“Foi em Setúbal que vivi os momentos mais marcantes”
Numa palavra, Margarida Rocha é “professora”. Não apenas na profissão, mas na essência. A cada frase, cada escolha e cada memória, transcende a alma de quem dedicou a vida ao ofício de ensinar, às pinceladas de quem fez colegas para a vida e de quem formou estudantes. Desde cedo, o mundo artístico foi o caminho a seguir. Inspirada por uma docente de belas-artes que teve “no segundo ciclo do ensino básico”, a ex-professora enfrentou os desafios de uma época em que “as coisas das artes não eram bem vistas”. Lutou contra os preconceitos da família “fiz uma birra enorme para os meus pais” sobre seguir carreira em artes, mas sempre motivada pela sua paixão que é tão vibrante quanto as paletas que ensinou a desbravar. Traçou um percurso feito de desafios, adaptações e, sobretudo, conquistas. Do segundo ciclo ao ensino superior, e daí ao doutoramento, o fio condutor da sua vida sempre foi o desejo de criar pontes, “foi em Setúbal que vivi os momentos mais marcantes. Pelas amizades, pela diversidade do trabalho e pelo contacto com os estudantes. É isso que permanece”. Entre as histórias, surge o nome de antigos alunos que hoje caminham como colegas no departamento de artes, um deles o diretor da Escola Superior de Educação “foi o professor João Pires, atual diretor”, um reflexo do legado que cultivou. O ensino das artes, ainda hoje, carrega o estigma de ser “o parente pobre”. A mesma conhece essa realidade com serenidade, mas também com a força de quem acredita no impacto que transcende o currículo, “os alunos valorizam e é isso que importa”. Entre desafios de mudança, problemas institucionais e processos de adaptação, como o tão falado Processo de Bolonha, encontrou no espírito de companheirismo o alicerce para continuar “nunca nos damos todos por igual, mas a entreajuda foi sempre um pilar”. São essas memórias, cheias de risos e histórias, que guarda com carinho, seja nos momentos partilhados com os colegas ou nos almoços anuais dos professores reformados “nós todos os anos organizamos um almoço dos reformados”. Hoje, ao olhar para trás, Margarida Rocha é um retrato de felicidade. A alegria de quem sempre avançou com positividade, sem se apegar às pedras do caminho “os tropeços são para ultrapassar, sempre fui positiva e continuo a ser. Acho que nasci assim, inconsciente”. A ESE foi a sua casa. E continua a ser, mesmo após a reforma. Para a ex-professora, a escola é um espaço de realização e felicidade, uma jornada de construção coletiva onde o hino “fazer gente feliz” ganha corpo e sentido. Por fim, deixou um recado aos que desejam seguir caminhos semelhantes: “Seja nesta área ou noutra, o importante é ser feliz nas escolhas”.