“Não somos cidadãos só quando votamos. Somos cidadãos todos os dias”
Entra na ESE como a mais nova, com apenas 26 anos de idade, que se transformaram em longos anos de experiência na casa que a viu crescer, de cargo em cargo, até se tornar diretora. Cristina Gomes da Silva chega “numa fase inicial de afirmação da escola” em que estavam a recrutar pessoas na área da Sociologia para lecionar. Através de concurso, realizou um trabalho sobre a importância desse campo científico na formação de professores, tornando-se efetiva em 1990. A paixão pela educação nasce na formação académica, no Instituto Universitário de Lisboa, onde realizou a licenciatura, mestrado e doutoramento em Sociologia, conhecendo a sua grande influência, o professor Stephen Stoer, que a encaminhou para este domínio que “ajudava-me a ver para lá daquilo que era visível”. Em 2016 integra a direção, “era ali que estava a faltar, porque já tinha feito tudo, tinha sido coordenadora de departamento, por várias vezes, tinha sido presidente do Conselho de Representantes” e esta parte ativa foi o que a moveu a aceitar “contribuir para um projeto dentro da escola no qual eu pudesse ter alguma participação razoável e transformadora”. Dois anos depois, tornou-se diretora, algo que nunca tinha pensado pois conhecia os “limites da nossa autonomia” e considerava que estes eram tantos que “não sabia se me agradava”, mas houve um caminho interrompido que a mesma decidiu agarrar e dar continuidade. O convite feito à professora Ângela Lemos para assumir a Vice-presidência do Instituto Politécnico de Setúbal resultou nessa reformulação na ESE, surgindo o mandato de Cristina Gomes da Silva, João Pires e Ana Cristina Figueira, até 2022. Destaca que começou por ser um grande desafio, “perceber então por onde é que queremos ir e quais são as áreas em que temos de recrutar mais pessoas” com a agravante da pandemia, e por isso “Eu costumo dizer que o nosso mandato só teve dois anos, porque os outros dois foram para gerir a Covid-19”, os seus efeitos e todas as exigências que tiveram de dar resposta e conseguiram, equipando as salas com televisores e melhores equipamentos tecnológicos. Defende que não há sociedades sem cidadãos ativos e “Enquanto diretora tentei fazê-lo”, dar voz a preocupações pessoais e partilhadas por muitos, de maneira a respeitar os direitos humanos, relembrando “não somos cidadãos só quando votamos. Somos cidadãos todos os dias”. A colaboração com a Câmara de Setúbal levou-a a ser condecorada embaixadora da cidade, “reconhecimento é sempre um sentimento muito positivo”. Cristina Gomes da Silva, 61 anos, escolhe as palavras “liberdade”, “solidariedade” e “democracia” para descrever a ESE, que nestes 40 anos de existência teve um impacto inegável na vida de todos os que por ela passaram, “não tenho a mínima dúvida”. Deixa a mensagem final de que o “futuro é aquilo que conseguirmos fazer dele” com ideias inovadoras vindas das novas gerações, culminando “com equipa, projetos e vontade, o caminho é mais fácil”.