Uma vida entre números 

Uma vida entre números 

Uma vida entre números 

Em “Dias Negros, é uma caixa de tesouros. Faz-me bem ler isto”

Ana Boavida chegou à Escola Superior de Educação em 1995, “Passado muito pouco tempo de lá estar, surgiu a possibilidade de ir trabalhar para Lisboa”, porém, decidiu continuar por cá até à sua reforma, “tive oportunidades para sair da ESE, mas já não quis”. Gosta de matemática “desde que me lembro” e a escolha de resolver problemas era, para si, querer “saber os porquês das coisas”, porém, o principal motivo do amor pelas contas vinha de uma sensação de segurança fundida com liberdade, “Seguro porque eu sabia que se seguisse determinadas regras, as coisas iam desembocar naquilo que eu pretendia”, por outro lado “Um espaço de liberdade porque havia desafios que eram, de facto, problemas, criavam um raciocínio novo e, aí podia experimentar um caminho ou outro”. Em contrapartida, a disposição “pelo ensino veio muito depois, foi uma consequência” positiva que uma vontade tão antiga lhe proporcionou. Estava já no segundo ano da sua Licenciatura em Matemática, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, quando se dá o 25 de abril, “não havia empregos, eu namorava, queria-me casar, não queria ficar dependente dos meus pais”, decidiu então que o mais eficaz para alcançar os seus objetivos seria optar pelo “ramo educacional, porque aí tenho um emprego de certeza absoluta. E assim foi”, o início de uma estória bonita. É uma mulher movida pelo desafio, “intrigava-me que algo que, para mim, era relativamente simples, fosse tão complicado para outros, nomeadamente para os alunos”. Já na ESE, 20 anos após o início da sua carreira, depois de “começar pela formação de professores do secundário” e terminar no “pré-escolar” quebrou um padrão de duas fases de dez anos de trabalho “fiquei lá vinte e cinco anos”. As suas memórias na instituição são descritas com ternura na voz, recorda-se do primeiro momento “ela [Joana Brocardo] chegou lá, bateu à porta, e, na direção, o Zé Vítor diz, entra, e foi tudo muito caloroso, eram beijinhos para trás e para diante”, situações a que não estava habituada por vir de um ambiente informal. Entre muitas gargalhadas, evoca as conversas que tinha com o marido, no começo, questionava-se: “Onde é que eu vim parar? Aquilo parece um filme”. As “cantorias”, a sensação de comunidade e o esforço em mantê-lo, foram características deste espaço que Ana Boavida revive, por terem impactado a sua jornada enquanto professora. Acende um cigarro, exala o fumo, abre uma pasta no computador, lê um email, confessa “se calhar na vida de alguns alunos, eu ajudei a ver as coisas de uma forma diferente e, para quem vai ensinar matemática, isto é muito importante”, em “Dias Negros, é uma caixa de tesouros. Faz-me bem ler isto”.

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