Sandro Mendes: “Futuro do Vitória? Optaria por deixar cair a SAD e salvaria o clube”

Sandro Mendes: “Futuro do Vitória? Optaria por deixar cair a SAD e salvaria o clube”

Sandro Mendes: “Futuro do Vitória? Optaria por deixar cair a SAD e salvaria o clube”

Depois de o Vitória ter alcançado a subida à Liga 3 dentro do campo, o que sentiu, enquanto setubalense, ex-capitão de equipa e vitoriano, ao ver o clube ser impedido de participar nas provas nacionais?

Nem consigo descrever o que sinto. É uma enorme tristeza, mas ainda é mais profundo do que isso. Tenho 47 anos, nasci no Hospital de São Bernardo, fui criado até aos oito anos no Pinhal Novo e passei mais de metade da minha vida ligado e dentro do clube. Ver neste momento como está o Vitória FC é frustrante, triste e um sentimento que não consigo explicar bem. É complicado. O Vitória tem vivido os últimos anos a empurrar com a barriga, a acumular problemas atrás de problemas e, agora, bateu no fundo. Nem sei como explicar o que sinto…

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Como votaria numa Assembleia Geral (AG) em que pudesse escolher o passo seguinte a dar, qual seria a proposta que gostaria de ver aprovada: começar do zero, deixar cair a SAD e salvar o clube…

Como sócio que sou, estive na última Assembleia. Ouvi muita coisa e, ao mesmo tempo, não ouvi nada. Tentou-se explicar algumas coisas: plano A, plano B, mas saí de lá com a ideia de que as soluções são muito poucas e, infelizmente, isso veio a comprovar-se. Há quatro anos descemos da I Liga ao terceiro escalão. Pior do que isso, em 2023 descemos da Liga 3 à 4.ª divisão (Campeonato de Portugal) e agora, que pensávamos que íamos regressar à Liga 3, caímos, pelo que vou ouvindo, caímos na 2.ª divisão distrital. Há ainda o Inatel, mas cair desta forma era algo impensável.

E o que decidiria?

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Respondendo à questão, eu votaria em acabar com a SAD. Mesmo falando contra mim porque sou credor da SAD, tal como o sou do clube. No entanto, se é para estar constantemente a viver nesta situação, optaria por deixar cair a SAD e salvaria o clube. Diz-se que do passado vivem os museus, mas somos a nossa história, apesar de não podermos viver no passado. São 113 anos de história de um dos maiores clubes portugueses que foi erguido com o sacrifício de muita gente. Para mim, como sócio, não é solução o Vitória perder a história e juntar-se com a SAD do Canelas, como já se fala nas redes sociais. Preferia começar numa 2.ª divisão distrital. Começar do zero, que na realidade não o seria porque o Vitória iria manter, pelo que ouvi na AG, oito milhões de euros de dívida do PER ao Estado que teríamos de assumir. Haveria um perdão de dívida de 90% dos restantes credores e passaríamos, salvo erro de 24 para oito milhões de euros. Resumindo: começava na 2.ª divisão distrital com oito milhões de euros de dívida. Tudo isto, não perdendo a nossa história e identidade.

Identidade essa que foi falando aos longo dos anos que era crucial preservar…

Sim, ao longo dos anos fui crítico dessa situação. De ano para ano, o Vitória foi perdendo identidade. Olhávamos para a estrutura do clube e não via ninguém com que me identificasse, tirando o senhor Fernando Tomé que é uma instituição dentro da instituição. Olhava para os outros lados e não me identificava com ninguém.

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Depois do que aconteceu em 2020 (queda da I Liga ao 3.º escalão) e agora, há quem defenda que o Vitória é um alvo abater. Havendo vários clubes em situações de incumprimento, alinha nessa teoria?

Não vou por aí. Não alinho no papel do ‘coitadinho’ e de que os outros é que são culpados. Quem esteve no Vitória sabe o que fez e não fez. Quem estava à frente das direcções do clube tem muita culpa de o Vitória estar na posição em que se encontra.

Consegue apontar os responsáveis pelo estado a que se chegou?

São muitos. Enquanto sócio também sou responsável por ter permitido que o clube chegasse à situação actual. Quando havia eleições, fizemos as nossas opções, quando havia Assembleias Gerais a maior parte dos associados não comparecia.

Concorda que essa dose de responsabilidade é mínima quando comparada com quem geria o clube e a SAD?

Sim, mas cada um tem a sua responsabilidade. Para mim, é evidente que a responsabilidade maior de termos ficado nesta situação é de quem permitiu que que o clube caísse da I Liga ao terceiro escalão. O presidente era Paulo Gomes e não há como escamotear esse facto. É verdade que o Vitória já tinha problemas anteriores, mas, antes de concorrer, estava numa direcção que fez cair, concorrendo à presidência. Antes de o fazer sabia os problemas que o clube tinha, por isso alegar desconhecimento não é desculpa. Não arranjou soluções e, por isso, é um dos culpados. Claro que antes desse, houve muitos. Estamos sempre a atirar a culpa para os outros, dizendo que a culpa é da Liga, é do Pedro Proença e, agora, é da Federação Portuguesa de Futebol. Não! Se tivéssemos cumprido com as nossas obrigações, com certeza, não estaríamos nesta situação.

Não procurando desresponsabilizar as gestões que foram feitas ao longo dos anos, se o Vitória tivesse uma força diferente nas instituições que regem o futebol, semelhante à de outros clubes, como o Portimonense [clube que em 2020 beneficiou directamente da queda do Vitória], por exemplo, as coisas poderiam ser diferentes?

O Vitória há muitos anos que tinha problemas em inscrever a equipa, mas as direcções que lá estavam na altura – Fernando Oliveira, Vítor Hugo Valente – sempre o conseguiram fazer. Muitas vezes de uma forma menos conseguida, mas fizeram-no. A direcção de Paulo Gomes não conseguiu. Desportivamente, a equipa técnica, os jogadores e o ‘staff’ técnico que estavam no plantel cumpriram com a sua obrigação, mantendo o clube na I Liga. Administrativamente não aconteceu o mesmo por culpa da direcção. Quando se se candidata a alguma coisa ou estamos disponíveis para assumir um cargo tem de haver competência e conhecimentos. É verdade que há clubes que têm outra força, mas é igualmente verdade que o Vitória teve essa força em anos anteriores porque conseguiu ao longo de anos, em que tinha essa dificuldade, inscrever a equipa. O Vitória foi perdendo crédito com as escolhas que foram sendo feitas por que está a gerir o clube. Este ano o clube voltou a cumprir desportivamente, subindo à Liga 3 e a verdade é que caímos aos distritais.

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