29 Março 2024, Sexta-feira
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Micaela Castanheira: A cineasta que teve de sair de Portugal para dar inicio ao sonho da sua vida

Do teatro à realização cinematográfica, voou de Setúbal para o Reino Unido, onde venceu em Abril o “Student Television Awards 2022” na categoria “Documentário”

 

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A jovem setubalense Micaela Castanheira viu, no mês de Abril, o seu trabalho “Para Reminiscência” ser galardoado com o prémio “Student Television Awards 2022” pela Royal Television Society (RTS) Cymru. Em Junho, apresentou o projecto “The Youth”, dedicado à juventude e para o futuro soma planos no âmbito da realização cinematográfica, sem esquecer as suas demais áreas de interesse.

Viveu sempre em Setúbal até ir para a universidade. Licenciou-se em Artes e Humanidades na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Durante um semestre, no âmbito do programa Erasmus, esteve no Norte de Inglaterra a estudar Literatura inglesa, história e cultura. No regresso a Portugal, em 2019, inicia em Setúbal o seu percurso profissional, com o Teatro Estúdio Fontenova.

É durante esse período que decide apostar na sua formação em cinema e “não podia ficar em Portugal, por diversos motivos, especialmente monetários”. Rumou a Cardiff, capital do País de Gales, no Reino Unido, onde neste momento se encontra a terminar a licenciatura em Film, na University of South Wales.

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“Especializei-me, dentro da licenciatura, em cinematografia e em realização, apesar de praticar também argumento, escrita e produção nos meus projectos. Sempre estive envolvida em tantas coisas que não conseguia escolher apenas uma”, refere. “Nutro interesse por música, teatro, fotografia, escrita e houve um momento em que percebi que o cinema tem tudo isto, tudo o que gosto. Porque tenho de escolher só uma coisa? Não tenho”, afirma.

Sobre a experiência que tem vivido até ao presente, considera que “o mundo é diferente de Setúbal e Portugal e não é assim tão difícil sair e fazer outra coisa. Sempre soube que queria fazer isto, mas faltou-me este sair para perceber que realmente é possível”.

 

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Atenção a objectos que habitualmente ninguém estima valeram-lhe um prémio

“Para Reminiscência” foi o seu primeiro projecto, no segundo ano de licenciatura. “O primeiro ano foi estranho, o Covid surgiu e tivemos de parar. Quando regressei tínhamos de fazer um documentário, o trabalho do semestre, completamente à nossa escolha”, conta, adiantando que foi numa visita ao primeiro mercado de antiguidades de Cardiff que encontrou o tema que lhe havia de valer reconhecimento.

“Tenho um fascínio pelo passado e ao estar no local e falar com as pessoas, comecei a perguntar porque é que aquele espaço é um mercado. Porque é que as pessoas se importam com aquele espaço e aqueles objectos? As pessoas vão ao Ikea todos os dias, compram coisas, desfazem-se de outras, ninguém quer saber de nada. Porque é que estas pessoas protegem estes objectos?”, partilha a responsável pela pesquisa, pós-produção, edição e montagem do projecto. “Claro que uma distinção assim sabe sempre bem. É uma alegria, uma felicidade, senti-me orgulhosa”, confessa.

Seguiu-se “The Youth”, também escrito, realizado e produzido por Micaela Castanheira. Trata-se de uma curta-metragem, com cerca de 20 minutos, que se foca na forma como os jovens, nos dias de hoje, lidam como aspectos da vida como o luto, o amor e a amizade, entre outros, e com a qual se candidatará a mestrado na National Film and Television School.

Se entrar, irá para Londres daqui a dois anos. Se não, continuará em Cardiff, “onde neste momento está tudo a acontecer, Netflix, Amazon, Disney. É uma fonte de trabalho incrível”. Não está nos seus planos voltar a Portugal, “a menos que as coisas mudem radicalmente e passe a haver investimento na área da cultura. Não pretendo viver num país que não reconhece o talento, esforço e sacrifício das pessoas que têm que trabalhar nestas áreas”.

Setúbal, Lisboa e Portugal ficam, assim, para “matar a saudade, ir a casa e conectar-me com as raízes, mais do que qualquer outra coisa. Construir vida acredito que será cá fora”.

É, assim, a estes projectos que tem vindo a dedicar o seu tempo ultimamente. Trabalhar em cinema “é um sacrifício imenso, as pessoas não fazem ideia, mas no fim do dia, para mim, vale a pena. Tenho o produto final e sei que fiz o que tinha que fazer para que ficasse assim”.

Mantém, no entanto, o interesse pela música e representação, que, nas suas palavras, lhe “fazem falta”. Começou a tocar piano aos seis anos e fez o conservatório até ao oitavo grau em música clássica. “Cheguei até a pensar que a música era a minha vida e que seria instrumentista. Neste momento, era bom tentar arranjar projectos que juntem estas vertentes, sinto que é importantíssimo para mim manter estas ligações”, remata.

 

Micaela Castanheira à queima-roupa

Idade 25 anos

Naturalidade Setúbal

Residência Cardiff, Reino Unido

Área Realização

A “dar cartas” a nível internacional no cinema, não exclui a música e a interpretação no seu futuro

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