Depois de participar na Taça da Europa, Nazar Nynyk ficou de fora do Campeonato da Europa de cadetes

A poucos dias do arranque do Campeonato da Europa de cadetes de judo, que se realiza entre quinta-feira e domingo, em Odivelas, a prova está já envolta em polémica. O Vitória Futebol Clube contesta a exclusão a exclusão do jovem ucraniano Nazar Nynyk, refugiado de guerra que veio para Portugal com a família depois do início da guerra no seu país de nascimento (em Fevereiro de 2022), que tinha no final do passado mês de Maio participado na Taça da Europa, que se realizou em Coimbra.

Miguel Galhardas, coordenador e treinador do judo do emblema sadino, considera que os regulamentos estabelecidos pela Federação Internacional de Judo (FIJ) não foram respeitados. “Depois de um ano no país de acolhimento, a Federação Internacional criou a regra de que os atletas que estejam nesta situação, devidamente integrados, podem entrar em competição pelo país de acolhimento”, começa por frisar, lembrando que recorrendo a essa excepção o jovem já tinha estado ao serviço de Portugal na categoria de peso -55 kg.

“Cumprido esse período pedimos à Federação Portuguesa de Judo (FPJ) que fizesse esse pedido à Federação Internacional ainda a tempo de o atleta participar na Taça da Europa que se realizou em Coimbra no final do mês passado. Antes o Nazar Nynyk não podia competir a nível internacional e, a partir dessa prova, ficou em 9.º lugar numa categoria que tinha 49 atletas, tendo sido o melhor representante de Portugal”.

O responsável do judo vitoriano explicou que depois da Taça da Europa, o atleta de 17 anos também integrou estágios da Selecção. “Disseram-nos que o Nazar também tinha de participar nos estágios. Fê-lo e os selecionadores ficaram a conhecer a sua qualidade. No entanto, no último estágio de preparação para o Campeonato da Europa não foi convocado e questionámos porque não estava na lista, uma vez que tinha sido o melhor classificado na Taça da Europa”.

A explicação apanhou de surpresa a secção de judo vitoriana. “Disseram-nos que a convocatória tinha como base o campeonato nacional em que o Nazar não tinha entrado. Respondemos que se esse é um critério para ir ao Campeonato da Europa, não vale a pena integrar os estágios porque nunca terá esse requisito. Digam-nos, por isso, se vale a pena fazer um investimento para que o atleta vá a esse estágio para ser novamente observado e a equipa técnica decidir se o convoca, ou não, para o Campeonato da Europa”, questionaram.

O presidente da FPJ, Sérgio Pina, disse que a” decisão era da equipa técnica, que a participação no Campeonato nacional não seria requisito. Agora, na convocatória para o Campeonato da Europa o Nazar Nynyk não está presente e enviámos e-mail a questionar porque não está na selecção. Disseram-nos que tinha em conta os resultados no Nacional quando o presidente disse-nos que esse factor não era determinante”, disse Miguel Galhardas, acrescentando que “Portugal só pode inscrever 10 atletas, mas há três atletas que têm piores requisitos que Nazar Nynyk.

Judoca sente-se “injustiçado”

Questionado sobre a forma como Nazar Nynyk, jovem que vive em Setúbal com a família e está integrado na escola, está a viver esta situação, Miguel Galhardas foi peremptório. “Sente-se injustiçado porque lhe diziam que era possível estar nestas provas. Esteve a treinar e agora, tal como nós, não percebe por que razão foi colocado de parte na Selecção. Acima de tudo, o atleta gostava de retribuir e representar Portugal por o ter acolhido tão bem e agora constata que, por outras razões, não pode fazer esse agradecimento”.

João Martinho, treinador do Vitória que acompanha os judocas na Selecção, também não escondeu a sua perplexidade pelo caso de Nazar Nynyk, alertando para a situação numa publicação na sua página do Facebook. “Esta situação, para com um atleta do judo do Vitória Futebol Clube, Nazar Nynyk, de origem ucraniana, actualmente representante da selecção portuguesa, é bastante injusta. Injustiça esta que o clube procurou, sem ter que recorrer a qualquer outro meio, resolver com a Federação, mas não se obteve qualquer resposta (até porque não há possibilidade de resposta, quando são quebrados critérios e regulamentos pré definidos)”, considera.

E continua: “Em vez de procurar responder ao assunto, a Federação ainda levou como um ataque pessoal esta busca de respostas, e por esta e muitas outras razões, queremos, e achamos, que temos o dever de dar a conhecer o caso a todos os interessados, sendo que, dentro do meio do judo, até vários treinadores de outros clubes me vieram perguntar porque o atleta em questão não está convocado. Pude apenas responder que, tal como todos, não sei o motivo, e que houve relutância em explicar-me”.