Queijo de Azeitão atravessa ano atípico mas vem de quase uma década de crescimento e profissionalização do processo
Tem no nome Azeitão, mas é na Quinta do Anjo, concelho de Palmela, que é produzida a famosa iguaria, que faz parte da história e tradição da Península de Setúbal: o Queijo de Azeitão.
Tudo começou no final do Séc. XIX, quando por volta de 1830, Gaspar Henriques Paiva vem da zona das beiras para Azeitão, dedicando-se à agricultura. Com saudades do sítio que o viu nascer, todos os anos conseguia que um queijeiro viesse ao Sul para matar saudades, com leite do seu rebanho, do famoso Queijo Serra da Estrela. No entanto, mal sabia Gaspar Henriques Paiva que estava a iniciar as gentes ao seu redor no que viria a tornar-se o famigerado Queijo de Azeitão.
Com o conhecimento a passar de geração em geração, os queijeiros-artesãos foram aprimorando a ‘receita’ do queijo, característico sobretudo devido à flora das zonas de pastoreio do gado ovino.
Quase dois séculos depois, e para defesa dos produtores, é na zona da Quinta do Anjo, Palmela, que se situa a Associação Regional dos Criadores de Ovinos da Serra da Arrábida (ARCOLSA), criada em 1984.
A ARCOLSA é detentora da denominação do Queijo de Azeitão, sendo assim a entidade máxima e reguladora do mesmo. Todo o controlo, desde as análises de sangue às ovelhas à certificação do queijo passa pela associação.
“Ano atípico para produto gourmet”
Em entrevista a O SETUBALENSE, Francisco Macheta, presidente da associação e membro da direcção desde 2012, depois de momentos bastante complicados ao nível de gestão da ARCOLSA, admite que devido à pandemia é um “ano atípico” que interrompeu um crescimento considerável.
“Por volta de 2012 a 2014 produziam-se 160 toneladas de Queijo de Azeitão. Com a melhoria económica passou para 240 toneladas. No número de ovelhas, por exemplo, o número subiu de 10 para 15 mil”, afirma.
Explica Francisco Macheta que o Queijo de Azeitão, sendo um “produto gourmet”, “reage muito à economia”, sendo a exportação “residual”.
A isto acresce o facto de o investimento dos produtores ter um retorno demorado. Ou seja, investir em ovelhas pode demorar entre “ano e meio a dois anos” a resultar em leite.
Assim, admite que o “grande desafio em 2019” era “como crescer mais, visto que as áreas de pastoreio não aumentam e não havia leite para a procura que existia no mercado”.
Este ano, a quebra no turismo e na restauração foi sentida de forma drástica nos produtores e nas queijarias (actualmente existem quatro) e, por exemplo, “em Maio houve uma quebra de 50%”.
Profissionalização para crescimento
“Quando eu cheguei à ARCOLSA ter ovelhas era visto como um negócio pobre. Hoje em dia isso já foi ultrapassado. Já existem explorações de 800 ovelhas e obviamente, além do crescimento de postos de trabalho, a profissionalização do processo foi necessária”, frisa.