Depois de alguns meses dedicados apenas a produção regressamos com a voz de Piedade Fernandes, na tradição do fado setubalense e na mira da série La Casa de Papel
“Um casamento entre a série de televisão, La Casa de Papel, e a figura da fadista”. É assim que Piedade Fernandes vê o momento captado pela objectiva de Alex Gaspar.
O convite para participar no projecto “20 Setubalenses, 20 Artistas” surgiu ao encontro de “uma Piedade que estava algo esquecida pelo público setubalense e que reconquistou uma certa força quando, de repente, o ‘Fado Boémio e Vadio’ aparece tocado na TV”.
Entre tiros certeiros e momentos de adrenalina, ‘Fado Boémio Vádio’ tornou-se criminalmente irresistível. Marca de uma das cenas mais icónicas da série espanhola mundialmente aclamada, La Casa de Papel.
O momento trouxe à fadista setubalense, “uma força mais presente” e o regresso aos palcos que a pareciam ir esquecendo. “É natural que uma geração de artistas vá dando lugar a outra. Surgem novos rostos, novos talentos”, revela. Ainda assim, a voz de Piedade deixa no ar a tristeza de um fado onde o esquecimento tomou conta das coisas.
Fado, ele, um boémio vadio
“Há um fado que é cantado, há um outro que é sentido. Há um fado maltratado, outro que anda perdido. Há um fado que é saudade, outro que é alegria. O Fado não tem idade, será sempre companhia. Por ser boémio, vadio é como um navio, que chega à noitinha. Tomou-me conta da alma, tirou-me da calma, nem disse ao que vinha! Seja qual for o motivo, o fado está vivo, cá dentro de mim!”. Este é o famoso ‘Fado Boémio Vadio’ e poderia ser a história da carreira vivida, até agora, por Piedade Fernandes.
Em 1994 a fadista conquistou o quarto lugar no Festival da Canção e entrou no estrelato como grande intérprete. Dois anos depois, o tema ‘Fado Boémio e Vadio’ chegou à carreira de Piedade Fernandes gravado com música de Nuno Nazareth Fernandes e letra de Henrique Amoroso. E, em 1998, o sucesso deste fado desafiante estourou com o álbum ‘Alto Mar’. O último lançado pela fadista.
Hoje, Piedade Fernandes vive entre a música, a dedicação à vida empresarial liga ao turismo e as aulas enquanto professora de Educação Visual.
Pelo caminho das cenas e canções que compõem a sua carreira, a fadista recorda tempos em que “o Fado era muito vivido em Setúbal”. Depois, ficou “algo esquecido”, até ser recuperado por uma nova geração de fadistas, “com força, garra e muita alma”. Artistas que afirmam a sua música “numa cidade que sabe receber a arte, apenas deve valorizar mais o que tem dentro de portas”.
Fotografia: Alex Gaspar