem dessa mesma matéria prima. Nos meses de pesca por excelência, entre o início do ano e a Páscoa, quando o bacalhau tem a melhor qualidade, compramos cerca de 70% do bacalhau que adquirimos todo o ano. Por isso precisamos desse músculo financeiro e de capacidade de armazenagem. Hoje esta fábrica onde estamos tem capacidade para armazenar 20 mil paletes –  20 mil toneladas –  de bacalhau. É significativo.

 

Qual é o impacto deste investimento na facturação?

O impacto na faturação não é significativo. A nossa grande preocupação é ter condições para proporcionar aos consumidores o melhor bacalhau possível. Tínhamos necessidades de armazenagem específicas, por isso apostámos aí. Este investimento encerra ainda uma curiosidade, relacionada com as visitas e com o turismo. Temos muitas pessoas, e até agências de viagens, que nos procuram para visitar a fábrica e conhecer o processo do bacalhau de Cura Tradicional Portuguesa. Assim vamos construir um circuito de visita e um auditório para apresentações, que nos vão permitir construir aquilo a que chamaremos “Riberalves Experiencie”, uma experiência em torno do “fiel amigo” que terminará, depois, como um momento de degustação, na nossa adega de produção de vinhos – a AdegaMãe.

 

Como é que a Riberalves enfrenta a concorrência. Um consumidor escolhe Riberalves porquê? Pelo preço? Pela qualidade? Por ambos?

 

Acima de tudo pela qualidade. Temos que entender dois mercados distintos, o do bacalhau salgado seco, e do bacalhau pronto a cozinhar. No bacalhau salgado seco não existe marca. Tudo muda no bacalhau pronto a cozinhar. A indústria do bacalhau reinventou-se com o bacalhau pronto a cozinhar, já demolhado, porque o bacalhau passou a ter uma marca. No nosso caso específico, a nossa marca construiu todo um património de qualidade, de credibilidade e de reconhecimento do qual pura e simplesmente não abdicamos. Existe concorrência, mas sabemos o patamar onde estamos. Queremos que o nosso seja o melhor bacalhau do mercado e as pessoas reconhecem-no como tal. Não é seguramente o bacalhau mais barato que existe no mercado, mas é o melhor. Felizmente os consumidores valorizam muito isso e por isso somos hoje os líderes de mercado.

 

O que valem as exportações para a Riberalves?

As exportações são cruciais para nós e representam cerca de 30% das vendas. O mercado internacional é uma aposta de décadas, que será para manter. Estamos muito focados em consolidar os mercados onde entrámos recentemente, como o México. Temos alguns desafios específicos, por exemplo, no Brasil, o nosso maior mercado de exportação, onde estamos a lidar com alguns constrangimentos relacionados com o câmbio, que recentemente veio inflacionar o preço do bacalhau. Em Angola tivemos alguns problemas relacionados com a falta de divisas e por isso abrandámos o envio de produto. Ou seja, tudo problemas relacionados com constrangimentos locais e não tanto com a nossa produção. Mas estamos muito focados na nossa relação com estes países, e no fundo com todas as geografias onde existe tradição de consumo destes produtos, nomeadamente, o chamado mercado da Saudade, onde temos portugueses ou cultura portuguesa

 

Quais são os objetivos para 2020?

Essencialmente continuar a crescer de forma consistente, consolidando os nossos mercados, em Portugal e na exportação, e abrindo também algumas novas geografias. O consumo de bacalhau de cura tradicional portuguesa tem potencial em novos mercados onde existe tradição de bacalhau e produtos semelhantes, como por exemplo nas Caraíbas. Estamos a trabalhar países como México, República Dominicana, Porto Rico, entre outros.

 

“A ligação com as pessoas desta região é muito importante”

 

A Riberalves está presenta na Moita desde 2003 e, como se soube recentemente, continua a lançar investimentos naquela que a maior fábrica mundial de transformação de bacalhau. Isto é uma prova da forte ligação estabelecida com a gentes desta região?

Creio que sim. Estamos fortemente comprometidos com a região, com a indústria e com as pessoas que, desde 2003, nos permitiram estabelecer aqui a nossa produção, desenvolver novos produtos e, ao mesmo tempo, abrir novos mercados e dinamizar a empresa. A ligação que temos com as pessoas desta região é muito importante. Temos aqui pessoas que continuam connosco desde o início. Contando o tempo de trabalho no anterior proprietário desta fábrica, há pessoas que estão aqui há mais 45 anos.

 

Essas pessoas são cruciais para passar conhecimento e experiência aos mais novos?

