“Trinta e cinco anos de uma vida. Uma história”
Um raio de luz incide sobre o rosto de Ana Sequeira, sentada no seu gabinete, distrai-se com uma imagem pendurada entre recortes, “estou agora ali a ver as fotografias de uma turma, de um colega que agora já tem mestrado”. Tem a literatura e o cinema como paixões para além do ensino. Enquanto adolescente, a ideia de seguir as pisadas dos seus ancestrais não estava nos seus planos, “era um karma que eu não queria de maneira nenhuma ter” [ri-se]. Aos 69 anos, mãe e avó, tem assente os seus valores, considerando-se alguém “antifascista, antirracista e que luta pelos direitos, das pessoas mais desfavorecidas”. É através de um anúncio do Diário da República que chega ao Instituto Politécnico de Setúbal. Nas instalações emprestadas, emerge uma escola que, inicialmente, só oferecia dois cursos: bacharelado em educadores de infância e professores de primeiro ciclo. Nitidamente entusiasmada como se tivesse feito uma viagem ao passado, recorda o alvoroço emocional sentido ao assistir ao nascimento da Escola Superior de Educação como a conhecemos. “De vez em quando vínhamos cá ver como é que isto estava, foi também uma coisa que demorou imensos anos a ser construída porque realmente os empreiteiros não aguentavam com as exigências de Siza Vieira” [ri-se]. “Mas é completamente diferente, não há ponto de comparação entre o que é e o que era quando eu entrei”. O mesmo acontece com a educação, a professora discute os desafios da profissão em Portugal, enfatizando a necessidade de reconhecimento do papel dos docentes na formação de pessoas, criticando a abordagem uniforme em sala de aula e o “processo de ensino-aprendizagem” dos docentes, “percebendo que os estudantes não são tábua-rasa e que têm conhecimento”. Sonha com uma escola sem obstáculos, “virada para as questões da equidade”, e com a possibilidade de todos poderem ter acesso aos cursos que desejam, sem “discriminação”. Focada em causas sociais, a primeira ação de cooperação entre Portugal e Timor-Leste em parceria com o Politécnico foi, para si, “fora de série”, “nós fomos daqui sem saber onde é que íamos dormir, o que é que íamos comer, o que é que íamos encontrar, sabíamos que íamos para a Austrália”. Como nessa experiência, toda a sua vida foi movida por sentimentos de missão, compromisso e sacrifício pessoal. Ana Sequeira gostaria de ser lembrada como “alguém que tenha contribuído para alguma coisa”, para “o desenvolvimento desta escola”, não permitindo que os longos “35 anos da minha vida, toda uma história” sejam em vão, e da qual não se arrepende de ter feito parte.