Jogador de 46 anos deseja ser lembrado como “um exemplo de dedicação”
Aos 46 anos de idade, o setubalense Nuno Tavares, que em Junho ajudou o Vitória a conquistar o 3.º lugar no “North American Sand Soccer Championships 2021”, maior torneio norte-americano de futebol de praia, que decorreu em Virginia Beach (Estados Unidos da América), decidiu adiar a despedida dos areais. A decisão foi revelada pelo ex-internacional português em entrevista ao jornal O SETUBALENSE a quem confessou a forma como gostaria de encerrar a carreira. “Gostava de deixar de jogar com algo positivo, se possível com um título. Tenho um desejo muito grande que é que um dia, quando deixar de jogar, a minha filha esteja na bancada a ver o pai e se sinta orgulhosa”.
No início de 2021 tinha anunciado que este ano iria colocar um ponto final na sua carreira de jogador de futebol de praia. Quais as razões que o levaram a recuar na sua decisão?
A verdade é que me preparei como sempre para deixar a competição nos areais mundiais da modalidade de uma forma digna. Foram meses de preparação e horas a treinar sozinho, com muitos sacrifícios e dedicação para me preparar da melhor forma para me apresentar bem fisicamente. Consegui fazê-lo. Treinei muito e cheguei a perder oito quilos. Apesar da idade que tenho, a verdade é que ainda me sinto muito bem para continuar a jogar. Sinto-me motivado para continuar a jogar ao mais alto nível e não me irei arrastar. Muitos jogadores mais novos dizem-me que sou um exemplo de dedicação para todos e é por isso que quero ser lembrado um dia.
Já começou a sua preparação para 2022? Se sim, onde faz a sua preparação?
Sim, já iniciei a minha preparação para 2022, após um período de descanso e reflexão. Quanto à minha preparação, a pandemia fez com que mudasse alguns hábitos de treino, montei um ginásio em casa, onde faço trabalho de manutenção com pesos e fitness no Inverno, ando de bicicleta e jogo futebol com os amigos para manter a forma. Sempre que se avizinha qualquer competição de futebol praia, faço treinos intercalados entre a praia e o ginásio.
Após duas décadas dedicadas ao futebol de praia, já recebeu convites para ser treinador principal?
Sim. Recentemente houve vários contactos por parte de clubes da Divisão de Elite e do Campeonato Nacional para ser treinador, mas cheguei à conclusão de que ainda é cedo e deixei essas portas abertas para o futuro.
Como setubalense, antigo atleta e adepto do clube, o seu futuro pode passar por voltar ao seu Vitória?
Desde que as condições estejam reunidas a nível estrutural e logístico, estarei sempre disponível para ajudar o clube. Fui campeão nacional por duas vezes (2008 e 2010) no clube e foi no Vitória FC que me destaquei para chegar a Seleção Nacional. Sou eternamente grato ao clube.
“Fico muito feliz pelo legado que deixei no Vitória”
Olhando para trás, depois de 20 anos a envergar o símbolo do clube na modalidade, pensa que merecia ter tido outro tipo de despedida por parte do Vitória?
Quem me conhece e acompanhou o futebol de praia no Vitória FC ao longo destes anos sabe bem o quanto me dediquei e os sacrifícios que fiz em prol do clube e da modalidade. Fi-lo de coração.
As pessoas que gerem e comandam o clube poderão responder melhor a essa questão. Tenho a consciência tranquila porque dei sempre o meu melhor para representar e dignificar o meu clube e a cidade de Setúbal durante esses 20 anos que estive ligado ao futebol praia. Para mim, isso é o mais importante. Consegui levar o clube a um torneio internacional de grande prestígio [“North American Sand Soccer Championships 2021”] e conseguimos um lugar no pódio (3.º lugar). Fico muito feliz pelo legado deixado e gostava muito que o Vitória FC voltasse ao panorama nacional, pois tem um historial enorme e títulos conquistados.
Pensa que o regresso da modalidade ao clube é uma possibilidade?
Não faço a mínima ideia, mas tomara que seja verdade e que apareçam outras pessoas com conhecimento e experiência para ajudarem no crescimento da modalidade no clube e as condições estejam finalmente reunidas para que isso aconteça, principalmente com um campo dentro da cidade.
Quais os novos desafios que vai ter em 2022?
Dia 3 de Janeiro estarei de partida novamente para os Estados Unidos, para jogar em mais um torneio internacional. Será com muita honra que irei representar o Toronto Beach Soccer Club (Canadá) no torneio NBSL, que vai decorrer em Miami nos dias 7 e 8 de Janeiro. Também já houve alguns contactos para voltar a jogar na Serie A, em Itália, no próximo ano. É algo que me deixa muito feliz e motivado pois é um campeonato muito exigente e competitivo que está no top 3 do mundo. Tenho alguns convites para jogar em torneios internacionais pré-agendados e irei continuar a jogar em Portugal.
Como surgiu o convite para representar uma equipa canadiana?
Já tinha sido observado e abordado por várias vezes noutros torneios internacionais por parte dos responsáveis do clube que demonstraram interesse na minha contratação. Agora surgiu a oportunidade e fico muito grato pelo convite para poder representar o clube de um país onde vivi durante 10 anos e tenho uma forte ligação.
Até quando pensa continua a jogar?
Realmente, não sei. Até o bichinho deixar (risos). Mas gostava de deixar de jogar com algo positivo, se possível com um título. Irei ponderar com a minha família. Tenho um desejo muito grande que é que um dia, quando deixar de jogar, a minha filha esteja na bancada a ver o pai e se sinta orgulhosa. A camisola do meu último jogo será para ela. Algo que ainda não foi possível por causa da pandemia.