Exactamente! Nos últimos anos temos assistido a uma evolução significativa no mercado de trabalho. Cada vez há mais rotatividade, seja entre colaboradores com mais e menos formação. As empresas têm que se adaptar a esta realidade e obviamente aqueles que nos ajudam a passar os valores e o conhecimento são cruciais. Isto é tão mais importante se tivermos em conta a dimensão da Riberalves, que tendo cerca de 300 colaboradores é maior empregador privado do concelho da Moita. A Riberalves acolhe uma fatia importante da força de trabalho do concelho, e dentro dessa força de trabalho tem famílias, casais com filhos aqui a trabalhar… Isso dá-nos muita responsabilidade.

 

As condições de trabalho nesta indústria do bacalhau, em particular, evoluíram muito?

Sem dúvida. As condições são muito melhores, por exemplo, daquelas que existiam quando adquirimos esta fábrica, em 2003. Ao meso tempo, temos a consciência de que a relação entre empresa e colaborador tem que ser win-to-win, tem que valorizar os dois lados. Acreditamos nos incentivos à produtividade, em prémios de assiduidade, acreditamos que ao contribuírem mais as pessoas devem ser melhor remuneradas. A atividade tem que resultar em vantagens para ambos e felizmente, hoje, os nossos colaboradores entendem isto muito bem. Promove-se o profissionalismo e a dedicação. Acredita-se que uma maior produtividade resulta em vantagens para todos.

 

Pesca, sal e… tempo! Quanto mais tempo melhor!

 

Do mar ao prato, uma longa viagem

 

Sabia que a viagem do Bacalhau Pronto a Cozinhar, como aquele lhe chega a casa preparado para confecionar qualquer receita, começou algures nos mares do Atlântico Norte, muito provavelmente nas águas bem frias da Islândia, da Noruega ou da Rússia? É aí a origem do “fiel amigo” dos portugueses, processado na Riberalves. Essa viagem, apesar de longa, ainda se prolonga na fábrica que a empresa tem na Moita, às vezes por mais um ano, num processo produtivo final que encerra as mais diversas curiosidades.

 

O bacalhau pode chegar à Riberalves no estado salgado-verde (já escalado e no sal), ou congelado (para ser escalado e colocado no sal). É a partir do momento em que se adiciona o sal que o bacalhau inicia o processo de cura tradicional portuguesa, a fase em que a proteína está em maturação no sal, para ganhar o sabor e textura tão apreciados pelos portugueses.

 

Na fábrica da Riberalves na Moita, que acolhe 300 trabalhadores, as equipas dedicam-se a esta fase do  e aos restantes que se seguem, sempre em áreas refrigeradas, por vezes até com temperaturas negativas.

 

Depois de ser colocado no sal e de cumprida a maturação, que pode durar um ano, para garantir a máxima qualidade do bacalhau, o bacalhau é seco, em túneis de secagem que reproduzem a atmosfera perfeita para a desidratação do peixe. Estes túneis substituem a seca antigamente realizada a céu aberto.

 

Avançamos no processo. Após a secagem, o bacalhau é cortado nas mais variadas referências de postas, consoante as diferentes necessidades dos consumidores. Já depois de cortado, é demolhado em água a temperatura controlada e por tempo específico, consoante o tamanho e espessura da posta. Deste modo, o ponto de sal é perfeito e uniforme, evitando-se os erros e os constrangimentos da demolha caseira.

 

Finalmente, depois da demolha, o bacalhau é ultracongelado. Este é um processo desenvolvido e aperfeiçoada pela Riberalves, a 40º graus negativos e concluído em 4 horas, tendo em vista preservar as propriedades organoléticas do bacalhau. Na ultracongelação industrial a proteína fica intacta, preservando assim toda a qualidade do produto.

 

Finalmente o bacalhau é embalado, nas suas muitas variadas referências, seguindo para o mercado, Pronto a Cozinhar, isto é, sem necessidade de demolha. Muito provavelmente, como esse que tem no seu prato. Bom apetite.

 

Sobre a Riberalves

 

A Riberalves é uma empresa 100% nacional, referência Mundial na transformação de bacalhau, produzindo 25 mil toneladas/ano. Fundada em 1985, a Riberalves focou a atividade exclusivamente no sector do bacalhau a partir de 1990, com a inauguração de uma primeira fábrica, em Torres Vedras. A partir de 2003, graças ao investimento numa nova unidade industrial, na Moita, hoje a maior fábrica mundial de transformação de bacalhau, a Riberalves estendeu a capacidade produtiva em 60% e tornou-se referência no desenvolvimento de um novo produto, capaz de responder às novas tendências de consumo: o Bacalhau Pronto a Cozinhar. Com uma faturação a rondar os 145 milhões de euros e exportações que valem 30% das vendas, a Riberalves é referência num grupo que integra ainda as empresas AdegaMãe e Riberalves Imobiliária.

 

Por Luís Pestana

Fotos Alex Gaspar

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