Capitaneou o Vitória nas conquistas da Taça de Portugal (2005) e Taça da Liga (2008). Se o Vitória o contactasse para treinar a equipa principal nos distritais, qual seria a sua resposta?
A minha história com o Vitória é muito longa. Começou aos 11 anos e saí aos 19 para ir para Espanha, proporcionando 1,2 milhões de dólares ao clube. Voltei para jogar na 2.ª divisão e volto a subir de divisão, ajudei a conquistar a Taça de Portugal, a Taça da Liga e a regressar com o Vitória às competições europeias. Após terminar a carreira em 2012, na Naval 1.º de Maio, voltei ao Vitória como coordenador da Formação em 2012/13 e 2013/14, época em que também fui treinador dos sub-15 sem usufruir de vencimento. Há muitos setubalenses e vitorianos que agora, com as redes sociais, dizem ser mais vitorianos do que outros. Não sei o que lhes dá o direito de se intitularem mais que os outros. A verdade é que sempre estive disponível para ajudar o Vitória, muitas das vezes sem usufruir de remuneração. Sempre que me contactaram procurei ajudar, inclusivamente na época passada em que fui contactado pela direcção, director desportivo e director técnico. Estava disponível para ajudar o clube. Essa minha disponibilidade mantém-se. Infelizmente, neste momento não estou a treinar ninguém e estou sempre 100% disposto para ajudar o Vitória desde que seja para algo que tenha capacidade de o fazer. Sou setubalense e vitoriano e estou sempre disponível para ajudar o clube.
Quer dizer que se o desafio lhe for lançado aceita treinar na 2.ª divisão distrital?
Sim. Penso que o Vitória, começando do zero, com pessoas competentes que consigam estruturar o clube dentro de três, quatro, cinco ou dez anos, sendo um clube com espaços físicos será autossustentável. É um processo demorado e longo que precisa de pessoas com capacidade. Se me apresentarem um projecto que sinta que tem capacidade para andar, estou sempre disponível para treinar o Vitória na I Liga, como já o fiz, ou na 2.ª divisão distrital.
Com a queda do clube na 2.ª divisão distrital regista-se uma debandada dos jogadores. Está o Vitória preparado para se adaptar a uma realidade que não esperava até há pouco tempo?
Será difícil. É normal que os jogadores tenham aspirações em tornar-se profissionais e, nesse aspecto, ninguém poderá criticá-los por procurarem o melhor para as suas vidas. Recordo que o Vitória já teve duas equipas na 2.ª divisão distrital, uma delas pertencia ao clube, e subiu à 1.ª divisão. Acabaram com essa equipa e depois fizeram uma equipa B, da SAD, na 2.ª distrital que voltou a subir. Para a 2.ª distrital, creio que o Vitória está mais do que preparado.
A prata da casa será suficiente?
Penso que sim. Os sub-19, mesmo descendo de divisão, como aconteceu, tem de ter alguma qualidade para jogar numa 2.ª distrital. Indo buscar um ou outro jogador esse não será o problema maior. O maior desafio é fazer uma equipa para dois/três anos. Não se pode fazer uma equipa para a 2.ª distrital, depois uma para a 1.ª e outra para o Campeonato de Portugal. Tem de ser uma equipa pensada, com uma base forte que consiga manter durante três anos. No meu entendimento, se começar de baixo esse deveria ser o projecto.
Olhando para trás, o que guarda de melhor dos anos em que vestiu a camisola do Vitória?
Felizmente, tenho muitas boas recordações. Tenho um campeonato de juniores que perdi na secretaria, a primeira vez em que fui chamado por Quinito – uma pessoa fantástica que pelo conhecimento que tem poderia ajudar muito o Vitória – para integrar a equipa principal, a conquista da Taça de Portugal, da Taça da Liga, jogar na Liga Europa pelo Vitória… São tantas coisas que é difícil escolher uma, mas, se tiver de o fazer, escolho a conquista da Taça de Portugal.
O dia 29 de Maio de 2005 foi inesquecível…
Sem dúvida. Às vezes, vou ver imagens da altura. Não vejo o jogo todo, mas vejo um bocadinho e ainda me arrepio.
O treinador era o montijense José Rachão. O que vos disse ao intervalo?
Disse-nos palavras de incentivo e pediu-nos que mantivéssemos a mesma atitude. Ganhámos e merecemos. Fomos superiores ao Benfica até ao minuto 70. A partir daí, carregaram mais e limitámo-nos a defender. Essa tarde no Jamor foi um momento único.