Caso salários em atraso persistam, plantel tomará as medidas que se revelem necessárias
Sem receberem qualquer vencimento desde o início da época, os jogadores e equipa técnica do Vitória Futebol Clube reuniram ontem de manhã, no Estádio do Bonfim, com o Sindicato dos Jogadores (SJ) de futebol. Apesar das dificuldades e da incerteza quanto à data em que os salários vão ser regularizados, o plantel, depois de ter feito greve aos treinos no final da semana passada, compromete-se a treinar nos próximos dias e a jogar na segunda-feira com o Pinhalnovense, em partida da 6.ª jornada da série H do Campeonato de Portugal.
“Ficou decidido, após esta reunião: 1. Assegurar o plano de treinos da presente semana; 2. Realizar o jogo da próxima segunda-feira [no Bonfim frente aos vizinhos do Pinhalnovense]; 3. Aguardar uma resposta concreta do presidente da Direcção relativamente ao cumprimento das obrigações salariais, até final da presente semana”, afirmam no comunicado, deixando um aviso: “Mantendo-se inalterada a situação actual e não havendo qualquer sinal de que venha a ser resolvida, os jogadores voltarão a reunir com o Sindicato na próxima terça-feira (10 de Novembro), para tomar as medidas que se revelem necessárias”.
O Sindicato dos Jogadores confirma no documento a que O Setubalense teve acesso que após reunir com os capitães de equipa, demais plantel e equipa técnica foi activado o Fundo de Garantia Salarial para fazer face às necessidades mais prementes. “Não tendo havido até à data qualquer novidade sobre a regularização salarial prometida e perante esta situação limite, os jogadores, com três meses de salários em atraso, viram-se obrigados a recorrer ao Fundo de Garantia Salarial para fazer face às necessidades mais urgentes”.
Na nota emitida em que é referido que a situação se agravou depois de o clube ser relegado da I Liga ao Campeonato de Portugal é enaltecido o papel desempenhado pelos atletas, em especial pelos seus capitães (Mano, Nuno Pinto, José Semedo e Zequinha).
“Como é do conhecimento público, após a descida de divisão, o clube tem vivido uma situação de incerteza e estrangulamento financeiro, cujo impacto tem sido minimizado pela dedicação e o profissionalismo dos jogadores e funcionários. Em particular, os capitães de equipa que transitaram da época passada e têm sido o elemento agregador do grupo de trabalho neste período de grande dificuldade”.
A entrada da direcção liderada por Paulo Rodrigues, que venceu as eleições realizadas a 18 de Outubro, é referida como tendo sido um momento de esperança na resolução da situação que se arrasta. “Apesar de não receberem desde o início da época, os jogadores sempre acreditaram que a partir do momento em que a direcção eleita tomasse posse, seria resolvido este problema. Mais convencidos ficaram a partir do momento em que o presidente da direcção eleito deu essa garantia”.
Numa clara alusão aos incidentes do dia anterior em que Paulo Rodrigues acusou no balneário os jogadores mais velhos de instigarem à greve, o Sindicato dos Jogadores finaliza o comunicador, condenando qualquer tentativa de colocar em causa a dignidade dos profissionais do clube. “O Sindicato releva a atitude dos jogadores que, apesar das dificuldades, estiveram até ao último momento à espera de uma solução. Condena, por isso, todas as tentativas de pôr em causa a sua dignidade e compromisso, garantindo que no que depender destes profissionais tudo será feito para honrar o Vitória”.
Recolha de assinaturas para destituir direcção
Entretanto, um grupo de sócios vitorianos está desde segunda-feira a recolher assinaturas com o objectivo de destituir a direcção presidida por Paulo Rodrigues. O requerimento para a realização de uma Assembleia-Geral (AG) Extraordinária de carácter deliberativo será, depois de recolhidas as 100 assinaturas necessárias, enviado ao líder da mesa da AG, Nuno Guerreiro Soares, que irá posteriormente decidir sobre o único ponto da ordem de trabalhos.
“Os sócios signatários deste requerimento solicitam ao Exmo. Sr. Presidente da Mesa da Assembleia-Geral do Vitória FC, que se digne a realizar, com caráter de urgência e em observância do contexto da pandemia covid-19, uma Assembleia-Geral de caráter deliberativo e com a seguinte ordem de trabalhos: destituição da direcção do Vitória FC”, lê-se no documento.
No requerimento que circula na cidade, o presidente Paulo Rodrigues é acusado de não cumprir as promessas que fez durante a campanha, nomeadamente regularizar os salários dos funcionários do clube, contribuindo para “o agravamento das condições sociais dos funcionários e das suas famílias”. “Desrespeita a maioria relativa de associados que lhe confiaram o seu voto, ao governar o clube à revelia do programa de mandato proposto a votação sob o lema ‘Verdade, Trabalho e Futuro’, porquanto não se vislumbra evidências de o mesmo estar a ser cumprido. Evidenciaram nos seus atos e conduta não estarem à altura de devolver o clube a uma posição consentânea com os seus quase 110 anos de história ao serviço de Setúbal e do país”.