Balcões riscados por memórias 

Balcões riscados por memórias 

Balcões riscados por memórias 

“Quero estar cá mais 10 anos”

Temos de recuar mais de quatro décadas para lembrar a chegada de Manuel Agostinho a Setúbal vindo de Santa Luzia, Ourique, na altura veio “ter com uma tia que morava aqui”. A cidade que é conhecida como o berço de Bocage foi a madrinha do casamento que já dura “há quase cinquenta anos”. Em 1985 as novas instalações da Escola Superior de Educação foram inauguradas, tal como, o café “O Parque”, “sabíamos que era uma aposta certa”. O “tio” como é chamado pela grande maioria dos clientes é um verdadeiro casamenteiro, ali, dentro daquelas paredes verdes e laranjas, viu nascer grandes amores e até tem “ido a casamentos”. Muitos desses casamentos nasceram das “tardes maravilhosas” com os “alunos de música”, as tunas que sempre foram uma presença assídua. Ir ao Senhor Agostinho às quintas-feiras é uma tradição, todos se juntam para beber um famoso “remédio” ou comer uma “bifana especial”, mas ao fim de tantos anos o “tio” recorda as festas que se faziam das tunas, transpirando um espírito académico, que se foi perdendo com o passar dos anos. Antes de chegar a Setúbal, Manuel já havia passado por muito. Foi um dos combatentes na Guerra Colonial e todos os anos organiza um almoço para celebrarem a vida. Desse tempo guarda “memórias tristes”, “tivemos camaradas mortos”, Agostinho e os camaradas só pensavam “em um dia voltar”. É com um olhar inundado de angústia que afirma: “O dia mais triste que lá passei foi o dia 23/07/1973, morreram-nos 11 camaradas” e isso deixa marcas, marcas essas que perduram até hoje, fica “marcado no coração”. Manuel Agostinho lembra as relações que construiu com os docentes nos tempos áureos da ESE, “uns já partiram”, apesar de muitos ainda percorrem os corredores da escola. A escola para o negócio foi uma lufada de ar fresco, foi a partir daí que o IPS se começou a desenvolver e a carregar consigo uma reputação invejável. Ao fim de tantos anos a ementa de sucesso do café mais conhecido pelos estudantes é a “simpatia” e “o sorriso” com o qual são recebidos quando ali vão, “para mim todos são iguais, sejam alunos ou professores, não faço distinção a ninguém”. Reformado há já muito tempo, o Senhor Agostinho é uma figura histórica para a ESE e para o IPS em geral, “se não valesse a pena estar aqui já não estava cá há muito tempo”. Manuel quer ser recordado como “um amigo, que sempre lhes deu conselhos”, recorda que sempre disse aos seus clientes que “o principal objetivo não era estar aqui”, mas sim “na escola”.  “Quero estar cá mais 10 anos, até eu poder estou aqui sinto me completo estando aqui isto, dá-me anos de vida”. 

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