O professor que se apaixonou duas vezes
Não era um homem de “escrever poemas” até começar a viver num: serra-mãe, serra minha. Enamorado por uma setubalense, Albérico Afonso vislumbra-se pela beleza da Arrábida onde se cruza com a Escola Superior de Educação “Eu apaixonei-me e depois de uns tempos estando aqui, apaixonei-me também por Setúbal”. [sorri alegremente] Pertenceu à “primeira leva de professores formados” da escola, “recrutado” e por fim “escolhido” para pertencer ao corpo docente no instituto. Precisamente em 1984, ainda em “instalações provisórias”, o professor lecionava o que mais idolatrava: a história. Esta paixão antiga, originada por um antigo professor, “influenciou muito” na sua escolha entre direito e o estudo do passado. Desde cedo percebeu que a “Licenciatura em História era muito difícil de enveredar” e que “a área da investigação, era um caminho árduo” o qual abandonou para ingressar no ensino onde “a minha motivação era ensinar”. Deu os seus primeiros passos “no ensino preparatório e secundário” e só depois continuou a sua caminhada na ESE. “Professor, coordenador e formador”, estes foram alguns dos cargos que exerceu no decorrer de 36 anos na sua “segunda casa” que ajudou a “construir”. Durante quase quatro décadas assume que foi “um longo percurso que fiz sempre com grande prazer”. Enquanto docente, acreditava que a sua profissão deveria ir para além de “dar aulas” onde “uma das responsabilidades de um professor era partilhar aquilo que sabia e a sua investigação com a comunidade”, porque “senão, é uma mera repetição, somente os conteúdos não têm grande graça”. O desfecho do seu caminho na escola cruzou-se com a súbita “pandemia” onde admite que a falta do “contacto físico e o ensino presencial” foi o mais arrasador, “não foram momentos simples e felizes” por não conseguir dar “aulas como eu gostava”. Desde cedo que as suas mãos não só rodavam o globo do mundo em história mas também no papel e caneta. Embora tenha sido “obrigado a escrever” por causa do ensino superior, teve motivação adicional para finalmente ingressar na “área da investigação”. Nos últimos anos tem se dedicado “exclusivamente à história local” pela qual é fascinado e onde assume que são os “projetos que mais prazer me têm dado”. Recorda-se das “amizades que trouxe” e da “saudade desse tempo em que me senti muito, muito bem, em diversos níveis.” “É um espaço privilegiado em que eu sempre me senti muitíssimo bem”. Natural do Alentejo, repleto de livros e um olhar que atravessam óculos que já viram vastas trajetórias, Albérico Afonso mantém os seus hemisférios entre a história e a escrita onde no litoral-sul encontrou a sua “segunda casa”.