O espírito democrático decorre-lhe já do nome, que tem respeitado ao longo de décadas
A Sociedade Filarmónica Timbre Seixalense, que fez no dia 18 de Abril, 172 anos de existência, é a instituição de cultura e recreio mais velha do concelho do Seixal.
“Acredito que a nossa sociedade oferece um verdadeiro serviço público, tanto à comunidade como ao país”, afirmou a O SETUBALENSE, Jacinto Sado, presidente da Timbre e músico da sua banda filarmónica.
Já teve teatro e várias secções desportivas. Hoje, porém, todos os seus esforços se consagram à banda e à escola de música. Frequentada por 20 jovens, a Escola de Música da Timbre é o “grande suporte” da banda filarmónica. A frequência é gratuita, sendo que a sociedade disponibiliza também os instrumentos, os consumíveis que estes exigem e os manuais. “Os alunos não têm que pagar seja o que for”, saliente o presidente da colectividade.
André Santos, Rodrigo Azevedo, José Miguéis e Ângelo Borges são os professores da escola, que tem como coordenador este último. Álvaro Jorge de Azevedo acumula as funções de professor com as de maestro da filarmónica.
A música é a sua força
Quando se fala na vida de uma colectividade, “devemos compreender que não são instituições estanques, que dependem das pessoas, e, como tudo na vida, têm os seus altos e baixos. Por vezes, parece-nos que tudo corre mal; outras, temos a sensações que as coisas vão bem. São ciclos, e não há grande volta a dar. O movimento associativo é assim mesmo”, sublinha Jacinto Sado.
Se é certo que o Movimento Associativo atravessa momentos pouco fáceis, “a verdade é que temos a felicidade de ter uma Câmara e uma Junta de Freguesia voltadas para a cultura e o associativismo, parceiros absolutamente indispensáveis à nossa sustentabilidade”, reconhece o presidente da Timbre. “Por exemplo, é a Câmara que nos dá os instrumentos e a farda para os elementos da banda, o que representa muitos milhares de euros consagrados em contrato-programa. Trata-se de um investimento público bem orientado e do qual beneficiam também as outras colectividades do concelho. A nós, direcção, compete gerir os recursos o melhor possível e procurar do pouco fazer muito. O que, diga-se a propósito, temos conseguido”.
Jacinto Sado lembra que a “Timbre tem-se distinguido por se colocar sempre do lado dos que têm pouco ou nenhum acesso à cultura. Por isso, foi a primeira colectividade a ter uma biblioteca, em 1938, e a disponibilizá-la a todos. A Timbre está empenhada, como sempre esteve desde a sua fundação, na democratização da cultura, que procura fazer chegar a um público cada vez mais vasto. Toda a sua actividade orienta-se para o povo, para as pessoas. Por isso nos é caro o apoio da Câmara e da Junta, para correspondermos, como até aqui, ao que de nós esperam”.
Europa divide o Seixal entre “prussianos” e “franceses”
Recorremos uma vez mais à “História do Concelho do Seixal – Elementos para a história das colectividades”, de António Nabais, para ler: “Como reflexo do movimento musical iniciado com as bandas militares surgiu no Seixal, no ano de 1848, a Sociedade Timbre Seixalense, cuja filarmónica, constituída por operários da construção naval e superiormente orientada pelo padre seixalense José Joaquim Alves, se apresentou em público pela primeira vez em 23 de Abril desse ano”.
Em 1870, em plena guerra franco-prussiana, uma proposta de novos estatutos, que foi liminarmente recusada pela parte mais conservadora da colectividade. Os ânimos incendiaram-se, as discussões rebentaram e os proponentes demitiram-se para fundarem a sociedade nova, ou seja, a Sociedade Filarmónica União Seixalense. Esta passou a ser conhecida por “Os Prussianos”, a outra por “Os Franceses”, a primeira “progressista”, a segunda “regeneradora. Dizia-se que era a “música nova” contra a “música velha”.
“Em, 1985, estando no poder os “Regeneradores”, os seixalenses da ‘Música Velha’ sofreram o desgosto de ver o seu partido político extinguir o Concelho do Seixal, que foi restabelecido pelos ‘Progressistas’ em 1998, isto é, pelo partido político da ‘Música Nova’ que assim conseguiu uma dupla e retumbante vitória sobre a sua antagonista.”, conta-nos Antónia Nabais.
Em 1938, a Timbre recebeu do governo o Grau de Cavaleiro da Ordem de Benemerência. Entretanto, a Câmara do Seixal e a Federação das Colectividades de Cultura e Recreio também distinguiram a associação com medalhas de ouro.
Por José Augusto